Último Capítulo

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Como fiz meses atrás, guardo o cartão na bolsa, e mais uma vez, afirmo sem nenhum medo de errar que ele ficará perdido ali para sempre. A vida de modelo não me seduz. Embora tenha saído do Sandoval, minha paixão continua sendo a enfermagem, e a certeza da imutabilidade disso, é a única que ainda tenho.
Amo a profissão, sonho em exercê-la desde a adolescência e foi muito difícil ter de pedir demissão do hospital, só que serira impossível continuar lá, se fizesse isso, estaria me colocando a mercê de uma tentação forte e constante demais para uma reles mortal.

Lúcio.

Não existe no mundo nada que me inquiete mais do que ele, por isso tomei a decisão de deixar o Sandoval.

Tive de lidar com os protestos de Laura, mas ela acabou aceitando que seria melhor para mim sair, até porque, reconhece sua parcela de culpa sobre minha decisão.

Não consigo perdoá-la totalmente pelo que fez, sei que o maior responsável por toda situação é o Lúcio, mas, acho que metade do trauma poderia ter sido evitado se eu tivesse descoberto a verdade de outra maneira.

Admito, insisti para saber a verdade, mas só fiz isso porque a semente da dúvida havia sido plantada atrás da minha orelha.
A demora de mamãe me preocupa. Ela foi ao banheiro 20 minutos atrás e ainda não voltou.

Levanto da cadeira e vou atrás de notícias.

Encontro dona Teresa parada em frente ao imenso espelho pendurado sobre a coleção de 3 pias escuras. Está com as mãos apoiadas no mármore preto e os olhos fixos no reflexo projetado a sua frente.

— Mãe, você está bem? — Pergunto, assim que entro no banheiro.
Quando seus olhos me fitam através do espelho, ela solta o que estava segurando, e vira num ato abrupto.

— Esmeralda! — Meu nome é proferido por uma Teresa ofegante. — O que está fazendo aqui? — Sobrepondo-se a meus ombros, seus olhos buscam algo.  — Cadê ele?

— Ele quem? — Pergunto, abismada.

Transtornada e sem me responder, sai do banheiro, faz isso mais que rápido que um raio e com os olhos assustadoramente estatelados.

Sem entender nada, sigo-a até o lado de fora da lanchonete.

— O que está acontecendo, mãe? — Questiono, agarrando seu braço com muito mais força do que gostaria.

— Lúcio deveria está aqui... Quer dizer... — Engole com aparente dificuldade. — Ele disse que estava.

Ouvir o nome dele em voz alta depois de tanto tempo, causa um aperto sufocante no meu coração.

— Ele não está aqui, mãe.

— Não estou entendendo.

Ela explica que aceitou participar de uma tramóia planejada por Lúcio para me encontrar, também diz que teoricamente deveríamos está conversando essa hora.

— Nem o vi. Talvez tenha desistido. — Não consigo esconder o descontentamento ao cogitar a possibilidade de Lúcio ter ido embora sem ter tentado falar comigo.

— Ele me disse que estava aqui. Por isso fui ao banheiro, para que vocês pudessem conversar sem interrupções.
O momento que mamãe foi ao banheiro coincidiu com a chegada de Sérgio.

O homem sentou em minha mesa, conversamos bastante e até encenei algumas risadas.

Não consigo nem imaginar a reação que Lúcio possa ter tido se tiver nos visto juntos, mas tenho certeza de uma coisa... Não foi uma positiva.

Ele é ciumento, muito ciumento.
Nunca o vi socar a cara de ninguém, e desde o nosso primeiro esbarro não voltou a levantar a mão para mim. No entanto, seu rosto explanou aborrecimento em várias ocasiões que estive sobre a mira de olhares masculinos. Sim, Lúcio sente ciúmes, mas é um homem racional e controlado, não faria nada que colocasse os outros em risco, nem que se colocasse. Numa árdua luta contra a loucura, tento me apegar a isso, só que não consigo.
Meus pensamentos não param e atormentam tanto quanto o próprio diabo.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora