Capítulo III- Metade Monstro

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Lúcio

O relógio em meu pulso marca 14 horas, por isso aperto o passo. Suponho que a esta hora o enxame de jornalistas já esteja a minha espera, e se antes eu estava quase sem paciência para encara-los, agora que cruzei com aquela imbecil, tenho vontade de mandar tudo pro inferno e ir para minha casa, mas não posso, e isso é foda.

Chego ao auditório esbaforido devido a caminhada acelerada, cumprimento alguns colegas e dirijo-me ao palanque, onde uma confortável cadeira aveludada me aguarda. Sento-me, e fito meus olhos nos jornalistas, vejo pelo menos 50 rostos, entre repórteres, fotógrafos e médicos.

- Você está pronto? - Pergunta-me o acessor que me arranjaram. Um médico com um acessor? Patético.

- Estou pronto. - Olho para o homem que treme como se estivesse ao lado de algum monstro. -Não permita que esta palhaçada se estenda por mais tempo do que o necessário. - Ordeno.

Ele assente com a cabeça, levanta da cadeira e altivo, dirige-se aos repórteres.

- Já podemos iniciar a coletiva. - Olha para mim novamente. - O Doutor Lúcio Sandoval está a disposição para responder-lhes as perguntas.

Imediatamente uma loira levanta a mão e meu acessor faz sinal permitindo-lhe a palavra.

- Após o sucesso desta cirurgia, o senhor acredita que o país tenha aberto a porta para que novos procedimentos desta magnitude ocorram sem a intervenção de profissionais norte-americanos ou europeus?

Respiro fundo e aproximo os lábios do microfone.

- Qualquer caso de craniópagos que chegar ao Sandoval será estudado, tratado e resolvido da melhor maneira possível. Mas eu não posso falar em nome de outras entidades.

Não sei quantas perguntas tive que responder, mas foram muitas. Algumas esdrúxulas, como o sexo dos bebês ou se os pais agradeceram-me pelo trabalho bem sucedido, outras foram tão articuladas que tive prazer em respondê-las. Feliz ou não com o resultado da coletiva o fato é que senti-me aliviado no término dela, honestamente, espero não ter que enfrentar esta situação ao menos pelo próximo mês. Exausto, decido cancelar toda a agenda vespertina e ir para casa, estou ansioso para saber o desempenho de Noah na competição e também por uma cama quente e um banho. Porém, antes de ir embora, passo na sala de Álvaro, quero saber porque ele não estava presente naquela entrevista e quem é a droga da garota que entrou no meu consultório e me queimou com todo aquele café.

- Seu chefe está na sala dele? - Pergunto para ruiva gostosa que Álvaro tem como secretária.

Seus olhos cor de avelã crescem quando ela os fixa em mim. Assim como em todos os departamentos do hospital, eu também não sou bem visto pelas pessoas que trabalham na presidência, foda-se, não estou aqui para conquistar a simpatia de ninguém.

- Bem, ele... - Sua voz é rouca e trêmula. - O doutor Álvaro está, mas pediu para não ser incomodado por ninguém.

Isso é uma novidade se tratando do meu primo, já que ele é a pessoa mais sociável que conheço.

- Bom, não sei se lembra, mas sou um dos sócios. O que significa que eu não sou um ninguém. - debruço-me em sua direção, manjo descaradamente seus seios enormes, nada cobertos pelo decote profundo do vestido preto que usa. Em seguida, fecho a cara e assumo a postura de durão que me cai tão bem. - Anuncie-me agora mesmo, isto é uma ordem!

- Como o senhor quiser. - Ela pega o telefone e fala com o Álvaro. - doutor Lúcio Sandoval deseja vê-lo, posso deixa-lo entrar? - Uma pausa. - Claro.

Ela me direciona o olhar, agora sem aquela nuvem de preocupação que os escurecia antes, e esboça um meio sorriso.

- O senhor pode entrar!

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora