Você não merece nada disso.

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Os dias seguintes foram do mesmo jeito, Juliette me esperava e íamos pro meu apartamento. Depois, a deixava em casa. As coisa na casa dela só tinham piorado, seu olhar ficava cada dia menos brilhante e mais preocupado. Queria que ela falasse com o pai, mas era muito orgulhosa pra isso, ele não era uma pessoa ruim, tenho certeza que se ela precisasse de ajuda, teria.

Ela não prestou atenção nenhuma na aula naquela manhã, mas eu relevei. Sei que algo não estava bem e não iria pressioná-la a me contar, nossa relação não era assim. Era leve. Tinha um gosto que eu nunca antes havia provado e para mim, estava tudo perfeito. Meu coração estava em paz, eu não tinha receio de nada, apenas de nos descobrirem, mas como Juliette já havia dito: somos adultas. Se eu precisasse trocar de escola, trocaria. Faria qualquer coisa por ela.

Tirei foto da matéria e mandei pro celular de Juliette, ela estava distante, apenas rabiscando algo no caderno, não tinha dito sequer uma palavra, nem pra mim e nem para os colegas. Logo ela, que não calava a boca um segundo. Todos estavam estranhando, mas era mais curiosidade do que preocupação. Apenas Thaís, a menina bonita de franjinha quase nos olhos, parecia realmente se preocupar com ela. Antes de sair falou que ela podia ligar se precisasse de algo, e ela deu um sorriso desviando o olhar pra mim logo em seguida.

– Você está bem? - perguntei já sabendo da resposta e ela desabou.

A abracei e não falei mais nada, queria apenas que ela se sentisse confortada. Ficamos ali na sala por um tempo, mas logo meu celular tocou, era hora do almoço.

– Quer almoçar comigo? Vou em um restaurante aqui perto.

– Sozinha?

– Com a minha mãe.

– Quer me apresentar pra sua mãe? - ela me encarou sem piscar.

– Não, Ju. Só não quero que você fique sozinha. Ela sabe da gente, mas não precisa saber que você é você. - ela sorriu e negou com a cabeça.

Fomos encontrar minha mãe e como prometido, falei que ela era apenas minha amiga. Juliette e minha mãe conversaram muito, sobre muitos assuntos, ela só não falou que era minha aluna, minha mãe sacaria na hora que era ela a morena misteriosa.

O almoço terminou, deixei minha mãe em casa e fomos para o meu apartamento. A mesma rotina dos outros dias, mas hoje estava diferente. Juliette estava distante, estava triste, visivelmente abatida. Ela deitou no sofá e ficou. Troquei de roupa e me juntei a ela, trazendo-a para meu colo.  Senti as lágrimas molhando minhas pernas e a abracei mais forte.

– O que você tem, bebê? Estou preocupada. Você não é assim.

– Eu não quero falar sobre isso. Tudo bem? Só quero ficar quietinha aqui, com você.

E assim ficamos, um silêncio confortável. Coloquei um filme para assistir e ela acabou dormindo ali no meu colo. Seu celular não parava de tocar, mas ela continuava dormindo.

– Ju... Ju acorda. Seu celular. É sua mãe. - ela se assustou com o meu toque e sentou no sofá.

– Eu apaguei. Nossa, desculpe.

– Tudo bem. Atende...

– Não vou atender, Sarah. Não é minha mãe, é o marido dela.

– E qual o problema? O que ele fez? Ele te machucou, é isso?

– Eu vou pra casa. - ela levantou e eu também, segurei o braço dela e fiz ela me encarar.

– Não vai até me dizer o que está acontecendo com você. - ela sentou novamente, colocou as mãos na cabeça e encarou o chão.

Começar De Novo | Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora