XV. Uma Companhia e Um Alerta

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Ilithia voltou para a tenda e não tinha a menor esperança de que Athena retornasse ainda naquela noite. Ela conhecia a amiga e Rayan muito bem: eles iam discutir, reclamar, se entender e dormir juntos. Não que estivesse acostumada com a vida de casados dos dois, mas conhecia bem Athena e ela podia persuadir Rayan a aceitar suas ideias, mesmo as mais absurdas de se vestir de homem e entrar para o exército.

A morena suspirou demoradamente, tirando a jaqueta externa para poder desatar a veste. Ao menos com os homens distraídos com a comemoração, não havia muito risco de ser pega àquela hora da noite. Precisava mesmo descansar e respirar melhor. Mal começou a desatar o primeiro laço da veste e ouviu o som de passos entrando na tenda. Ilithia não pensou duas vezes, reagiu por instinto ao tirar uma adaga da bota e se virar num movimento rápido para o homem que a tinha visto naquela situação, praticamente expondo seu segredo.

Sabia que não podia ser Athena, ou ela já chegaria reclamando horrores de ter levado bronca de Rayan e não ter sido perdoada, chamando-o de idiota. Mas os olhos alarmados pousaram sobre a figura conhecida de Cáel, sua adaga apontando para a altura do peito dele – embora pretendesse apontá-la para a garganta do intruso.

– Desculpe. – ele levantou as mãos abertas em sinal de defesa, curvando o corpo levemente para trás para não ficar ao alcance da adaga de Ilithia. – Devia ter avisado antes de entrar.

– Arh... não me assuste desse jeito. – a morena suspirou demoradamente, baixando a arma para então se sentar na beira da cama, ainda mais cansada por conta da dose de adrenalina com a aparição de Cáel.

– Você está bem? – o comandante logo se aproximou da jovem, sentando-se ao lado dela na cama, preocupado com a expressão pesada.

– Eu estou cansada. – respondeu Ilithia, voltando a tirar a veste. – O treino é muito mais pesado do que eu imaginei, todos os meus músculos estão doendo.

– Imaginei que seria difícil pra vocês. – Cáel desviou o olhar dela ao notar que estava despindo a veste, embora tivesse outra camisa mais simples por baixo. – Tem que ter um jeito de tirá-las dessa situação.

– Eu nem ligo mais. – Ilithia jogou a veste de lado e apoiou as mãos no colchão, conseguindo respirar com muito mais facilidade. – Preciso de uma boa noite de sono pra conseguir treinar amanhã, só isso.

– Vou deixá-la dormir então. Precisa mesmo descansar. – Cáel fez menção de se levantar, mas Ilithia segurou a sua mão, encarando-o um pouco constrangida com o ato quase involuntário.

– Pode ficar... por favor. – ela pediu, num fio de voz.

Cáel deixou um sorriso discreto surgir no canto dos lábios e concordou com um aceno de cabeça, para se sentar de novo ao lado dela na cama. Ilithia não falou mais nada, deitou-se e deu espaço na pequena cama para que Cáel deitasse também. Ainda um pouco receosa, ela se aproximou o suficiente dele e não demorou um segundo sequer a fechar os olhos e se render ao sono pesado, mal sentindo o beijo discreto que ele depositou na testa.

Nos instantes seguintes, Cáel ficou apenas observando-a enquanto ela pegava no sono, seus olhos rapidamente desviaram para os machucados nos braços dela. Ele suspirou resignado, para uma jovem sem o menor treinamento aguentar aquele ritmo, não era de se estranhar que estivesse tão cansada e machucada. Por alguns longos minutos que se seguiram, ele tentou pensar em alguma justificativa para tirá-la do treino, mas o sono chegou antes que ele pensasse numa solução capaz de convencer Conor ou seu pai.

O sol mal tinha nascido e Athena conseguiu acordar mesmo antes de Rayan. Não havia mais o som da bebedeira dos outros recrutas, nem qualquer movimentação aparente pelo acampamento. Ela abriu os olhos para encarar o peito de Rayan, que dormia profundamente com uma mão sobre o seu corpo, virado na direção dela, parecendo ter um sono bem pesado para não acordar nem quando ela se mexeu.

A Tough War [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora