Encaro meus dedos e a ausência de unhas me assusta, pois elas estavam grandes e afiadas no início deste dia, porém, foram sumindo gradativamente desde que Lúcio atravessou a porta e disse que voltaria ainda hoje, desde sua saída, me vi aniquilando-as com os dentes uma a uma.
Para me distrair, decido fazer o que pretendia na noite anterior, mas não pude devido a inesperada e esquisita chegada do meu chefe.
Preparo uma tigela de pipoca, abro uma lata de leite condensado e me atiro no sofá, depositando nele a ansiedade acumulada durante o dia. Quando a música de abertura começa, vejo a esperança de esquecer Lúcio Sandoval escorrer por entre meus dedos. É um jazz, o maldito jazz novamente.
Fecho os olhos e prendo a respiração, lembrando de solta-la só quando meus pulmões começam a reclamar. Pego o controle e adianto toda a abertura da série. Depois de quarenta minutos o episódio termina, e fico surpresa ao perceber que minha tigela está praticamente cheia, um milagre, geralmente devoro pipocas doces em menos de 10 minutos. Realmente estou doente, uma doença malditamente linda, alto e com os olhos mais lindos que já vi.
— Ah, Lúcio, Lúcio. — Sussurro, debatendo-me no sofá como um peixe preso ao anzol.
Estou realmente louca, uma pessoa normal não seria capaz de realizar a incrível façanha de pensar numa única coisa durante vários dias, ainda mais uma coisa que lhe faz tanto mal. Só há duas explicações possíveis para esse enorme problema; Ou eu estou louca, ou completamente apaixonada por Lúcio Sandoval, indo na contramão do esperado, realmente espero que a primeira opção seja a certa.
Eu penso nele quando ouço qualquer música, pois ele é melodia, penso em seus olhos quando acidentalmente vejo as estrelas no céu, pois eles ofoscuam a luz delas, suspiro apaixonada ao vê a cena de um casal se beijando, sabendo que os beijos jamais terão o mesmo desfecho que o nosso. Deus, nunca fui uma pessoa invejosa, e agora me vejo invejando tudo e todos que tem acesso a Lúcio. Eu queria ser às roupas que cobrem aquele corpo maravilhoso, a água do banho que escorre por sua pele, e minha nossa, juro que não me importaria em ficar doente novamente, se isso fizesse com que suas mãos me tocassem.
Meu coração para quando ouço o barulho sútil de um carro de luxo estacionando em frente a minha casa. É ele, só pode ser ele. Lúcio realmente voltou. Sinto-me feliz como uma criança no playground, o verei. Não me importo com o fato de parecer desesperada, corro o mais rápido que consigo até a porta, chegando completamente esbaforida no portão.
Ele ainda não saiu do carro, mas já posso vê-lo desprendendo o cinto de segurança, e me sinto genuinamente feliz ao avistar Noah no banco do carona. Ele se parece muito com o pai, e também tem muitos traços parecidos com os meus.
— Boa noite! — Lúcio não olha diretamente para mim, o que de certa forma me deixa aliviada, pois isso significa que não sou a única encantada aqui.
— Esmeralda!
Os olhinhos azuis de Noah praticamente saltam para fora quando esbarram em mim. O carinho mútuo que partilhamos é quase palpável, realmente não sei explicar esse sentimento tão forte que nutro pelo garoto. Não acredito que seja pelo simples fato dele ser filho do homem que vem mexendo comigo, pois fiquei fascinada por este garotinho desde o primeiro instante que o vi, quando ainda nem sabia de onde ele vinha.
— Não esperava por você. — Minto. Eu o esperava sim, mais do que isso, precisava dele.
— Isso é uma pena, porque eu esperei por esse momento Ioo dia inteiro.
Quando ele fala isso, todo o meu corpo ouriça. Lúcio está diferente, parece outra pessoa, alguém totalmente melhorado. Seus olhos emitem uma calma que eu até então não sabia que possuia, há um sorriso suave e totalmente verdadeiro estampando os lindos e deliciosos lábios.
— Não vai nos deixar entrar, Esme?
A voz sorridente de Noah me tira do transe no qual eu estava desde que Lúcio falou que desejava me vê. Balanço a cabeça e destranco o portão.
— Entrem! — Convido, escancarando o gradeado.
— Posso pegar ela papai?
Noah ergue uma sobrancelha e dá um passo em direção ao carro, entretanto, a mão grande de Lúcio é colocada sobre seu ombro e o faz parar.
— Pode deixar que eu pego.
— Desculpe... Mas pegar o quê? — Pergunto, sentindo-me um peixe fora d'água neste momento.
— Minha cachorrinha... Pode ficar com ela pra mim?
— Hã?
— Por favor, Esme... — Noah junta as mãos em súplica. — Serão apenas duas semanas. Até eu ficar bom da alergia.
— Mas eu...
— Você não vai negar o pedido da minha criança, vai?
Encaro Lúcio, completamente chocada com sua cara de pau. Não sei o que aconteceu com meu chefe, ou porque ele está agindo assim, mas de uma coisa tenho certeza, o bem estar da cachorrinha está longe de ser o motivo principal do pedido para que eu fique com ela. Apesar disso, nem me passa pela cabeça rejeita-la. Primeiro, porquê eu jamais poderia resistir ao rosto suplicante do Noah, segundo, porque tudo que eu mais quero na vida é um pretexto para vê Lúcio com mais frequência, vê-lo o tempo todo se possível.
Me apaixono a primeira vista pela cadela. Ela parece um pequeno e assustado lobinho, com orelhas pontudas, porém ligeiramente achatadas, e olhinhos tristes.
— Você é linda, pequena. — Sussurro, me surpreendendo com o cheiro maravilhoso que sai da pelagem brilhante. — Ela já tem nome?
— É Luna. — Informa Noah.
— Hum... Luna. — Beijo a cadelinha e a aninho melhor em meus braços. — Nos daremos muito bem, né princesa?
— Eu sabia que você não ia se opor a ficar com ela, afinal... — Os olhos de Lúcio que estavam fixos em mim, se direcionam para seus próprios pés. — Aurora adorava animais.
Franzo o cenho, odeio quando Lúcio me compara a sua ex esposa, claro que ela deve ter sido uma pessoa incrível e eu deveria me sentir muito orgulhosa por parecer com ela, mas não é o que acontece.
— E isso o fez deduzir que eu também gosto? — Pergunto, falhando miseravelmente na tentativa de extinguir a irritação da voz.
— Não, é que... — A cor abandona seu rosto. — Bem... Acho que a delicadeza das mulheres as fazem aceitar melhor animais.
— Eu não acho que isso seja uma regra... — Olho novamente para cachorrinha, que esfrega o fucinho no enorme saco de ração trazido por Lúcio, junto com outros um milhão de apetrechos, como remédios, brinquedos, uma variedade infinita de coleiras, além de muitos produtos de higiene. — Mas esta mulher em especial de fato adora cachorros. — Sorrio para Noah. — Pode vir ver a Luna quando quiser.
— Eu virei. — Responde Lúcio. — Quer dizer... Trarei Noah sempre que ele quiser, e bom... Como meu filho adorou a cadela, tenho certeza que a partir de hoje nos verá muitas e muitas vezes.
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Lúcio- O Renascer De Um Coração
RomanceO que acontece quando um homem devastado pelo sofrimento, descobre que o coração de sua falecida esposa bate no peito de uma linda e inocente jovem? Lúcio é um bem-sucedido Neurocirurgião, aclamado pela impressa e admirado por toda a classe médica...