Capítulo 2

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Katrina

O dia havia sido maravilhoso, como era em todos os anos. Passar o dia com aquelas duas mulheres, era como renovar minhas energias.

Estava voltando para casa, no carro de Erica, ao som de Barões da Pisadinha, que segundo ela era "a maior lenda dos últimos tempos" em questões musicais, quando ela mesma baixou o volume.

— Podemos conversar? — ela perguntou em um tom mais sério.

Minha amiga sabia ser divertida, distraída e qualquer outro adjetivo de uma pessoa que levava a vida de uma forma descontraída, mas ela também sabia ser séria e ter papos cabeças quando lhe convinha.

— Claro — respondi-lhe apenas isso e esperei que ela desse prosseguimento.

— É uma curiosidade que me bate de vez em quando. Você sente falta da sua mãe?

Fiquei em silêncio por alguns segundos, pensando no assunto.

Eu tinha vagas memórias da minha mãe. Mas quando se vai crescendo, elas costumam ser esquecidas. Impressionantemente, eu ainda conseguia manter algumas. Como quando ela me levava à creche, e a minha felicidade de vê-la indo me buscar, alguns passeios que fazíamos em família. Coisas assim, vagas lembranças.

— Falta, eu não sinto. Vocês preenchem esse espaço na minha vida perfeitamente. — Dei um sorriso para ela, que me olhava de canto.

Erica já era linda, mas com o pôr do sol batendo em sua pele negra, ela parecia ainda mais do que já era naturalmente.

— Eu sei que sim, mas dela em questão. Você acha que ela fez falta para a sua vida?

— Eu acredito que não. Nunca parei para pensar se algo seria diferente se ela estivesse comigo ainda. Como eu falei, a tia supriu muito bem esse papel na minha vida. — Dei um suspiro rápido. — E meu pai também nunca me deixou sentir falta de uma pessoa que nem ela.

— Fico feliz que você pense assim.

O resto do caminho fomos ouvindo nossas músicas e cantando.

Assim que me deixou na porta de casa, ela se despediu e foi embora. Era o momento de aproveitar o dia das mães com meu pai.

— Pai, cheguei — anunciei assim que passei pela porta da frente.

— Estou na cozinha.

Apesar do luxo, riqueza e tudo o que conseguíamos com dinheiro, meu pai sempre foi pé no chão, gostava de cozinhar algumas vezes, mantinha poucos funcionários na casa, e sempre os liberava em feriados. Sempre admirei isso nele.

Fui até ele, seguindo o cheiro delicioso que vinha do cômodo.

— Hum... o que vai sair hoje?

Sentei-me do outro lado da bancada, enquanto ele mexia em algumas panelas à minha frente.

— Estrogonofe. Sei que você adora.

Fechei os olhos e inspirei profundamente aquele aroma. Só pelo cheiro, meu apetite estava renovado.

— Como foi na casa da Vera hoje? — ele perguntou de forma despretensiosa.

— Normal. Nós nos divertimos e comemos muito. Ah, e ela te mandou um beijo.

— Muito obrigada.

Meu pai me olhou, abrindo um sorriso. Era impressionante como a cada ano que passava, ele ficava cada vez mais bonito. Ele era dedicado, atencioso, carinhoso. Não conseguia encontrar motivos para uma mulher ter coragem de abandoná-lo.

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora