Katrina
Uma... irmã?
Isso era possível?
Minha cabeça voltou a girar naquele momento.
— Uma... — minha voz saiu em um fio — irmã? Como assim? Que idade ela tem?
— Acho que eu posso começar a te contar a história do começo, para que você não fique muito perdida. — Tinha como eu ficar mais perdida do que já estava? — Eu sou advogado, era muito amigo da sua mãe. Quando ela recebeu a herança, me procurou para ajudá-la no sonho de ter uma escola comunitária. Ela tinha um marido muito... Como eu poderia chamá-lo? Controlador. E ela dizia para ele que a escola era um projeto meu, que ela estava aqui apenas oferecendo seus serviços.
— Ela mentiu para ele? — Gustavo perguntou.
— Foi preciso. Ele ficou sabendo da herança que ela havia recebido e... bom, queria para ele. — Thiago olhou para mim. — Sua mãe só não te procurou por isso. Ele não a deixava ir atrás de você, e ela tinha medo de entrar em contato com você escondida e as duas sofrerem as consequências.
— Ela queria ir atrás de mim? — eu estava incrédula com tudo o que estava ouvindo.
— Muito. Você era a pessoa que ela mais amava – até ter a sua irmã, que ela dizia amar igualmente. Mas o marido a ameaçava, chegava até mesmo a ameaçar você. Então ela resolveu que você estaria muito melhor com o seu pai. Mas ela sempre me pedia para ver como você estava. — Ele virou um dos porta-retratos que estavam sobre a mesa, revelando uma foto minha na formatura da faculdade, onde eu abraçava meu pai enquanto segurava o canudo com o diploma.
Fechei os olhos, deixando que as lágrimas escorressem por eles, levando toda a mágoa que eu senti por vinte anos.
Eu havia perdido uma vida ao lado dela, e isso tudo por culpa de um homem.
Senti a mão de Gustavo no meu ombro, apertando-me carinhosamente.
— Continua, por favor — pedi.
— Ela ficou grávida há um ano e meio atrás, logo no começo da descoberta da doença, e resolveu não interromper a gestação e ter a filha.
Eu tinha uma irmã... Meu Deus.
Minha ficha não cairia até eu pegá-la no colo.
— Quantos... meses ela tem? — Pelas minhas contas de cabeça, teria entre nove e dez meses, mas eu estava muito desnorteada para fazer contas.
— Hoje ela está com nove meses. É uma menina tão linda e esperta — Thiago falava com certo carinho na voz.
— E por que ela quer que adotemos a criança? O pai... — Gustavo deixou a pergunta no ar, sem coragem de completar.
Só de pensar em uma criança sofrendo nas mãos de um louco, meu coração se apertava, ainda mais sendo uma tão pequena, indefesa, e acima de tudo, minha irmã.
— Sim, o pai pode ser acusado de maus-tratos. Como a sua mãe — ele se voltou para mim — sabia que não aguentaria muito tempo por causa da doença, começou a preparar alguns documentos. Eu tenho cartas registradas e vídeos dela pedido que a pequena Laís ficasse com você. Mas depois que ela nasceu, o comportamento do marido piorou muito, ele gritava com as duas, chegou até mesmo a agredir Joana. Não a deixava cuidar da criança. E temos isso em alguns vídeos, que ela já estava juntando para que você conseguisse a guarda sem muitos problemas.
Meu Deus, a história ficava cada vez mais absurda. Como um homem poderia ter coragem de fazer isso? Uma criança e uma mãe doente.
Gustavo desceu sua mão para a minha, e eu sentia que naquele momento quem mais precisava de conforto era ele. Provavelmente estava pensando na pequena Helena. E minha mente também vagou por ela, pensando em uma bebê tão indefesa, pedindo por ajuda, e o pai negligenciando isso.
— Por isso, a exigência da sua mãe em receber a herança apenas se casando, porque seria mais fácil conseguir a guarda da Laís.
Claro, agora tudo faz sentido. E ter um tempo de casados, poderia ser ainda melhor.
Mas durante esses seis meses, o que será que ela havia passado?
— Com quem ela ficou nesse período de seis meses? — externei minha dúvida.
— Com o pai. Mas temos pessoas de olho neles. O que aconteceu, é que ele não liga muito para a criança também. Acreditamos que o que ele fazia era por ciúmes de Joana.
— Vamos buscar essa criança! — Gustavo falou, quase dando um pulo na cadeira.
Olhei para ele, que também tinha os olhos marejados de lágrimas.
— Antes de vocês saírem fazendo qualquer coisa, tenho que avisar, vocês o conhecem.
Olhei para Thiago com o cenho franzido, sem entender.
Como assim eu conhecia aquele homem? Não era possível.
— Ele é o Raphael, com quem você estava tratando da sua herança. Joana não teve muita escolha, tendo que deixar com ele o testamento.
Eu estava em choque. Aquele cara que parecia ser tão legal.
— Mas se vocês eram amigos, e você é advogado, por que não com você?
— Novamente ameaças. Raphael sabia da herança de Joana, e imaginava que ela havia deixado tudo para você, em dinheiro. Ele me procurou várias vezes querendo receber, dizendo que você não iria aceitar. Ainda bem que ele não sabia que eu estava acompanhando você.
— A carta que eu recebi de Joana... — divaguei comigo mesma, e Thiago deu um sorriso, confirmando com a cabeça. — Mas e aquela primeira, que falava que ela nunca quis ter filha.
— Nunca teve uma primeira. A única foi a que eu deixei na sua casa, logo após você se casar. Provavelmente, essa que você diz, foi Raphael quem te mandou, querendo que você desistisse de receber o que era seu por direito.
Lágrimas não paravam de descer por meu rosto.
— Vamos buscar sua irmã, Katrina. — Gustavo se levantou de um rompante, empurrando a cadeira ao fazer isso, causando um rangido do atrito com o chão.
Olhei para ele e sua mão, que estava estendida para mim e aceitei, levantando-me também.
— Fico muito feliz que você tenha escolhido a pessoa certa, Kat — Thiago me chamou pelo apelido, parecendo ter intimidade comigo.
Provavelmente ele se sentia assim por passar vinte anos conversando sobre mim com uma amiga.
— Eu escolhi o melhor — falei entre soluços.
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Um Marido de Mentirinha
Roman d'amourEu estava precisando de um emprego, mas sendo pai solteiro era algo quase impossível. Até que Katrina Ferrer apareceu, procurando por um marido de conveniência, para poder receber uma herança. Eu não queria me envolver nessa história, só que me pare...