Lúcio- O Renascer De Um Coração

Capitulo XXI- Lábios magnéticos Parte 2

Seus olhos verdes espelham o brilho exagerado da curiosidade
que certamente a toma neste momento, os lábios tão tentadores formam um perfeito "o" minúsculo.

— Desculpe, mas não tenho como saber, prefiro que seja direto e fale com todas as letras sob quais circunstâncias se dará esse teste.

Não posso evitar sorrir quando abro o notebook e exibo a tela para ela.

A expressão de confusão que está em seu rosto desde que colocou os pés em minha sala torna-se ainda mais evidente.

— Por que estou vendo a gravação de um procedimento cirúrgico? Eu... não entendo.

— Trata-se de uma operação cardíaca num jovem de 19 anos portador e diabetes e asma. — Mordo o lábio, estreito os olhos e fito suas pequenas esmeraldas por alguns instantes. — Um procedimento de altíssimo risco.

— Eu sei... Mas o que não entendo é porque está me mostrando este vídeo,o que tem a ver comigo?

— Teoricamente nada. — Com meu celular, troco a imagem reproduzida no computador. — Está vendo esses dois? — Espero até vê-la anuir com a cabeça e sigo em frente. — São os pais do rapaz... Percebe como eles estão aflitos? Provavelmente morrendo de medo do resultado da cirurgia.

— Isso é compreensível... Mas eu ainda não entendi a ligação disso tudo comi...

— Embora eu discorde totalmente, você insiste em dizer que tem a frieza necessária para o trabalho de enfermeira. — Clareio a garganta e levanto os ombros.  — Chegou a hora de fazer valer suas palavras.

— Como assim?

— A cirurgia acaba em algumas horas, se ele morrer... — Aponto para o notebook. — Quero vê se consegue dá a notícia aos pais.

A cena que se segue é memorável. Esmeralda escancara tanto os olhos que por um segundo tenho medo de assistir os globos esverdeados saltarem para fora, sua expressão é de puro pânico.

— Você ficou doida, não tenho que fazer isso! É obrigação do cardiologista responsável, se quer faço parte da junta que está cuidando do caso.

— E está dizendo isso a mim? Acha que não sei que faz parte da minha equipe? Da neurologia?

— Bom... Parece que não, já que me mandou fazer algo tão absurdo.

—E você fará, a menos que queira dá o fora deste hospital hoje mesmo, o que para mim será um grande favor!

Embora suas colocações tenham sido enérgicas, durante todo o tempo Esmeralda manteu o semblante assustado, o que de certa forma, me deu a certeza de que estava conseguindo me sobressair em detrimento dela, agora, seu rosto mudou completamente e não há mais incongruência entre suas palavras e as expressões da face.

— Escute aqui, se pensa que eu vou virar as costas e ir embora, está muito enganado.— Os olhos são como chamas esverdeadas e expelem brasas de ódio em minha direção. — Embora não mereça tenho muito respeito pelo senhor porque é meu chefe e um profissional que admiro muito, mas como ser humano é absolutamente intragável.

— Não estou interessado no julgamento que faz de mim, a única coisa que quero, ou melhor, que exijo, é que sente na sua cadeira e faça o que eu mandei, porque como você mesma disse... Eu sou o chefe aqui.

Seus rosto permanece
como o de uma fera enjaulada, as mãos fechadas em punhos indicam que faz grande esforço para se manter sob controle.

— Se eu fizer o que manda... — As veias de seu pescoço alvo tornam-se salientes. — Cumprirá com a palavra dada?

— A quê exatamente está se referindo?

— Ao pedido de desculpas, prometeu que o fariia.

— Faz questão?

— O senhor não se importou em me humilhar o quanto quis, creio que não se importará em reparar o erro caso o constate... É isso que os grandes homens fazem e bem... Eu imagino que se considere parte deste grupo.

Embora a ideia de me desculpar não seja atraente, confesso que adoro vê a forma impetuosa como Esmeralda defende seus pontos de vista e direitos, ela é audaciosa e inteligente,duas das maiores qualidades que admiro em uma mulher, além de ter uma a aparência realmente agradável.

— Pois bem... Suas respostas me induzem a pensar que aceita o desafio.

— Não tenha dúvida que sim, apesar de considerar uma atitude leviana já que não tenho a preparação exigida para dá este tipo de notícia. Se as coisas saírem bem não terei grande dificuldade, mas se o rapaz morrer...

— Será sua única chance de provar que estive errado esse tempo todo, imagino que isso valha muito pra você.

A forma como Esmeralda manteu-se vidrada na tela de computador durante as horas seguintes mostrou que minhas crenças a seu respeito não poderiam está em rumo mais acertado. Tentei monitorar o que ela assistia através do celular, mas foi inútil, meus olhos não conseguiam desviar dela por mais de alguns segundos. Fiquei todo tempo de frente para ela, e com sua atenção concentrada exclusivamente no computador,pude admira-la sem a sombra do constrangimento pairando no ar. O nariz pequeno e fino lembra aqueles que vimos em bonecas de porcelana, as pestanas são tão longas quanto escuras e contrastam em perfeitamente com os olhos verdes, todo o harmonioso conjunto de seus traços é sustentado por uma mandíbula firme e emoldurado por longuíssimas ondas castanho acobreadas.

— Pode me servir uma xícara de café? — Em algum momento o som baixo e ligeiramente irritado de sua voz me arrancou do transe no qual estava.

Pisco os olhos algumas vezes, entrelaço os dedos e levanto da cadeira. O peso do garrafa de café está bem maior do que eu imaginava, definitivamente Esmeralda não compartilha do meu vício em cafeína.

— Açúcar ou adoçante? — Pergunto, enquanto derramo o líquido fumegante em uma xícara branca.

— 2 blocos de açúcar por gentileza.

Depois de servi-lo, preparo uma xícara para mim e torno a sentar.

— Mais duas horas e a cirurgia termina. — Afirmo, olhando para o relógio em meu pulso.

Os olhos da enfermeirinha se erguem e um suspiro arrastado escapa de seus lábios.

— As últimas cinco horas estão entre as mais intensas da minha vida. Mas estou contente... Felizmente até agora não houve complicações.

— Uma parada cardíaca ainda não está descartada.

— Sei disso... Porém prefiro pensar no melhor.

— Acha que pensamentos positivos serão úteis agora?

— Com certeza mais que os negativos.

— Bom... — Endireito-me na poltrona. — Eu espero que essa coisa de focar na vitória funcione para você... Pela felicidade geral da nação.

— Esse seu deboche mostra bem quem o senhor é, por isso prometi a mim mesma que não ia mais me deixar contaminar por um humor tão tóxico.

Eu geralmente demitiria qualquer funcionário que falasse assim comigo, mas tenho planos bem maiores para está atrevida, sua incapacidade de manter a língua travada receberá a paga merecida, e isso começará a acontecer em menos de 2 horas.