Capítulo 1

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Katrina

Aquela era uma data que eu não curtia muito desde os meus três anos de idade.

O segundo domingo de maio sempre foi um dia monótono, chato e sem graça. Eu levava aquele sentimento desde a infância, mas não era por querer me sentir penalizada. Era apenas um sentimento impregnado em mim.

Mas já na idade adulta, eu tentava ao máximo encará-lo como um dia comum, sem nada de muita importância.

Mas claro que meu pai não deixaria passar em branco. Ele nunca deixava.

Nos dias das mães, os filhos costumavam dar presentes para suas mães, mas na minha casa, desde que eu conseguia me lembrar, eu que ganhava um presente. E eu sabia que era isso que iria acontecer no momento que uma batida soou na minha porta pela manhã. Larguei o celular de lado, e autorizei a entrada da pessoa mais importante da minha vida ao meu quarto.

— Ah, você já está acordada, que bom, achei que eu teria que te acordar como fazia quando era minha bebê.

Meu pai entrou com um sorriso no rosto e as mãos para trás. Ele repetia isso há vinte e um anos, sem nunca mudar a sequência dos acontecimentos.

— Acordei há um tempo, pai. Só estava enrolando para levantar.

Ele se aproximou de mim, depositou um beijo na minha testa e sentou na beirada da cama ao meu lado.

— Como você está se sentindo hoje?

A mesma pergunta, todo ano. Eu já não me sentia afetada pela falta de uma mãe na minha vida. Até mesmo porque meu pai cumpria muito bem o papel das duas partes.

— Estou muito bem, do mesmo jeito que estava ontem e como vou estar amanhã, Sr. Claudio.

Um sorriso de lado curvou os lábios do meu pai. Ele era um homem de idade, com seus cinquenta e nove anos, mas a idade o deixava cada vez mais charmoso. Seu cabelo branco proporcionava-lhe um ar maduro, como se o platinado fosse a sua cor.

— Isso me deixa muito feliz. E para melhorar ainda mais o seu dia. — Ele trouxe as mãos para a frente, revelando uma caixinha com um pequeno laço azul em cima. — Te trouxe um presente.

Olhei para ele como se estivesse mega surpresa com tudo aquilo e lhe dei um abraço apertado. Como sempre, o contato de carinho se estendeu por um tempo maior do que o de costume, enquanto meu pai acariciava meu cabelo. E eu permiti que ele se demorasse. Eu gostava de receber o seu amor, sentir-me querida. E meu pai era a melhor pessoa para fazer isso por mim.

Assim que nos afastamos, abri a caixinha que continha uma linda pulseira dourada, fina e delicada, como meu pai sabia que eu gostava.

— É linda, pai. Muito obrigada. — Dei-lhe outro abraço rápido em agradecimento e pedi ajuda para colocá-la em meu braço.

Assim que ele a fechou em meu pulso, saiu do quarto para que eu pudesse me arrumar para começar o dia e em poucos minutos estava sentada à mesa, que estava farta para o café da manhã, conversando animadamente com meu pai.

— Vai se encontrar com a Erica hoje? — meu pai perguntou enquanto passava geleia em uma torrada.

— Vou sim. — Tomei um gole de suco. — Alíás, ela deve estar chegando. Tenho que me apressar.

— Manda um beijo para Vera, sei que você vai passar lá. E um Feliz dia das Mães também.

Vera era a mãe da minha melhor amiga, Erica, no caso.

Mas antes que eu pudesse lhe responder, a campainha tocou e Maria passou por nós, para atendê-la.

— E aê, gata. Tudo tranquilo por aqui?

Erica entrou na sala com toda a sua animação empolgante.

Ela era uma mulher que possuía luz própria, iluminando por onde passava.

Estava com suas roupas estilosas, já que ela sempre sabia conseguia combinar cores e peças que condiziam com seu corpo e pele negra, em tom de chocolate.

— Tudo tranquilo, Cá. Quer tomar café? — perguntei, enquanto me levantava e pegava uma fruta.

— Não, tranquilo. — Ela pegou uma torrada da mesa. — Tudo bem, tio?

— Tudo sim, minha querida — meu pai lhe respondeu com um sorriso no rosto. Passei por ele, depositei um beijo no alto de sua cabeça e continuei andando — Não volte muito tarde.

Apesar de ter vinte e quatro anos, meu pai sempre me tratava como a menininha dele. Eu que não seria a pessoa a discutir sobre isso. Até gostava deste lado carinhoso dele.

Voltei correndo e dei outro beijo na sua bochecha e finalmente saíi da casa, deixando-o com um sorriso no rosto.

Segui com Erica para sua casa, onde almoçaríamos. Era um dia para se passar com a família, o dia das mães, mas desde que tinha três anos de idade, passava essa data com Vera e sua filha, e era como se eu fosse da família também.

— Bom dia, tia — cumprimentei assim que ela abriu a porta.

Vera me puxou para um abraço apertado. Eu sempre me sentia como a menininha de cinco anos, que vivia em sua casa. Não tinha como me sentir com vinte e quatro anos perto dela.

— Bom dia, Kat, como você está?

— Vocês ainda insistem nisso, mesmo depois de vinte anos. Eu estou ótima como em qualquer outro dia — disse entrando na casa com Erica ao meu lado. — Aliás, Feliz Dia das Mães.

Estendi um pacote que tinha levado para ela e esperei que abrisse.

— Muito obrigada — ela disse assim que abriu o pacote e viu o quadro com uma foto de nós três em um lindo porta-retrato.

Vera era viúva há uns dez anos, morava sozinha com Erica desde então, tirando os dias que eu não ia dormir ali.

— Ah, meu pai mandou um beijo e um feliz dia para você.

Vi Vera enrubescer discretamente com o beijo mandado para ela.

— Agradeça a ele por mim.

Fomos as três para a cozinha, como mandava a tradição, para terminarmos o preparo do almoço daquele dia. Era o que eu mais amava na minha vida, estar com aquelas pessoas queridas.

Meu pai, Vera e Erica eram tudo o que eu precisava, não me faltava nada.

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora