Você é forte.

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Esse capítulo é triste. 💔




Juliette's POV

– Sim. É a minha família.

– São lindos.

Família. Ouvir Sarah me perguntando se aquela era minha família, fez meu coração se partir em milhões de pedacinhos. Minha vida mudou totalmente depois que conheci Marina, nos tornamos primeiramente amigas, muito amigas e eu negava a mim todos os dias que meu sentimento por ela ia além da amizade. Mas ela não desistiu de mim, não desistiu de abrir os meus olhos para aquele sentimento que se tornaria a luz da minha vida naquele momento.

Depois que fui embora, que deixei para trás minha vida e minha relação com Sarah, eu me vi de um jeito que nunca tinha visto antes. Não conseguia fazer minhas coisas, não conseguia viver direito, só pensando em tudo o que tinha feito. Não foi por mal, foi por medo. Tinha medo de meu padrasto acabar nos encontrando e o pior acontecer.

Me vi obrigada a continuar, precisei arrumar um emprego e logo comecei a faculdade, onde conheci Marina e Viviane. Viviane era parceira de festas, bebedeiras e várias noitadas quando tínhamos tempo. Mas logo depois isso se tornou um pouco cansativo para mim e a vida que Marina levava me pareceu mais interessante. Ela era tranquila, gostava mais de ficar em casa e acabamos ficando muito mais próximas desde então. Minha mãe e ela também tinham uma relação ótima.

Começamos a namorar no outono e antes do próximo verão já estávamos morando juntas, logo que minha mãe voltou para o Brasil ela se mudou para minha casa, casamos e um ano depois tivemos nosso filho, Nicolas. Ruivinho igual Marina, nossa família estava completa. Pretendíamos ter mais filhos e quando Nick completou quatro anos resolvemos que era a hora. Procuramos a mesma clínica onde ela fez a inseminação e eu fiz o procedimento.

Um mês depois fiz o teste e lá estavam as duas listinhas, positivo. Fiquei nervosa demais, mas feliz, estava tudo dando certo. No quarto mês começamos o enxoval do bebê, combinamos de descobrir o sexo só na hora do parto assim como fizemos com Nick. Mas eu já tinha os nomes na minha cabeça. Se fosse menino seria Noah e se fosse menina seria Lana. 

– Estou apaixonada por essas roupinhas, olha isso! - Marina falava empolgada enquanto andávamos pelo shopping. Fazia muito frio.

– Eu quero levar tudo. Amor, será que é muito cedo? Estou sentindo o bebê mexendo.

Ela colocou a mão na minha barriga, mas não sentiu nada. Acho que era minha cabeça que estava esperando tanto por aquele momento e acabou antecipando a sensação. Eu estava amando cada coisinha que aquele ser dentro de mim estava me fazendo sentir ao mesmo tempo em que cada coisa diferente que eu sentia, tinha vontade de ligar pro médico na mesma hora para saber se tudo estava bem.

– Eu acho que você está ansiosa, meu amor. Amanhã nós vamos ver o bebê, deve ser por isso.

– Eu posso ir junto? - o pequeno que segurava minha mão perguntou curioso.

– Mas é claro que você pode. - baixei para pegá-lo no colo já sentindo minhas costas doerem.

– Melhor você deixar esse carinha comigo, não acha!?

– Sim, minhas costas doem.

– É apenas o começo, bebê.

O dia seguinte chegou rápido, meu pai ligou logo cedo para saber como estavam as coisas e eu contei que iríamos naquela manhã ver se tudo estava bem com o bebê. Ele parecia empolgado em ser avô outra vez, era completamente apaixonado por Nick, assim como minha mãe, que só tinha o visto pessoalmente uma vez, mas todos os dias se viam por vídeo. Thaís também estava nessa lista de apaixonados pelo meu filho, ela era madrinha dele e duas vezes por ano vinha nos visitar.

– Tem muita neve, mamãe. Olha. - Nick estava feliz, ele amava o frio e a neve, definitivamente o meu oposto, era a pior época do ano para mim. Mas não podia negar que era lindo.

– Está lindo, vamos fazer um boneco de neve quando a gente voltar? - ele concordou sorrindo.

– Ai, essas minhas crianças.

Entramos no carro, Marina estava dirigindo e Nicolas na cadeirinha no banco de trás. Ela arrumou o cinto dele e logo entrou de volta, ligando o ar condicionado quente. A estrada estava inteira coberta por uma fina camada de gelo, o que fazia o carro deslizar com facilidade, mesmo ela andando em baixa velocidade. De repente senti um impacto e o carro ficou descontrolado, só parando quando bateu em um árvore. Alguém tinha nos batido.

Eu consegui ouvir os gritos de Marina nos primeiros segundos mas logo minha mente se tornou um borrão e eu apaguei acordando apenas quando já estava no hospital. Lembro de chorar bastante e perguntar muito sobre meu filho e Marina. O tempo todo, até ser apagada novamente por um calmante ou algum outro remédio. 

A dor no meu corpo era intensa e parecia não ter fim, mas tudo pareceu adormecer depois que eu recebi a pior notícia da minha vida. Minha esposa e meu filho não haviam resistido aos ferimentos. Eu gritei, chorei, pedi que aquilo fosse mentira, um engano... Mas não era. Eu havia perdido minha família e meu bebê estava em sofrimento devido ao impacto e estresse que meu corpo se encontrava. Tudo começou a parecer tão injusto. Por que comigo? O que eu fiz de errado? Os dias seguintes passei a base de calmante, por que quando acordava, só conseguia chorar e gritar.

Meu pai pegou o primeiro voo até Nova York assim que recebeu a notícia, minha mãe ficou em choque e não conseguiu viajar com ele, ele veio sozinho e deu conta de organizar tudo. Ele foi até meu quarto e eu desabei mais uma vez quando olhei para ele. Nunca tinha o visto chorar e ele estava desmoronando bem na minha frente. Me pedia desculpa e dizia que não devia estar chorando, que deveria estar me dando força, mas eu não poderia culpar ele por sentir.

Perdi o meu bebê no dia seguinte a chegada dele e mais uma vez senti o mundo sumindo debaixo dos meus pés. Dali em diante foram dias e noites de dor constante, me senti impotente, me sentia culpada mesmo sabendo que não tinha culpa de nada. Meu pai ficou o tempo todo do meu lado, acho que se não fosse ele eu não teria suportado metade do que suportei.

Sai do hospital e minha ficha caiu, eu não teria mais ninguém me chamando de 'mamãe', não teria mais ninguém invadindo minha cama de noite depois de um pesado e pedindo para contar alguma historinha divertida, eu não teria mais filho, e nem Marina. Não teria mais a mulher com quem tinha dividido minha vida, meus planos e sonhos nos últimos anos. Senti um vazio, uma dor sem explicação e precisei de remédio para dormir.

Sarah's POV

Juliette começou a me contar sua história e eu senti meu coração apertando a cada parte dela, jamais havia se passado pela minha cabeça que ela tinha sofrido aquilo tudo, não pude conter as lágrimas e me odiei por aquilo, mas não consegui parar de pensar nos meus filhos e em toda dor que ela devia ter sentido, ainda podia ver nos olhos dela quanta dor ela sentia. Ela sorriu triste e pegou o porta retrato acariciando os rostos ali.

– Eu precisei sair de lá por que não estava aguentando mais. Vir pro Brasil foi um escape pra minha dor.

– Eu sinto muito, Juliette. Muito mesmo. Você não merecia nada disso.

– Você me disse isso uma vez... Desculpa jogar tudo isso em cima de você.

– Não se desculpe. Você é forte, sabia? Você é muito forte.

– Eu não sei onde eu encontrei essa força, sabe? Só sei que um dia eu levantei e decidi que eu precisava seguir em frente. Meu pai estava vivendo pra cuidar de mim e eu não podia fazer isso com ele também. Mesmo sabendo que meu  coração nunca vai estar completo outra vez.

Conseguia entender completamente aquele sentimento dela, não conseguia imaginar minha vida sem meus pequenos e de repente comecei a pensar em Carla. Percebi que aquele amor que Juliette descreveu sentir por Marina, foi algo que nunca senti pela minha esposa. Senti culpa, senti que estava enganando a mim e a ela, e era a hora de dar um fim naquilo.

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