A Tough War [Concluída]

XVI. Uma Flecha e Um Ajudante Inesperado

Machlah seguiu o trajeto do treinamento deixando Athena para trás sem nem pensar duas vezes. Por um instante, Athena ainda ficou perdida entre a sensação de dor e de medo, até o homem estar longe o suficiente para que ela fosse tomada não só pela dor, mas pela raiva crescente da atitude baixa do seu suposto companheiro de equipe.

A princesa sentiu o rosto queimar em irritação, tentando se levantar com raiva do que tinha acabado de acontecer. A dor era excruciante e o sangue só não jorrava mais do ferimento porque a flecha ainda estava fincada na perna. Ela precisava dar um jeito de sair dali, cruzar o caminho até encontrar outro arqueiro ou um espadachim que a ajudasse. Tentou puxar a flecha de sua perna, mas apenas ao segurar a madeira, a dor era tanta que era capaz de desmaiar. Ela não podia puxar para frente, ou para trás, ou o corte seria ainda pior. A intenção era quebrá-la antes de ser tirada com cuidado para não infeccionar.

– Mas que droga! – Athena tentou se levantar, dando os primeiros passos com muito esforço, o ferimento começando a latejar e os olhos contendo com muito sacrifício as lágrimas de dor. – Odeio, odeio isso!!! Eu nem fiz nada! Esse homem vai se ver comigo quando eu voltar para o castelo!!!

Ela se apoiou numa das árvores, sentindo a perna doer ainda mais, sem conseguir se manter em pé direito, o suor escorrendo pela testa e a respiração um pouco falha. Apertou a perna acima do ferimento com alguma força, tentando conter a dor, mas estava quase impossível. Olhou de um lado para outro, notando como estava longe do acampamento, torcendo para que o outro grupo de arqueiros passasse ao menos perto de onde estava para que pudesse pedir ajuda.

Athena andou mais alguns passos, passando pelos arbustos e árvores, mas o lugar estava ainda mais vazio do que antes. Sentiu a floresta rodar diante dos olhos, a respiração um pouco falha pelo cansaço do treino matinal e pelo ferimento sangrando na perna. Encostou-se a outro dos troncos largos e estendeu a mão até a flecha, tentando quebrá-la, mas a dor foi ainda mais forte e a mão começou a tremer. Sentiu os olhos lacrimejarem e olhou para os lados de novo, sem sinal de ajuda.

– Que ideia idiota ter vindo pra cá...! – reclamou consigo mesma, levantando a mão até o rosto, tentando sentar no chão e sentindo a perna doer com o menor movimento.

Segurou o tronco com força, conseguindo arrastar-se até o chão ao ouvir o barulho do farfalhar de um dos arbustos. Levantou-se de vez, não podia ser Machlah de novo, ou estaria em sérios apuros. Puxou uma das flechas da aljava e apontou-a para o lugar de onde vinha o barulho, quase sem força para montar o arco. A visão estava turva e quando o homem apareceu finalmente por entre os arbustos, alto e forte, não pensou duas vezes em disparar.

– Uou! Cuidado aí com essa flecha.

Athena piscou duas vezes e quase arregalou os olhos ao ver que o mesmo homem que a ajudara na noite anterior estava ali. Warin tinha desviado com bastante destreza de sua flecha, mesmo pego de surpresa.

– Você não devia estar mais a frente com o grupo de arq-?

Ele parou imediatamente de falar ao se aproximar e notar o estado do companheiro. Embainhou a espada, aproximando-se de Athena e voltando o olhar para a flecha que atravessava a perna dela.

– O que aconteceu com você? – perguntou Warin, pousando a mão no ombro de Athena. – Você devia ter um ou dois arranhões, nada nesse nível.

– Foi um... acidente. – respondeu Athena, tentando esconder o fato de que o próprio companheiro de equipe tinha feito aquilo com ela.

– Um acidente, hein. Sei. – o tom dele era totalmente descrente. Abaixou-se diante da jovem, na altura da flecha na perna dela. – Eu preciso cortar a ponta dessa flecha. Você aguenta?