Capítulo 3

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Gustavo

Estava cansado. Isso era um fato.

Cansado de andar o dia inteiro atrás de um emprego e voltar para casa de mãos vazias, de uma vida dupla de pai, dono de casa e desempregado. Cansado de tudo em um conjunto. Mas ainda assim buscava forças para subir cada degrau que estava à minha frente, já que o elevador estava interditado, até chegar à porta da casa de Taís. Respirei fundo, tirando o semblante de derrotado do meu rosto, e bati três vezes.

Ela não demorou a ser aberta, e assim que foi feita, Taís surgiu à minha frente, com o sorriso que nunca saía do seu rosto. Mas meus olhos caíram mesmo no que estava em seu colo, já adormecida.

Helena era uma coisinha tão pequena, mas com um poder absurdo sobre mim. Tanto que assim que olhei para o seu rostinho sereno dormindo, um canto do meu lábio se ergueu em um sorriso.

— É tão bom saber que pelo menos ela consegue te fazer sorrir.

A voz de Taís invadiu meus ouvidos, fazendo-me olhar para ela.

O que ela dizia era a verdade. Helena conseguia resgatar o melhor de mim, que eu julgava não existir mais. Eu já não conseguiria sobreviver sem ela.

— Sim, ela consegue tudo.

Taís entrou com ela e me deu passagem para que entrasse também.

Minha bebê tinha um mês de vida, e desde que ela chegou ao mundo, Taís vinha me ajudando muito. Eu não poderia negar que sem ela, eu não estaria conseguindo dar conta de metade das coisas que vinha dando.

Como ela trabalhava em home Office, com o seu próprio projeto, ela se disponibilizou a cuidar de Helena, denominando-se madrinha da criança. Isso era bom, já que eu não teria ninguém para ocupar o cargo.

Ela colocou Helena no bebê conforto sobre o sofá e caminhou até a mesa, chamando-me para acompanhá-la.

— Como foi hoje? — ela perguntou enquanto eu me sentava e ela pegava uma tupperware e enchia com algo no fogão, que me parecia sopa e cheirava deliciosamente.

— Como todo dia. Deixei vários currículos onde podia, e vou esperar a ligação.

Taís colocou a vasilha quentinha sobre a mesa à e empurrou para mim.

— Para você jantar hoje. Eu sinto muito. — Ela se sentou à minha frente. — Mas logo vai aparecer alguma coisa. Vamos continuar a busca.

— Eu só mantenho a esperança por Helena.

Olhei na direção em que minha filha dormia. Era por ela que eu enfrentaria a vida, se preciso fosse.

— Eu sei que sim. Mas, Gustavo...

Ela parou de falare ficou brincando com os desenhos da toalha de mesa. Provavelmente, ela tinha algo a dizer, mas sabia que eu não gostaria, era sempre assim.

— Sim... — incentivei.

— Você tem a sua família. A sua mãe poderia te ajudar muito — ela falou tudo de uma vez, sem parar para respirar.

Fechei a cara – mais ainda – no mesmo instante. Taís sabia que eu não gostava daquele assunto, era por isso que pensou antes de falar. Mas aparentemente não havia pensado direito.

— Você sabe muito bem que isso é um assunto proibido. Não quero ajuda deles.

— Mas, Gustavo, você precisa de um apoio maior. Uma ajuda financeira, que sabe que ela pode conseguir. Sua mãe ainda não conhece a Helena. Você não pode privá-la disso.

— Tanto posso como vou — falei um pouco mais ríspido.

— Gustavo, você não pode recusar ajudas neste momento, tem que pensar no que seria melhor para a sua filha.

Levantei-me empurrando a cadeira em que estava, o que fez um rangido no chão, deixando a cena um pouco mais dramática.

— Eu sei muito bem o que é melhor para a minha filha. E ficar longe daquela mulher, no momento é o melhor que eu faço por ela. — Caminhei até Helena, pegando o bebê conforto pela alça. — Se ela esta te atrapalhando por ficar aqui, não se preocupe que arrumo outro lugar. — Meu tom de voz saiu um pouco mais irritado.

— Não é isso, Gustavo, você sabe que eu amo essa menina. Estou apenas me preocupando com vocês dois — Taís também levantou, falando enquanto me acompanhava.

Peguei Helena, sua bolsa e me dirigi à porta.

— Tudo bem, Taís, muito obrigada por sua preocupação, mas eu não lhe pedi opinião sobre esse assunto. — Eu não poderia ser tão escroto com uma pessoa que vinha me ajudando muito. Apesar de tudo, eu sabia reconhecer isso. — Você é a pessoa que mais tem me ajudado nos últimos tempos, sabe disso. e eu agradeço. Mas do resto, eu dou conta, vou conseguir.

Parei na porta, esperando que ela abrisse para mim, assim que o fez, atravessei, mas parei no momento em que ela me chamou.

— Me desculpa se te magoei, minha intenção jamais foi essa. Você sabe disso — ela falou com a voz fraca, parecendo realmente arrependida.

— Você sabe como é a criação daquela mulher, concorda comigo que ela não tem sentimentos.

— Sim, eu sei. Mas as pessoas podem mudar.

— Ela não.

Taís respirou fundo, enchendo os pulmões e depois soltou lentamente.

Esse era um assunto que não me agradava em nada, e ela sabia disso.

— Amanhã no mesmo horário? — Ela me estendeu a tupperware onde havia colocado a comida na minha direção. Coloquei a alça da bolsa no ombro e peguei a vasilha dela.

— Sim, se você puder, vou sair amanhã novamente para distribuir currículos.

— Claro que posso, estarei esperando por vocês.

Ergui meus olhos para os dela, fixando por um momento. Ela era doce, e demonstrava isso para todo mundo. Mas nunca entenderia o porquê demonstrava para mim também.

— Muito obrigada — disse finalmente e interrompi o contato visual.

Instantaneamente, Taís colocou um sorriso no rosto, como se saísse vitoriosa de uma batalha.

— Estou aqui para isso.

— Boa noite — foi a única coisa que eu disse, enquanto virava de costas para ela e começava a caminhar para ir embora, ouvindo a sua respostas atrás de mim.

Assim que estava longe o suficiente para poder ser ouvido, olhei para minha filha, que começava a piscar os olhinhos sonolentos. Meu coração se apertava por passar tanto tempo longe dela, mas era por um bem maior.

— Papai vai dar um jeito, pequena, você não precisa se preocupar com nada. Seremos eu e você contra o mundo, e vamos vencê-lo.

Como se ela estivesse me entendendo, Helena deu uma risadinha cúmplice, mas que eu sabia que não passava de reflexo dos bebês. Mas ainda assim, me senti melhor com esse pequeno gesto vindo dela.

— Com você, papai consegue superar tudo.

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora