VII. Uma Culpada e Uma Inocente

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– Não me venha com essa de senhor! O que porra você acha que está fazendo?!

Rayan conteve o grito para não chamar mais atenção das pessoas do lado de fora, mas ele se virou para a mulher vestida de homem debaixo de uma peruca loira com a expressão extremamente furiosa, provavelmente até pior do que aquela que Athena tinha visto três anos atrás quando ele descobriu que ela era uma mulher no acampamento de guerra. A única coisa que Athena conseguiu fazer foi morder o canto dos lábios, encolhendo os ombros, para encontrar a voz no topo da garganta.

Rayan, eu... – ela sentiu as mãos estremecerem com a proximidade dele e a expressão de raiva.

– Que merda tem na sua cabeça agora?! Você está doida?! – ele gesticulou amplamente, como se o movimento das mãos pudesse compensar o fato de que não podia gritar ali.

NãofaleassimcomigoRayan!!! – ela reclamou, sentindo os olhos se encherem de lágrimas só com a reação dele. E nem tinha esperado que ela explicasse.

– E como você quer que eu fale?! Com calma?! Paciente? Com beijinhos de aprovação?! – ele reclamou, andando de um lado a outro. – Você está no meu exército. DE NOVO! O QUE INFERNO ESTÁ FAZENDO AQUI?!

Ela se encolheu de novo quando ele não conseguiu conter o tom e gritou. Sabia que os recrutas do lado de fora tinham notado aquele grito e quase sentiu que as lágrimas escapariam dos olhos, quando ouviu a voz conhecida de Baldr, aparecendo pela abertura da tenda.

– Comandante...?

– FORA! – Rayan gritou de novo, antes mesmo que ele pudesse perguntar qualquer coisa, e o outro assim o fez, afastando-se de vez da tenda.

Eusintomuito... – a voz dela foi murmurada.

– Você o quê? Você tem ideia do que acabou de fazer?! – ele se aproximou dela, encarando-a com a mesma expressão de raiva. Athena baixou o olhar para o chão, sem saber exatamente o que fazer, apenas mexendo com as mãos e tentando conter as lágrimas que se acumulavam no canto dos olhos. – Agora, de novo: o que merda você está fazendo no meu acampamento de guerra?! Se fingindo de homem de novo!

– Num grite comigo, Rayan! – ela replicou, fechando os olhos com força, os ombros começando a estremecer com o tom dele. – Eu... eu realmente... é que... eu precisava... eu... só queria...

– Queria o quê?! Morrer na guerra?! Você acha que isso aqui é algum tipo de brincadeira de mau gosto?! – mais uma vez o tom severo, e ele voltou a andar de um lado a outro.

Mas eu não... eu só queria vê-lo e... nem era pra ficarmos, eu só... eu... – ela engoliu o choro, tentando formular qualquer frase, mas estava abalada demais com as frases severas dele naquele instante e mal percebeu o que tinha dito.

"Ficarmos"? Ilithia está aqui, não está?! – o tom ficou ainda mais bruto. – Eu sabia que tinha que ter o dedo de outra pessoa nessa ideia! Dessa vez eu vou mandar cortar a cabeça dela fora!

– Não! Rayan! Ela não tem nada...! – Athena tentou detê-lo ao ouvir a dedução do marido de que a ideia tinha sido de Ilithia. Por um lado, ficou levemente aliviada pelo marido não achar que aquilo podia ter surgido de sua cabeça... por outro, ficou extremamente preocupada com Ilithia que no fundo só tentou lhe ajudar e até tirar a ideia de sua cabeça.

Não teve como detê-lo, ele andou a passos rápidos na direção da entrada da tenda, abrindo-a e brandindo o nome conhecido.

– LYNCH! – ele gritou, olhando ao redor, esperando a resposta de algum dos soldados ou esperando avistar a mulher. – ICARUS, VENHA AQUI AGORA!

A Tough War [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora