Brincadeira do destino.

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Sarah's POV

Era meu primeiro dia na escola nova e eu não podia estar mais ansiosa. Já havia trabalhado em outras, mas nunca com adolescentes. Não me sentia exatamente uma adulta ainda, então não sabia como ia lidar com eles. Tinha medo de não ter autoridade, e servir de chacota.  Mas pra minha surpresa tudo ocorreu melhor do que eu esperava. Consegui explicar a matéria direito, sempre controlado a rapidez com que minhas palavras saiam, era uma reclamação comum dos meus alunos.

'Fala mais devagar, prof.' 'Tá falando rápido demais, tia.'

Sentia falta dos meus pequenos, mas entendia a necessidade de sair da zona de conforto.

Fiz licenciatura em matemática e agora estava começando a cursar pedagogia. Amava dar aulas, mas também pensava em subir de cargo no futuro. Talvez virar diretora. Também pensava muito em montar uma escola, meu pai havia deixado um bom dinheiro de herança e eu queria usá-lo da melhor forma. Mas ainda precisava de tempo, e agora, era o que menos eu tinha.

Algumas semanas se passaram e não demorou muito pra que eu começasse a decorar o nome e o rosto dos meus alunos novos. Tinha três turmas naquela escola, duas pela manhã e uma pela tarde. Uma turma de ensino médio, último ano pra ser mais exata. E duas de sétima série. Eles pareciam gostar de mim, do meu jeito de explicar. Tentava fazer tudo o menos complicado possível, principalmente com os mais novos. Sei como a matemática pode ser difícil e queria fazê-los gostar, ao invés de odiar, o que é mais comum.

Fazia diversas dinâmicas com eles, sofri muito na época da escola com isso, sempre me sentia excluída, mas na faculdade aprendi o quanto é necessário. Aprender com o outro também é uma forma de gostar da matéria. Mas sempre que fazia essas dinâmicas na turma do terceiro ano, percebia que a mesma aluna de sempre ficava sozinha.

Juliette Freire era o nome dela, sempre rodeada de gente em volta, sempre conversando bastante, as vezes minha paciência com ela acaba. Mas na hora de fazer atividades em dupla ou grupo, ela sempre acabava sobrando. Aquilo me incomodava um pouco. Então, nesse dia resolvi fazer diferente.

Eu seria a dupla dela.

– Você não precisa ter pena de mim não, professora.

– Pena, Juliette? De onde tirou isso?

– Só me escolheu, por que ninguém me escolhe, oxi. Acha que eu não reparei?

– Não se sente incomodada com isso?

– Eu não. Não tenho amigos aqui.

– Você deveria ser menos dura.

– E você não deveria me dizer o que fazer.

– E você deveria me respeitar, sou sua professora.

– Então para de falar e me explica esse inferno de matéria, professora.

Eu sabia que não poderia respondê-la a altura assim como sabia que teria uma longa batalha pela frente. Juliette era de temperamento difícil, fechada e arisca. Talvez por isso os outros alunos não se aprofundavam nas relações com ela.

– Você manda bem nos cálculos, por que finge que não sabe?

– Ninguém precisa saber. Pode falar que tive a pior nota.

– Juliette, para com isso. Não se auto sabote dessa forma.

– Já te falaram que sua boca é bonita? É muito bonita.

Fiquei totalmente constrangida com o comentário, um pouco confusa. Ela teria dito aquilo pra me fazer mudar de assunto, ou era verdade?

Levantei da cadeira ao lado dela e voltei pra minha mesa. Os alunos foram me entregando os trabalhos e os coloquei na pasta. Seria uma noite longa. Já estava pensando na minha taça cheia de vinho para aguentá-la.

Começar De Novo | Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora