Capítulo 28

9.6K 1.3K 82
                                    

Katrina

Eu estava amando estar casada.

E quem diria, não é mesmo?

Gustavo e eu tínhamos uma química perfeita, e nos descobríamos melhor juntos a cada dia.

Mas naquela manhã acordei preocupada.

Estávamos completando seis meses de casados.

Era o prazo para receber a tal da herança. Durante todos os meses passados, eu não fazia questão de me lembrar ou tocar naquele assunto. Era quase como um assunto do passado. Mas era algo impossível de se passar em branco quando acordei completando meu sexto mês de casamento.

Acordei mais cedo aquela manhã, passei no quarto de Helena para conferir. Ela vinha acordando cada vez mais tarde e menos durante a noite, o que era muito bom. Passei a ponta dos dedos delicadamente por seu rosto enquanto velava seu sono, mas logo a deixei descansar em paz e fui preparar um café.

Estava inquieta naquela manhã, sem conseguir organizar meus pensamentos. Uma parte de mim queria saber o que poderia ter deixado por Joana, outra parte não queria nem ouvia mais o nome dela.

— Deu formiga na cama?

Gustavo entrou, servindo-se de café e sentou-se à mesa à minha frente.

— Estamos fazendo seis meses hoje.

Não precisei falar mais nada, ele já me entenderia, tanto que por cima da mesa ele pegou minhas mãos, fechando-as dentro das suas e me fez olhar em seus olhos.

— O que você quer fazer?

— Esse é o problema... — suspirei — eu não sei.

— Você começou isso tudo com um propósito. Nós nos conhecemos por isso. Na minha opinião, você deveria pelo menos ver o que é. Se não quiser, acharemos uma utilidade, sendo o que for.

Ele estava certo. Eu tinha feito aquilo tudo para chegar até aquele dia.

Lembrei-me do que meu pai havia dito no inicio daquilo tudo também: se eu não tive o amor da minha mãe por vinte anos, eu tinha que aceitar o que ela queria me dar depois daquele tempo todo.

— Você vai comigo?

— Claro, sempre. — Gustavo apertou minhas mãos entre as suas.

Eu sentia um conforto inexplicável perto dele, uma coragem que nem eu mesma saberia explicar.

Assim que deixamos Helena com Taís, partimos para o escritório de Raphael, que ele havia nos passado por mensagem.

O lugar não ficava muito longe e fomos depois do almoço.

Assim que chegamos e anunciamos nossos nomes, fomos encaminhados para uma sala onde Raphael já nos esperava.

— Boa tarde, Katrina. — Ele se levantou, estendendo uma mão na minha direção.

— Boa tarde, Raphael. — Aceitei seu cumprimento. — Esse é meu marido, Gustavo.

Os dois se cumprimentaram, Gustavo com a sua cara fechada que ele sempre tinha para todos que não faziam parte do seu convívio.

— Muito prazer, Gustavo. Você é um homem de sorte.

Ele não respondeu nada, apenas fez um aceno de cabeça concordando e nos sentamos.

— Como o testamento pedia, hoje estou fazendo seis meses de casada. — Coloquei uma cópia da certidão de casamento sobre sua mesa. — Quais são os próximos passos? — havia um tom de desdém na minha voz.

Raphael pegou os papéis, analisando-os.

— Parabéns para você. Então... — Ele bateu a folha na mesa, alinhando-a. — A partir de agora, sua mãe me deixou uma instrução de te passar um número.

Ele começou a procurar em uma das gavetas.

Aquilo não acabava mais?

Olhei para Gustavo com o cenho franzido e ele estava do mesmo jeito.

— Achei — Raphael quase gritou. — Aqui está. A única informação que sua mãe deixou a partir de agora, é para entrar em contato com este número.

Ele me entregou um papel. Tinha a mesma caligrafia da carta que eu havia recebido seis meses atrás, com um nome: Thiago.

— Mas e para onde isso vai me levar?

Raphael abaixou a cabeça. Algo me dizia que ele sabia mais do que estava querendo dizer.

— A partir daí, eu não sei mais.

Agradecemos por seus serviços e saímos na intenção de ligar para o tal Thiago.

Ainda dentro do carro, disquei o número e uma voz masculina atendeu.

— Por favor, gostaria de falar com Thiago.

— Sim, é ele. Quem gostaria?

— Meu nome é Katrina, fui instruída a ligar para você.

Silêncio do outro lado.

Por um momento achei que a ligação tinha caído, tirei o celular do ouvido, conferindo a tela se ainda estava em modo de chamada.

— Alô — insisti.

— Katrina Ferrer? É isso?

— Sim, eu mesma — confirmei.

— Podemos nos falar pessoalmente? Acredito que já tenha chegado o momento de você receber o que é seu.

Ok, aquilo era um avanço.

Apenas não conseguia distinguir se o tom de voz do homem era bom ou não.

Confirmei com ele que me passou o endereço e partimos ao seu encontro.

O lugar ficava um pouco distante, próximo a uma comunidade carente. Paramos o carro perto de uma escola e havia um homem esperando em um portão com as mesmas características que me foram passadas.

— Você que é o Thiago? — Gustavo tomou a dianteira por mim, cumprimentando o homem.

Ele confirmou sua identidade e aceitou os cumprimentos. Assim que cumpridasd as formalidades, seu olhar parou em mim, que estava logo atrás de Gustavo.

— E você é a famosa Katrina Ferrer.

— Katrina Ferrer. Só não famosa.

O homem abriu um sorriso com o que eu falei.

Ele parecia estar na meia idade. Quase careca. Era grande e forte. Eu provavelmente estaria com receio de me encontrar com ele se não estivesse com Gustavo ao meu lado.

— Podemos entrar para conversarmos melhor? — Thiago apontou a escola.

Olhei para Gustavo, já desconfiada.

Não sabíamos onde aquilo nos levaria novamente.

— Desculpa, mas eu vim aqui com um propósito e gostaria de resolvê-lo logo.

— Claro, eu sei disso. Mas não prefere mesmo que a conversa seja lá dentro? É sobre uma herança que quer saber, não é?

— É sim, e queria que pelo menos me falasse o que é.

— Já que prefere assim — o homem olhou de mim para Gustavo, analisando nossas expressões. — Sua mãe deixou esta escola para você.

Ele estava apontando para a grande construção que existia atrás de si.

Uma escola? Mas como... isso era possível? 

Um Marido de MentirinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora