Capítulo 8

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Gustavo

Olhei mais uma vez no relógio do meu pulso, conferindo que ela estava atrasada. Muito atrasada.

Eu estava quase me levantando para ir embora, quando um murmurinho chamou minha atenção e resolvi esperar mais alguns minutos.

Eu não era fofoqueiro, nem nada assim. Minha intenção não era bisbilhotar a vida dos outros, mas se estivesse acontecendo alguma coisa, não seria eu a deixar passar.

Eu não ficaria bem vendo uma covardia acontecer do meu lado. Então apurei meus ouvidos um pouco mais, se tudo estivesse bem e fosse uma simples briga de casal, eu iria embora sem me intrometer.

— Me solta, você não tem direito nenhum sobre mim.

— Ah, não seja difícil. Se bem que... você vai fazer isso quando estivermos casados? Eu adoraria ter que domar você.

A mulher que estava sentada de frente para o sujeito deu uma risada sarcástica.

— Não vou me casar com você. Se tinha alguma chance, perdeu todas.

Olhei para o lado quando a vi puxar a mão com força para se soltar do aperto do seu companheiro.

Neste momento eu não estava mais disfarçando, encarava os dois e a discussão como se fosse um espectador. Dependendo do rumo que seguisse, eu sabia que teria que intervir.

— Mas você não vai me dispensar assim, gata. Não perdi minha manhã à toa.

— Ah, mas eu vou sim.

A mulher levantou, pegando a bolsa e pronta para sair, mas o homem fez a mesma coisa, agarrando-a pelo braço e fazendo-a girar de encontro a ele.

Neste momento eu já fiquei em alerta, qualquer ação ou palavra dele, eu interviria.

— Você não vai a lugar nenhum assim, gatinha.

Ele passou as pontas dos dedos sobre o rosto dela, fazendo-a se encolher.

Como estávamos em um lugar mais reservado, dificilmente eles seriam escutados. A não ser por mim, que parecia estar invisível para o homem, ao contrário da mulher, que me olhou uma única vez, parecendo pedir ajudas com os olhos.

No momento em que ela pediu que ele a soltasse, e ele fez o contrário, apertando ainda mais os dedos ao redor de seu pulso, levantei arrastando a cadeira da qual estava sentando, fazendo-a ranger contra o chão.

— A moça não parece estar gostando das suas ações, parceiro — disse assim que os dois olharam para mim.

— Isso aqui não é da sua conta. Melhor se manter longe. — O sujeitinho desviou os olhos de mim, voltando a encarar a moça.

— Esta desrespeitando a mulher? É da minha conta, sim.

Não esperei que ele respondesse, ou que fizesse mais qualquer coisa, apenas o puxei pelo ombro, fazendo com que virasse de frente para mim. Com o susto do meu gesto, ele acabou soltando a moça, que se afastou com um pulo para trás.

Sem esperar por muito mais tempo, desferi um soco de direita no queixo do babaca que tombou de lado, perdendo o equilíbrio.

Esperei que se recuperasse, já que não bateria em alguém em desvantagem. Mas torci para que ele tomasse vergonha e acabasse indo embora. Mas infelizmente, para provar o valentão que era, isso não aconteceu, e ele partiu para cima de mim, socando também meu queixo.

Usei a mesa que estava para me apoiar, tomando um tempo para me recuperar, mas assim que olhei para cima, o brutamontes estava vindo ao meu encontro. Eu poderia jurar que ele estava bufando como um touro bravo, típico de playboys que não sabem respeitar o próximo e ficam doídos quando são chamados a atenção.

Só que eu agi mais rápido que ele, abaixando-me e socando seu estômago. Ele tombou em cima de uma das mesas, fazendo um barulho maior e começando a gemer de dor.

Por cima do barulho, podia ouvir a mulher que estava acompanhada dele gritando e o burburinhos dos clientes e funcionários ao redor.

Posicionei-me em ataque, esperando novamente pelo meu adversário se recuperar, mas antes que isso acontecesse, dois seguranças apareceram.

— O que está acontecendo aqui? — um deles perguntou, entrando na frente do homem que gemia de dor.

— Bom, senhor, me desculpa pelo inconveniente. Só estava defendendo a moça.

— Certo, mas infelizmente vou ter que colocar os dois para fora. Se vocês têm algum problema para resolver, façam isso de maneira educada. Mas se for para brigar, não vai ser neste estabelecimento.

Ergui os braços em rendição, começando a caminhar para a saída do restaurante. Vi quando o babaca se recusou a sair, e os seguranças tiveram que levá-lo a força por outra porta.

Segui meu caminho, saindo do restaurante e atravessando a rua. Estava com fome, e sem minha pasta com os currículos. Alem de ter perdido uma entrevista que estava marcada. Mas como a mulher estava atrasada, pediria para Taís conversar com ela novamente. Eu teria direito a uma segunda chance.

— Ei, moço, espera — ouvi uma voz atrás de mim, chamando-me.

Era impossível ser comigo, mas por puro reflexo virei o rosto e vi a mulher do restaurante me seguindo.

Franzi a sobrancelha no momento em que a reconheci e parei de andar.

— Ah, oi. Desculpa por tudo aquilo que aconteceu lá dentro.

Ela estava se desculpando pelo quê?

— Você não teve culpa — falei sério e voltei a andar.

Achei que a mulher me deixaria seguir em paz e tomaria o próprio rumo, mas ela não o fez.

— Olha, foi muita gentileza sua. De verdade.

Parei novamente no meio da calçada. Pessoas passavam por nós, desviando. Voltei os olhos para trás, e a vi andando rápido, quase saltitando para me encontrar.

Esperei pacientemente até que chegasse perto o suficiente para não precisar gritar.

— Eu apenas fiz minha parte, moça. Não precisa me agradecer.

Dei as costas para ela e continuei andando, acreditando finalmente que ela me deixaria seguir em paz. Mas eu estava esganado.

— Olha, nem todos são como você, sabia? Precisávamos de mais homens assim no mundo.

Ela provavelmente não sabia o que estava falando. Não mesmo. Não era assim, só porque uma pessoa fez uma coisa certa, que todos deveriam agir como ela em tudo, mas resolvi não falar nada.

— Como você se chama? Posso saber?

Virei novamente para ela, encarando-a. Por um momento meus olhos se prenderam aos seus. Era como se um magnetismo puxasse os meus. O contraste da cor azul dos meus, com os seus castanhos deveria ser o imã para isso.

Um vento mais forte bateu, levando seus cabelos também em um tom castanho, que combinavam com os olhos, para o seu rosto. Ela encarou meus olhos, fixamente como eu fazia com ela.

Respirei fundo, ponderando se valeria a pena gastar mais um tempo para responder ou não.

Mas afinal, meu dia já estava perdido mesmo.

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora