Katrina
Eu não esperava por sua ligação. Já estava pensando em desistir dele. Mas ele me ligou dizendo que topava o acordo. Não sei o que o fez mudar de ideia, mas estava gostando daquilo.
Acertamos nossos três primeiros encontro, para nos conhecermos melhor, e aquele seria o primeiro deles. Fazia alguns dias que eu não o via. Na verdade, a ultima vez foi o dia em que ele me trouxe para casa, quando nos conhecemos. E aquela seria a segunda que nos víamos, para sairmos em um encontro.
Estava andando de um lado ao outro, sendo acompanhada pelo olhar de Erica, que parecia me julgar.
— Você pode parar de andar? Até parece que nunca saiu com um homem antes.
— Não um com quem eu pretendo ter um casamento tão em breve.
Parei na ponta da cama, de frente para minha amiga. Poderia jurar que se a encarasse por muito mais tempo, começaria a chorar.
— Kat, você sabe que pode desistir. Você não precisa se casar com ele, e muito menos aceitar essa herança maluca que a sua mãe te deixou.
— Eu sei, Cá. Mas eu quero. Agora é por mim que farei isso. Minha mãe me abandonou quanto eu tinha três anos, e agora me deixa alguma herança. Eu... — soltei um suspiro — tenho esperanças de que seja algo que conte uma história, qualquer coisa assim.
— Ai, amiga, você esta criando expectativa. — Erica olhou para mim com seus olhos amendoados, como alguém que queria transmitir piedade, compaixão.
— Não estou — apressei-me em dizer — é só uma esperança de ganhar alguma coisa dela, sabe? O que realmente vai acontecer.
— Apenas se você se casar.
No momento em que Erica disse isso, alguém bateu à porta do quarto e nos viramos, para saber quem era.
Maria, que era a governanta da casa, abriu uma fresta da porta, enfiando a cabeça para dentro do quarto.
— O rapaz chegou, Kat — ela anunciou, dando uma piscadinha. — E está um gato.
Assim que deu o recado, ela saiu, fechando a porta.
— Você ainda tem tempo para desistir. Posso descer e falar que está doente, indisposta — Erica sugeriu.
— Não, eu vou. É apenas um almoço, não é? Foi para isso que estipulamos três encontros antes de qualquer decisão mais concreta.
— Então desce e arrasa. Você está uma gata.
Parei em frente ao grande espelho que ficava ao lado do guarda-roupa, olhando-me. Usava um vestido mais solto e casual. Nos pés uma sapatilha confortável. No rosto uma maquiagem leve. Um look para um almoço e talvez um passeio no parque, quem sabe.
— Você não vai descer? — Olhei para Erica através do reflexo no espelho.
— Quero ser apresentada para o tal Gustavo formalmente, em uma ocasião especial.
Levantei uma sobrancelha para ela, tirando um sorriso de seu rosto e uma expressão superior, o que nos fez dar uma risada e descontrair o clima.
— Muito obrigada pelo apoio, então.
Cheguei perto da minha amiga, abrindo os braços e embalando-a em um abraço quente e aconchegante.
— Me agradeça depois de catar o bonitão que está te esperando lá embaixo.
— É apenas um contrato, não se esqueça.
— Mas nada impede que você tire algum proveito do corpinho dele.
Ela piscou, dando um sorriso de lado malicioso.
Virei as costas e deixei-a falando sozinha.
Eu não poderia colocar na mente que um casamento por contrato teria alguma coisa a mais envolvida. Nem mesmo contatos.
Desci as escadas e quando estava chegando, meu pai surgiu à minha frente, estendendo-me a mão para me ajudar. Era mesmo um cavalheiro.
— Você está muito linda, minha princesa — ele falou com muito carinho carregado na voz.
— Muito obrigada, pai.
Equilibrei-me nas pontas dos pés assim que chegamos ao último degrau e lhe dei um beijo na bochecha, o que o fez abrir um sorriso de orelha a orelha.
Quando olhei para frente, dei de cara com Gustavo. Ele usava uma camisa em um tom entre azul e cinza-escuro, que continha o escudo do capitão América na frente, uma calça jeans escura também. A barba estava um pouco maior que na última e única vez que tínhamos nos visto, mas muito bem aparada.
Caminhei até ele, parando à sua frente. Nós dois permanecemos em silêncio por um momento, encarando-nos.
— Então, onde vocês vão? — meu pai acabou quebrando o gelo do momento.
Gustavo direcionou os olhos para ele, dando um leve sorriso de canto, quase imperceptível a olho nu.
— Combinamos de almoçar em um lugar aqui perto. Conheço o local há um tempo e a comida é ótima.
Meu pai abriu um senhor sorriso para ele, expressando toda a sua simpatia.
— Espero que se divirtam.
Sr. Claudio me deu um beijo no alto da cabeça, deixando-nos a sós. Eu adorava o fato dele saber quando se retirar ou impor sua presença, mesmo quando o assunto em questão era a sua única filha.
— Você está muito... — Gustavo começou a falar, assim que ficamos sozinhos, mas ele parecia se perder nas palavras — muito bonita.
Ele pigarreou assim que terminou a frase, como se aquilo fosse difícil para ele.
— Obrigada, você também está muito bem.
Aproveitei o momento para olhá-lo de cima a baixo. Ele não estava muito bem. Ele era muito, todo muito bom.
Assim que meus olhos voltaram para os seus, com aquela expressão enigmática, como se tivesse o mundo atrás daquele azul, ele me estendeu a mão. Aceitei-a e saímos de casa, fechando a porta atrás de nós.
Um táxi nos esperava no portão.
— Se soubesse que iríamos de táxi, poderíamos ter ido com o meu carro — falei, parando na frente da porta traseira do veículo.
— O primeiro encontro vai ser por minha conta. Podemos conversar sobre o segundo — ele falou sério, parando ao meu lado.
Achei que iria esperar que eu entrasse, para assim fazer o mesmo, mas o gesto que fez a seguir me comoveu um pouco.
Em um gesto muito cavalheiresco, ele se inclinou, abrindo a porta e esticando a mão, dando-me passagem para que eu entrasse primeiro.
Sério, o homem que abria a porta para uma mulher nos dias atuais estava praticamente extinto. O que me fez ponderar mais uma vez que estava fazendo a escolha certa para aquele acordo.
Assim que estávamos acomodados, lado a lado no carro, já em direção ao nosso destino, soltei um suspiro e comecei a falar.
— Me conta, o que te fez mudar de ideia e aceitar isso tudo?
Achei que ficaria sem resposta, até mesmo pelo motivo que Gustavo olhava para a frente, como se não enxergasse nada. Mas ele me surpreendeu mais uma vez em menos de dez minutos quando soltou um suspiro da mesma forma que eu, e começou a falar, mas não a resposta que eu esperava, claro.
— Isso seria um assunto mais para frente. Até mesmo porque não sabemos se esses encontros chegarão a um resultado positivo.
Ele desviou os olhos para mim, encarando-me muito sério.
Mas infelizmente não sabíamos mesmo. Tínhamos que nos conhecer um pouco mais para termos certeza de que levaríamos aquela história adiante ou não.
Mas o pouco que eu vinha conhecendo de Gustavo estava me agradando, e muito. E naquele momento, um frio passou pela minha barriga ao pensar nisso. Era arriscado gostar de um provável marido de contrato.
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Um Marido de Mentirinha
RomansaEu estava precisando de um emprego, mas sendo pai solteiro era algo quase impossível. Até que Katrina Ferrer apareceu, procurando por um marido de conveniência, para poder receber uma herança. Eu não queria me envolver nessa história, só que me pare...