Capítulo XXXIV- Fruto Proibido

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Eu não deveria ter aceito o convite, sei muito bem o que me espera se der a ele a chance de se aproximar de mim. Vejo Lúcio Sandoval como um lendário polvo, que circunda as presas com seus tentáculos até que morram asfixiadas ou se anulem completamente diante dele. Talvez essa seja uma metáfora descabida e por demasiado cruel, mas é assim que me sinto, meu chefe é intimidador e faz com que eu encare todos os dias aquilo que mais desprezo em mim mesma, a vulnerabilidade na qual sua presença me lança. Mesmo com todas essas informações e certezas na mão, não fui capaz de me defender do letal abraço de polvo, pois estou irremediavelmente apaixonada pelo demônio de olhos azuis.

Não sei quantas vezes cogitei cancelar o encontro, e mudei de idéia ao lembrar que seria a primeira oportunidade de ficar totalmente a sós com o dono dos meus desejos. Eu sempre quis ter a chance de está num ambiente neutro com Lúcio, um lugar que não remeta a lembrança de Aurora, para assim descobrir se o que a traz sempre a tona são as marcas deixadas por ela nos lugares onde esteve, ou se a ex esposa de Lúcio ainda vive na cabeça dele. Só Deus sabe o quanto quero acreditar na possibilidade do meu chefe enxergar em mim alguém exclusivo, e não uma nova versão daquilo que já foi levado pelo vento.

Gosto da Esmeralda que vejo refletida no espelho. Ao menos visualmente pareço uma mulher que sabe o que quer, alguém totalmente seguro de sua sensualidade. A sombra escura que passei sobre os olhos quebrou um pouco da aparência obstinadamente frágil que sempre fez com que as pessoas me subestimassem, não tive tempo de arrumar o cabelo, então o prendi num coque alto tomando cuidado para que nem um fio escapasse do penteado, como não sei para onde Lúcio me levará, optei por um traje meio termo, colocando uma saia de couro marrom e blusa preta.

Ainda estou calçando as sandálias quando ouço o delicado barulho do carro de Lúcio estacionando, coloco os brincos bem a tempo de ouvi-lo buzinar. Sinto o coração acelerar pela chegada do momento tão esperado, mal consigo acreditar que finalmente terei um encontro com ele, um encontro de verdade, livre dos fantasmas que nos assombram todos os dias.

Troco a ração e água de Luna,  dou-lhe um beijo e atravesso a porta que me separa de Lúcio. No momento que entro no carro, sou invadida pela maravilhosa essência do seu dono.

— Não esperava que chegasse tão cedo. — Informo, depois de retribuir seu desejo de boa noite.

— Na verdade eu não queria que tivesse mais tempo para pensar.

— Por que não?

— Porque algo me diz que o risco de você mudar de idéia seria enorme.

Opto por não fazê-lo saber do quão certo está, isso geraria um pequeno contragosto nesta noite, e estragaria previamente as chances dela ser perfeita, desejo manter a esperança acesa ao menos até Lúcio resolver tocar no nome da falecida.

— Como está o Noah?

— Tá ótimo... — Ele desvia o olhar da direção por um instante e sorrir para mim. — Morrendo de saudades sua, precisa ver o quanto está encantado por você.

A declaração de Lúcio me faz vibrar de alegria,é muito bom saber que este sentimento tão forte que nutro pelo garoto é retribuído com igual fervor.

— E eu por ele, desde o primeiro dia. Seu filho é uma criança adorável.

— Sem intenção nenhuma de parecer pretensioso, tenho que dizer que concordo totalmente com você. — O sorriso de canto que brota em sua face deixa-o com uma completa cara de pai bobo. — Não posso reclamar do filho que tenho.

O trajeto até o restaurante corre da melhor maneira possível, até mesmo a tranquilidade no trânsito conspira para nosso bem, algo raro de acontecer na metrópoles onde vivemos. Lúcio estaciona a Mercedes entre duas caminhonetes e me ajuda a descer.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora