A Tough War [Concluída]

XXVII. Uma Discussão e Uma Expectativa

O silêncio tomou conta da sala e parecia que nada se movia depois do anúncio muito direto de Cáel sobre a sucessão do trono. A expressão de Athena foi a primeira a se contorcer em total surpresa. Não que não soubesse do que estava por vir, mas pelo modo direto como o cunhado tinha tratado do assunto, até ela quase caiu de cara no chão. Rayan olhou do irmão para o pai, com uma certa expectativa e curiosidade no rosto, e Heidrich estava com o semblante sério e indecifrável de sempre. Eleanor também olhou do filho mais novo para o marido, o rosto mostrando certa curiosidade e confusão. Ilithia foi a única que não conseguiu sequer se mover naquele instante.

– Eu vou casar com Ilithia, então não há razão para continuar como sucessor do trono. – a confirmação da intenção de Cáel quase fez com que Ilithia desmaiasse ali mesmo, a morena nem se moveu e só Cáel que encarava Heidrich diretamente.

O sorriso discreto de Eleanor foi quase imperceptível e ela encarou o marido de novo. Foi bem em tempo de ver quando o olhar dele desviou na direção de Ilithia e voltou para Cáel muito rápido. O silêncio tomou o ambiente por alguns minutos que pareceram uma eternidade, até que o próprio rei decidisse responder algo.

– Saiam. Todos vocês. Deixem-nos a sós.

Ilithia era a que estava mais perto da porta, a intenção dela era de correr para deixar não só a sala, mas o castelo e até mesmo a cidade se fosse possível. Não esperava que Cáel jogasse aquele assunto de um jeito tão direto e na presença de todos na sala, por isso ela não queria descobrir qual seria a reação do rei. A morena estava tão inerte que Athena quem precisou se mover primeiro, fazendo um cumprimento breve para o rei e dando uma olhada para Cáel como se lhe desejasse boa sorte. Ela que segurou Ilithia pelo braço para despertá-la do transe e a morena fez uma reverência de quase noventa graus, murmurando um inaudível "vossa alteza" antes de acompanhar a amiga para fora da sala.

Rayan ainda deu um par de tapas amigáveis no ombro de Cáel antes de seguir até a porta também e Eleanor foi a última a se mover, aproximando-se do marido para depositar um beijo no rosto dele antes de fazer o mesmo com Cáel, que precisou se curvar para alcançar o rosto da mãe, a mulher deixando a sala em seguida.

Restaram na sala apenas Heidrich, Cáel e um silêncio incômodo que se estendeu por alguns minutos enquanto os dois permaneciam se encarando como se fosse algum tipo de disputa.

– Você vai renunciar? – a pergunta de Heidrich veio num tom bem incrédulo. – Não vejo necessidade para essa atitude extrema.

– E eu não vejo necessidade em continuar sendo príncipe. – completou Cáel, num tom mais normal e calmo do que o costumeiro quando discutia alguma coisa com Heidrich. E as discussões deles costumavam ser bem calorosas. – Rayan é o herdeiro do trono, nunca foi minha intenção tomar o lugar dele e agora menos ainda. Sabemos que minha função como segundo príncipe é meramente diplomática, então é mais fácil eu renunciar.

– Não faz o menor sentido. – Heidrich deu a volta no gabinete, apoiando as mãos no tampo de madeira e encarando Cáel com o móvel entre os dois. – Se quiser casar com a jovem, case-se. Não precisa renunciar à sucessão por um casamento.

– O senhor que não está fazendo o menor sentido. – Cáel levantou uma sobrancelha parecendo ainda mais descrente. – Sabe melhor que qualquer um que se eu casar com alguém que não seja da realeza, vai desestabilizar a relação da família real com as famílias da alta sociedade, que esperam que suas filhas tenham um lugar reservado na corte. Um problema tão simples poderia gerar uma comoção enorme, e por mais que o senhor seja o Rei, há certas regras que precisa seguir para manter a estabilidade do reino. Sei que aceitaria meu casamento, mas o resto da corte não veria com bons olhos.