Capítulo XXXIX

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Mesmo inerte e sob domínio de um sono profundo, Esmeralda consegue deixar todos os membros do meu corpo despertos, cientes da proximidade com ela. Tenho-a desacordada em meus braços há muito tempo, talvez, mais de 5 horas e durante esse período fui vencido pelo cansaço algumas vezes, mas, bastava senti-la se movimentando para acordar sobressaltado, animado feito uma criança no playground. Não sei como explicar o frenesi que a menina provoca em mim, depois de tê-la mais de duas vezes numa única noite, deveria estar saciado, afinal, sou um homem hétero adulto, com doses normais de testosterona, entretanto, ocorre exatamente o contrário, sigo faminto e excitado como nunca antes, nem mesmo na adolescência. O lençol entre nossas peles pouco faz para amenizar o atrito dos corpos despidos, na verdade, creio que o tecido fino aumenta a intensidade da sensação. Envolvo-a mais ainda em meus braços e pressiono o nariz contra o cabelo cheiroso, adorando o fato de está esparramado por meu peito e parte do abdômen. Em um brusco movimento, Esmeralda se coloca quase que completamente sobre meu corpo, algo que geralmente me deixa desconfortável, mas que é tudo que desejo neste momento. Não me importaria se o mundo acabasse aqui e agora, pois jamais experimentei uma felicidade tão genuína como a que rege minha vida agora.

Conheci Aurora aos 12 anos e a partir daquele instante soube que havia encontrado minha alma gêmea, tal certeza me impediu de procurar um novo amor, até que Esmeralda chegou, tímida como uma pequena faísca que gradativamente transformou-se numa grande chama capaz de aniquilar a escuridão na qual eu vivia. Ainda tenho certeza que a mãe do meu filho foi minha alma gêmea, a amei mais do que amava a mim mesmo e sua morte me fez conhecer um sofrimento que não seria suportável mesmo se fracionado por mil corações. Contudo, hoje há uma coisa que posso afirmar com plena convicção, apesar da precocidade do momento. Meu espírito foi dividido em duas metades, e uma delas habita em Esmeralda.

***

Assustado, abro os olhos e a constatação da ausência de Esmeralda me deixa irado comigo mesmo por ter adormecido. Visto-me às pressas e começo a vasculhar a pequena casa, para meu desespero, não a encontro em lugar algum. Disposto a procurá-la ruas a dentro, volto para o quarto, e só quando estou calçando os sapatos é que vejo uma pequena dobradura jogada no chão. Abro-a e respiro aliviado ao lê a assinatura de Esmeralda no fim do bilhete, que dizia:

Bom dia, Lúcio.
Fui à farmácia, mas volto já.
Tem bolo de laranja e café fresco na mesa da cozinha, alimente-se, doutor.

Não sei quando isso aconteceu, mas me dou conta de que estou com os lábios comprimidos num sorriso bobo, e o coração batendo tão forte que parece que vai sair pela boca. Releio o bilhete algumas vezes, identificando a essência da enfermeira nas pequenas letras e suspirando feito um idiota a cada palavra lida. Nos últimos dias tenho enxergado em Esmeralda o ideal de ser humano, tudo o que ela faz é perfeito, incrível. Preciso agradecer a Álvaro por tê-la trago para mim, embora eu tenha amaldiçoado esta realização do meu primo em muitos momentos.

Apesar da fome ser tão grande quanto a vontade de experimentar algo feito por minha menina, opto por iniciar o dia com uma ducha. Desfrutando os abundantes e quentes jatos d'água não demoro a me flagrar divagando pela noite passada, tenho certeza que ela ficará na minha mente pelo resto da vida, jamais poderei esquecer o paraíso que foi ter Esmeralda em meus braços.

A boa educação me impede de utilizar a toalha pendurada num adereço do banheiro, por isso, seco-me com minha própria camisa. Fico feliz por encontrar um enxaguante bucal num dos armários, depois de usá-lo, volto para o quarto, onde visto minha calça e coloco os sapatos.

Não sei se minha adoração pela cozinheira está afetando meu julgamento, porém, considero o bolo o melhor que já comi e combina perfeitamente com o delicioso café. Logo depois de engolir o último pedaço da segunda fatia, ouço o ranger da porta e os delicados passos de Esmeralda. Com o coração dando piruetas de alegria, levanto-me apressado e me preparo para surpreendê-la com um beijo, todavia, o surpreendido fui eu, pois quem surge diante de mim não é a mulher com a qual passei a noite, mas outra.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora