Capítulo 14

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Katrina

Eu não esperava por sua ligação. Já estava pensando em desistir dele. Mas ele me ligou dizendo que topava o acordo. Não sei o que o fez mudar de ideia, mas estava gostando daquilo.

Acertamos nossos três primeiros encontro, para nos conhecermos melhor, e aquele seria o primeiro deles. Fazia alguns dias que eu não o via. Na verdade, a ultima vez foi o dia em que ele me trouxe para casa, quando nos conhecemos. E aquela seria a segunda que nos víamos, para sairmos em um encontro.

Estava andando de um lado ao outro, sendo acompanhada pelo olhar de Erica, que parecia me julgar.

— Você pode parar de andar? Até parece que nunca saiu com um homem antes.

— Não um com quem eu pretendo ter um casamento tão em breve.

Parei na ponta da cama, de frente para minha amiga. Poderia jurar que se a encarasse por muito mais tempo, começaria a chorar.

— Kat, você sabe que pode desistir. Você não precisa se casar com ele, e muito menos aceitar essa herança maluca que a sua mãe te deixou.

— Eu sei, Cá. Mas eu quero. Agora é por mim que farei isso. Minha mãe me abandonou quanto eu tinha três anos, e agora me deixa alguma herança. Eu... — soltei um suspiro — tenho esperanças de que seja algo que conte uma história, qualquer coisa assim.

— Ai, amiga, você esta criando expectativa. — Erica olhou para mim com seus olhos amendoados, como alguém que queria transmitir piedade, compaixão.

— Não estou — apressei-me em dizer — é só uma esperança de ganhar alguma coisa dela, sabe? O que realmente vai acontecer.

— Apenas se você se casar.

No momento em que Erica disse isso, alguém bateu à porta do quarto e nos viramos, para saber quem era.

Maria, que era a governanta da casa, abriu uma fresta da porta, enfiando a cabeça para dentro do quarto.

— O rapaz chegou, Kat — ela anunciou, dando uma piscadinha. — E está um gato.

Assim que deu o recado, ela saiu, fechando a porta.

— Você ainda tem tempo para desistir. Posso descer e falar que está doente, indisposta — Erica sugeriu.

— Não, eu vou. É apenas um almoço, não é? Foi para isso que estipulamos três encontros antes de qualquer decisão mais concreta.

— Então desce e arrasa. Você está uma gata.

Parei em frente ao grande espelho que ficava ao lado do guarda-roupa, olhando-me. Usava um vestido mais solto e casual. Nos pés uma sapatilha confortável. No rosto uma maquiagem leve. Um look para um almoço e talvez um passeio no parque, quem sabe.

— Você não vai descer? — Olhei para Erica através do reflexo no espelho.

— Quero ser apresentada para o tal Gustavo formalmente, em uma ocasião especial.

Levantei uma sobrancelha para ela, tirando um sorriso de seu rosto e uma expressão superior, o que nos fez dar uma risada e descontrair o clima.

— Muito obrigada pelo apoio, então.

Cheguei perto da minha amiga, abrindo os braços e embalando-a em um abraço quente e aconchegante.

— Me agradeça depois de catar o bonitão que está te esperando lá embaixo.

— É apenas um contrato, não se esqueça.

— Mas nada impede que você tire algum proveito do corpinho dele.

Ela piscou, dando um sorriso de lado malicioso.

Virei as costas e deixei-a falando sozinha.

Eu não poderia colocar na mente que um casamento por contrato teria alguma coisa a mais envolvida. Nem mesmo contatos.

Desci as escadas e quando estava chegando, meu pai surgiu à minha frente, estendendo-me a mão para me ajudar. Era mesmo um cavalheiro.

— Você está muito linda, minha princesa — ele falou com muito carinho carregado na voz.

— Muito obrigada, pai.

Equilibrei-me nas pontas dos pés assim que chegamos ao último degrau e lhe dei um beijo na bochecha, o que o fez abrir um sorriso de orelha a orelha.

Quando olhei para frente, dei de cara com Gustavo. Ele usava uma camisa em um tom entre azul e cinza-escuro, que continha o escudo do capitão América na frente, uma calça jeans escura também. A barba estava um pouco maior que na última e única vez que tínhamos nos visto, mas muito bem aparada.

Caminhei até ele, parando à sua frente. Nós dois permanecemos em silêncio por um momento, encarando-nos.

— Então, onde vocês vão? — meu pai acabou quebrando o gelo do momento.

Gustavo direcionou os olhos para ele, dando um leve sorriso de canto, quase imperceptível a olho nu.

— Combinamos de almoçar em um lugar aqui perto. Conheço o local há um tempo e a comida é ótima.

Meu pai abriu um senhor sorriso para ele, expressando toda a sua simpatia.

— Espero que se divirtam.

Sr. Claudio me deu um beijo no alto da cabeça, deixando-nos a sós. Eu adorava o fato dele saber quando se retirar ou impor sua presença, mesmo quando o assunto em questão era a sua única filha.

— Você está muito... — Gustavo começou a falar, assim que ficamos sozinhos, mas ele parecia se perder nas palavras — muito bonita.

Ele pigarreou assim que terminou a frase, como se aquilo fosse difícil para ele.

— Obrigada, você também está muito bem.

Aproveitei o momento para olhá-lo de cima a baixo. Ele não estava muito bem. Ele era muito, todo muito bom.

Assim que meus olhos voltaram para os seus, com aquela expressão enigmática, como se tivesse o mundo atrás daquele azul, ele me estendeu a mão. Aceitei-a e saímos de casa, fechando a porta atrás de nós.

Um táxi nos esperava no portão.

— Se soubesse que iríamos de táxi, poderíamos ter ido com o meu carro — falei, parando na frente da porta traseira do veículo.

— O primeiro encontro vai ser por minha conta. Podemos conversar sobre o segundo — ele falou sério, parando ao meu lado.

Achei que iria esperar que eu entrasse, para assim fazer o mesmo, mas o gesto que fez a seguir me comoveu um pouco.

Em um gesto muito cavalheiresco, ele se inclinou, abrindo a porta e esticando a mão, dando-me passagem para que eu entrasse primeiro.

Sério, o homem que abria a porta para uma mulher nos dias atuais estava praticamente extinto. O que me fez ponderar mais uma vez que estava fazendo a escolha certa para aquele acordo.

Assim que estávamos acomodados, lado a lado no carro, já em direção ao nosso destino, soltei um suspiro e comecei a falar.

— Me conta, o que te fez mudar de ideia e aceitar isso tudo?

Achei que ficaria sem resposta, até mesmo pelo motivo que Gustavo olhava para a frente, como se não enxergasse nada. Mas ele me surpreendeu mais uma vez em menos de dez minutos quando soltou um suspiro da mesma forma que eu, e começou a falar, mas não a resposta que eu esperava, claro.

— Isso seria um assunto mais para frente. Até mesmo porque não sabemos se esses encontros chegarão a um resultado positivo.

Ele desviou os olhos para mim, encarando-me muito sério.

Mas infelizmente não sabíamos mesmo. Tínhamos que nos conhecer um pouco mais para termos certeza de que levaríamos aquela história adiante ou não.

Mas o pouco que eu vinha conhecendo de Gustavo estava me agradando, e muito. E naquele momento, um frio passou pela minha barriga ao pensar nisso. Era arriscado gostar de um provável marido de contrato.

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora