Começar De Novo | Sariette

Nós somos algo que ele não consegue ver.

'Oi professora, estou sentindo sua falta aqui.'

Acordei dez horas da manhã, com o celular vibrando e uma mensagem de Juliette.

'Como conseguiu meu número?'

'Peguei no grupo da turma. Foto linda.'

'A sua também.'

Tentei parecer o mais profissional possível, sabia que podia dar ruim se alguém descobrisse que estava tendo esse tipo de intimidade com uma aluna. Vez ou outra, alguém me chamava pra tirar alguma dúvida, mas não passava disso. Ela me chamou por chamar, sem dúvidas sobre nada.

E ficamos assim, nos dias que se passaram, fora do horário de aula, trocando mensagens, era como se tivéssemos assuntos infinitos. Me peguei contando pra ela coisas inúteis do meu dia a dia. Ela fazia o mesmo. Só sumia quando chegava a noite, mas era algo que eu não queria saber o motivo.

Estava no caminho da escola quando começou a chover, forte demais e eu totalmente desprevenida. Desci do carro e quase escorreguei no tanto de água que tinha no portão da escola. Fiquei inteiramente molhada.

– Você não conhece guarda-chuva não?

– E você podia me ajudar ao invés de ficar fazendo piada.

Juliette estava parada embaixo da aba do pátio, pegou minha bolsa e depois minha mão me ajudando a pular uma poça d'água.

– Vai acabar se resfriando. Não trouxe outra roupa?

– Não pensei que a chuva ficaria forte assim. - falei tentando tirar um pouco da água da minha roupa, sem sucesso.

– Então, tenho uma notícia não muito boa pra você.

– Fale.

– Seremos só nós duas na aula hoje.

– Sério? Mais ninguém?

– Sério. Acho que o pessoal ficou com medo.

– E você, veio porque?

– Por que eu queria ver você.

Um silêncio esmagador pairou em nós duas, eu queria falar alguma coisa, mas era como se tivesse esquecido de como fazer. Fiz o caminho até a sala de aula e ela me seguiu. Deixei minhas coisas na mesa e ela se sentou.

– Vou até a sala da diretora e já volto.

Fui atrás de uma solução pras minhas roupas molhadas. Marcela estava tendo uma discussão feia com Rodolffo, resolvi não atrapalhar. Mas quando estava dando meia volta, a porta se abriu.

– De-desculpa, eu não queria atrapalhar.

– O que houve com você? Vai pegar um resfriado. - ela pegou o casaco e colocou em cima dos meus ombros. Rodolffo observava a cena, um pouco intrigado.

– Acho que ela é bem grandinha. - esboçou um sorriso. – Como vai, Sarah?

– Bem, e você? Quanto tempo, não? - conhecia ele de alguns jantares que eles davam em casa e Marcela sempre me chamava.

– Bastante tempo, eu diria. Diga, Juliette tem dado trabalho? - engoli em seco assim que ouvi o nome dela.

– Ela é um pouco difícil, mas nada impossível.

– A gente não tem se falado, sabe? - sim, eu sabia, ela tinha me contato praticamente a vida toda. – Faz mais ou menos um mês.

– Isso é uma pena, Rodolffo. Preciso voltar. Obrigada pelo casaco, diretora. Depois te devolvo.