Capítulo XI- Dentro da Fera

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As descobertas que fiz hoje ainda martelam na minha cabeça. O que fiquei sabendo mudou completamente minha forma de enxergá-lo, antes eu o via apenas como um homem naturalmente frio e cruel, um homem que não merecia redenção, agora, vejo que Lúcio Sandoval tem uma alma muito mais profunda do que deixa transparecer e um coração, embora o tempo e o sofrimento tenham paralisado seus batimentos. Infelizmente, saber disso não me ajudará a sobreviver ao seu constante mau humor, pois o que muda é apenas o meu olhar sobre sua difícil personalidade,no entanto, eu, continuo a mesma parva inútil sob a óptica do meu chefe.

Ouvir Laura discorrer sobre a morte repentina da esposa de Lúcio e a devoção que ele tinha por ela me fez compreender boa parte das atitudes que toma hoje, realmente deve ser muito difícil amar uma pessoa como ele amava a mulher e perdê-la sem aviso prévio.

— O jeito como ele a olhava, Esmeralda... — Laura suspirou e fechou os olhos. — Aquilo era amor de verdade, sabe? Um amor que de tão forte e impetuoso, tornou-se doentio após a morte da Doutora Aurora.

— E é por isso que hoje ele é esse poço de mesquinhez?

— Sim, completamente diferente de quem ele era antes, mudou da água para o vinho.

Quanto mais eu a escutava falar sobre o antigo Lúcio, mais o desejo de conhecê-lo a fundo crescia dentro de mim.

— E como ele era Laura? Por favor... Conte-me com riqueza de detalhes, estou curiosa! 

Implorei, sentindo as maçãs do rosto corarem por eu não ser capaz de mascarar o tamanho do interesse que o passado do meu chefe me desperta. Felizmente, Laura pareceu não notar minha afobação e seguiu com seu relato.

— Ele era a melhor pessoa do mundo, Esmeralda. Ainda lembro da luz que emanava do seu corpo quando chegava e do sorriso enorme que era pra todos, sabe? Dos faxineiros aos grandes diretores. — Seu olhar perde boa parte do brilho que outrora exibia. — Foi realmente uma pena o que aconteceu com ele.

— Bem, me desculpe, mas já que o conheceu nessa época e sabe o que aconteceu, deveria ter um pouco mais de paciência com ele, não acha?

— No começo eu até tentei, só que vê-lo cometer tantas injustiças tornou impossível enxerga-lo de outra forma senão como um monstro. Infelizmente já não existem resquícios do ser de luz que ele era antes.

— Será, Laura? Acho que ninguém muda totalmente, nós somos o que somos.

— Ele já não te deu mostras suficientes do caráter que tem?

— Sim, mas isso foi antes de eu saber pelo o que tinha passado... Agora que eu sei, tentarei levar suas ofensas para outro lado.

Laura tentou me convencer a não mudar minha forma de enxergar Lúcio, mas não dei-lhe ouvidos, eu estava e continuo disposta a enxergar o ser humano que se perdeu dentro do grande médico, não é possível que ele seja só aquilo.

Como teoricamente meu horário já tinha se encerrado e eu não tinha mais nada para fazer, ajudei Laura a catálogar e dividir uma série de remédios dentro de caixas que continham inscrições estranhas, do tipo: Raio de Sol, Espaço Renascer, Irmãos Desafortunados, dentre outros.

— O que significam esses nomes, Laura? E por que é você que tem que fazer isso? — Perguntei, num momento de extrema curiosidade.

— O Doutor Álvaro faz doações regulares de remédios caros a algumas instituições filantrópicas. — Lacra a última caixa com uma grossa fita vermelha. — Ele me encarregou da tarefa porque não quer que isso chegue aos ouvidos do primo.

Ajudo-a a empilhar as caixas e coloca-las sobre um carrinho de carregamento.

— Por que o doutor Lúcio não pode saber disso? É uma coisa tão bonita.

Lúcio- O Renascer De Um CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora