Capítulo XLIII

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C

aminho até a janela do meu quarto e abro a cortina, me surpreendo ao vê que a lua ainda está no céu, embora ofuscada pelo sol. Não sei quanto tempo estou acordado, mas passei boas horas admirando Esmeralda antes de sair da cama, então, suponho que terei um dia mais longo do quê de costume, e pretendo passá-lo ao lado dela, isso claro, se ainda não tiver seus próprios planos. Cogito a possibilidade de levá-la até a região de fazendas onde durante minha infância, meus pais, eu e Álvaro costumávamos passar os fins de semana, há uma belíssima reserva natural por àquelas bandas, onde se esconde uma das cachoeiras mais impressionantes que já vi na vida. O dia promete trazer todas as características de uma típica primavera e a idéia de passá-lo rodeados pela natureza é quase tão atraente quanto a própria Esmeralda, porém, um fato nebuloso leva embora o sol que planejava ter sobre nossas cabeças. Esmeralda tem problemas cardíacos e é transplantada, uma trilha direta até a cachoeira poderia trazer-lhe complicações e acarretaria num cansaço desnecessário. Por outro lado, sei que adoraria conhecer um lugar tão bonito e que tanto pra mim, então, me imponho o objetivo de encontrar uma maneira de levá-la até lá sem submetê-la a nenhum risco, mas farei isso mais tarde, por hora, tenho uma urgência maior a resolver.

- Você ficou maluco, Lúcio? São 6:30 da manhã! - Um Álvaro estressado atende a chamada no terceiro toque.

- Conheço-o o suficiente pra saber que ainda nem dormiu. - Afirmo.

- Estava indo fazer isso agora. - Posso vizualizá-lo revirando os olhos. - O quê cê quer?

- Não tive coragem de contar sobre o transplante a Esmeralda. - Esmeralda se agita na cama, olho desesperado para traz e solto um suspiro de alívio ao perceber que ela permanece imersa num sono profundo. - Preciso de um conselho, Álvaro.

- Conte a ela, Lúcio, e faça isso o mais rápido possível. Esse é meu conselho, e pode ter certeza... É o conselho mais acertado que vai ouvir sobre o assunto.

- Não sei como fazer isso, Álvaro. - Um novo movimento sobre o colchão me faz abaixar o tom de voz. - Tentei ontem, mas não tive coragem. Tem alguma sugestão?

A risada irônica de Álvaro reverbera através do telefone.

- Você me conhece, Lúcio. Quando se trata de agradar mulheres sempre tenho sugestões e as melhores do mercado.

O ego de Álvaro é ao menos 10 km mais alto que o monte Everest.
- E o que você sugere?- Pergunto, sem tempo nem paciência para ouvir meu primo discorrer sobre suas experiências bem sucedidas.

- Bem, mulheres gostam de flores, chocolate, jóias e de ocupar a maior parte do tempo dos homens. Dê a Esmeralda estes quatro itens e terá meio caminho andado.

- Eu acho que jóias não facilitarão as coisas com,Esmeralda quando souber a respeito do transplante, Álvaro. Ela é muito diferente das mulheres com as quais costumamos sair. Além disso, eu já tinha a intenção de lhe dá um conjunto de diamantes.

- Ótimo, primo. - Álvaro boceja. - Aproveite e me compre um diamante também, estou mesmo precisando de um novo brinco e não quero gastar meu dinheiro.

- Você é um idiota, Álvaro.

- Não esqueça que sou alérgico a jóias inferiores a 18 quilates. Depois me conte como foi com Esmeralda. Tchau.

O ruído que sinaliza o fim da chamada soa tímido no meu ouvido. Álvaro é a pessoa mais prática que conheço, embora esteja sempre metido em confusões com mulheres, nunca conheci alguém tão bom em lidar com problemas amorosos quanto ele, talvez por nunca ter se apaixonado na vida.

A deusa emaranhada em meus lençois não parece disposta a acordar pelo menos na próxima hora, decido aproveitar esse tempo (demasiadamente longo) da melhor maneira possível. Visto uma camisa qualquer e saio do quarto, mas não antes de dá uma boa olhada em Esmeralda e beijar-lhe o topo da cabeça.
Não fico feliz com o que encontro na geladeira. Iorgute natural, leite, queijo branco, refrigerante e um pote de frutas secas é só que vejo nas inúmeras prateleiras do refrigerador. Tenho certeza que ficar aqui, encarando os ítens da minha geladeira não os transformarão em potenciais ingredientes de um bom café da manhã.

Interfono a portaria e peço para que alguém me traga algumas coisas de padaria, recebo uma resposta positiva, agradeço e devolvo o interfone ao gancho. Tenho algumas pendências a resolver antes de acordar Esmeralda.

Ainda é muito cedo, e conhecendo o funcionamento da casa dos meus pais, acredito que nem mesmo os funcionários estejam acordados, mas ligo para eles mesmo assim e deixo uma mensagem na secretária eletrônica, onde pergunto sobre Noah e peço para que fiquem com ele até o fim do dia.

Os pães estão tão quentes que tirá-los do embrulho de papel exige certo sacrifício, mas o faço sem esperar que esfriem. Apanho uma bandeija e disponho sobre ela o café da manhã e a rosa vermelha que catei do arranjo da sala. O aparência da bandeija é um presente para os olhos. Pães, queijo, peito de peru, frutas, café, chá e bolo, compõe um cardápio variado e delicioso, porém, se houvesse espaço disponível, certamente o preencheria com mais uma duzia de opções.

Esmeralda acordou no momento exato que o relógio da minha cabeceira marcou 07:45. Quando depararam com a bandeija, seus olhos brilharam mais do que os raios de sol que preenchiam o quarto. Ela me beijou afoita, e agradeceu pela surpresa da mesma forma que Noah me agradece quando o presenteio com o brinquedo desejado. Esmeralda também é uma criança, tem a pureza e a inocência de uma, mas ao mesmo tempo, é a mulher mais sabia, generosa, inteligente e sexy que já conheci. Cada vez mais tenho certeza que morreria e mataria por Esmeralda, farei tudo que estiver ao meu alcance para que seja completamente feliz.

Enquanto tomávamos café, ignoramos totalmente a existência do relógio e até mesmo do tempo em geral. Esticamos e aproveitamos aquele momento ao máximo, como se ele fosse o único de nossas vidas, como se nossas vidas fossem as únicas no mundo. Depois de saciar a fome, também aplacamos o desejo que nos consumia e nos amamos profundamente.

Agora estamos imersos na espuma quente a aromática da banheira. A cabeça de Esmeralda está apoiada em meu peito, e aproveito a posição e o fato de estarmos sem roupa para memorizar com o toque cada centímetro de sua pele.

- Você sabe ser um grosseirão profissional, tanto que quis matá-lo quando o conheci, mas como gentlemen, consegue ser ainda melhor. - Afirma, depois, leva uma de minhas mãos aos seus lábios e a beija suavemente.

Odeio lembrar daquela época, é uma martírio pra mim pensar em como cruel fui com Esmeralda. Ela não merecia ouvir nenhuma das palavras que saíram dos meus lábios durante nossas ácidas conversas iniciais. Fui um idiota, um homem que definia perfeitamente o termo "escrotidão".

- Não imagina o quanto me arrependo por tê-la tratado tão mal no passado. - Abraço-a com mais força, pressiono meus lábios contra o pescoço cheiroso e macio. - Você sempre transbordou amor e merecia recebê-lo de volta.

- Foi um tempo complicado, cheio de trovões e pancadas de chuva, mas você tem compensado em 1 segundo cada minuto daquele sofrimento. É tão carinhoso comigo, Lúcio, você me trata melhor do que o príncipe encantado que eu idealizava na minha cabeça.

Não oponho-me a afirmação de Esmeralda. Realmente tenho mostrado a ela minha melhor versão, o lado bom da minha alma que durante muitos anos manteve-se oculto sob o breu do sofrimento. Tudo o que tenho não seria suficiente para suprir nem 1% da minha enorme dívida com Esmeralda, ela me ajudou a encontrar meu verdadeiro eu, e isso não tem preço.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora