Capítulo Dezessete;

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Park Jimin

Eu literalmente acabei de perder a única família que tinha, o único abraço de afeto, amor e carinho familiar. Acabei de perder a minha avó que sempre foi a minha mãe, que sempre me apoiou e me deu bronca quando necessário. Estava sentindo um enorme vazio no peito, este vazio eu sabia que jamais sairia, que para sempre estaria me acompanhando.

E o simples fato de não poder mais ver o sorriso da minha querida avó, de não sentir seu abraço, de não poder ter seu consolo e suas preciosas palavras. Seu bolo de chocolate, que era único. Sem perceber as lágrimas já tinham se intensificado, aquela sensação de vazio ficou ainda maior, meu corpo parecia estar pesado, e aquela dor, não era comparável com nenhuma outra, eu estava completamente desolado. Um soluço acabou por escapar entre meus lábios, meu corpo agiu de forma livre, quando percebi já estava agachado no meio daquele corredor branco e solitário.

— Jimin? — a voz de Yoongi ecoou, para mim ela parecia tão longe, mas eu sabia que ele estava ali, bem do meu lado.

Não conseguia sentir que tinha alguém comigo, que tinha um abraço, ou melhor dois abraços que iriam me acolher neste momento extremamente difícil para mim, aquilo era informação demais para poder assimilar. Abracei meu próprio corpo, sei que queria gritar o mais alto que pudesse, mas sei também que minha voz não saia, e minha força era a menor possível naquele momento.

— Estamos aqui. — escutei o mais velho dizer e sua mão tocar meu ombro. — E não vamos te deixar, eu prometo. Me escuta, hum? Vamos para casa. — ele voltou a dizer.

Aquela não era minha casa, não era meu lar, por mais que ele dissesse aquilo de coração, eu não podia ver aquela mansão como meu verdadeiro lar, como meu cantinho. Como eu poderia simplesmente deixar todas as minhas memórias, todas as minhas lembranças para trás? Como eu poderia deixar minha vó para trás?

"Por que você me deixou para trás, vovó? Por que não ficou ao meu lado, me viu crescer uns centímetros a mais? Ou por que não esperou para me ver com um diploma em mãos, eu já estou quase lá...por favor, volta?"

Mesmo pedindo de todo o meu coração, sei que este é o único pedido que uma estrela cadente ou o papai noel não poderiam atender, por mais que eu pedisse com muita fé, ela nunca vai voltar, eu nunca mais sentirei seu abraço ou ouvirei sua voz novamente.

***

Me aproximei da minha avó, que estava cortando umas vagens de feijão verde, ela estava fazendo isso enquanto assistia um de seus doramas preferidos. E fiquei extremamente curioso e preocupado ao perceber que ela estava chorando.

— Vovó? O que está acontecendo? Por que está chorando? — me sentei ao lado dela. — Vovó?

— Aish, fique quieto, vai estragar a magia da cena. — reclamou, sem nem mesmo me olhar. — Estou assistindo, não está vendo? — ela indagou, ainda me ignorando.

Faço um biquinho manhoso e deito minha cabeça em seu ombro, queria um pouquinho da sua atenção, mas sabia muito bem que entre eu e o dorama, ela iria preferir o dorama. Reviro os olhos e continuo quietinho ali, e logo entendo o motivo dela estar chorando. Um dos personagens favoritos dela, acabou de morrer.

— Agora eu posso conversar. — ela disse, desligou a tv e me olhou, tudo isso porque o drama acabou.

— Me sinto trocado. — reclamei. — Mas, vovó, por que chorar tão intensamente por isso? —antes dela me responder me dar um tapa forte no ombro.

— Eu não te criei bem. — ela disse dramática. —É uma vida, mesmo que seja algo feito, encenado, ainda sim, é uma vida... —enfatizou. —E ver algo assim me faz lembrar de que todos vamos partir um dia.

— Você tem medo da morte, vovó? — perguntei, e voltei a deitar minha cabeça em seu ombro, sentindo o movimento dela ao mexer com os feijões.

— Eu não. — ela respondeu simples. — Se eu não morrer nunca vou rever meu grande amor. — ela murmurou. — Por isso não tenho medo da morte, e sim medo de não morrer. Todos temos alguém que brilha lá em cima por nós...sabe?

— Eu tenho a mamãe e o papai...mas ainda tenho medo de morrer, e de você morrer, eu não quero te perder.

— Querido. — ela suspirou. — Somos feitos de momentos, quando os momentos acabam...a gente se vai, e não pense nela como "a morte". Todos nós somos uma brisa, e brisas são passageiras, e nem sempre a morte é dolorosa, querido. — ela murmura.

Não estava conseguindo entender nada do que ela estava dizendo, talvez eu ainda seja novo demais para essas palavras tão complexas.

— Você é burrinho. — riu. — Quero dizer, que como eu, tem pessoas que querem chegar logo a este momento...algumas é por dor, e algumas é para rever alguém que se foi antes, que quebrou uma promessa...e nós deixou para trás.

— Como o vovô? — indaguei, e vi ela sorrir.

— Sim, ele me prometeu que iríamos morrer juntos, bem velhinhos... aquele velho mentiroso foi antes. Irei dar uma boa bronca nele.

***

"Vovô...por favor...dê bons puxões de orelha nela também...ela prometeu que veria os bisnetos, e ela não vai mais estar aqui quando acontecer"

Forcei meu corpo a me obedecer, e ele só é "religado" quando os bracinhos pequenos de Yon circulam o meu corpo, me trazendo de volta a realidade. Senti um consolo por parte dela, suspirou baixinho e devolvo o abraço bem forte.

— Obrigado.

— Não chora, Jimin-opppa, eu fico triste quando te vejo assim. — a pequena ômega diz quase como um sussurro.

Me levanto, e seguro ela em meus braços, ainda sentindo seu abraço. Me surpreendo quando Yoongi se aproxima novamente de mim e me abraça com muita força.

— Eu prometi a sua vó que eu cuidaria muito bem de você, e irei cumprir minha promessa. Como sempre cumpri, não irei voltar atrás com minha palavra. — ele disse, e eu confirmei. — Eu irei cuidar de todo o enterro. Não quer mesmo um velório?

— Como eu já disse. Não, por favor, eu não quero um velório...obrigado, Yoongi. — falei baixinho.

Min se afastou um pouquinho mais de mim, e sorriu de forma simples. Meu coração se aqueceu ainda mais assim que vi aquele sorriso tão sincero, acho que nunca tinha visto um sorriso assim surgir em sua face. Suspiro baixinho. Com todas essas coisas que aconteceram, não consegui nem ao menos pensar sobre a marca que ele fez, mas percebendo como ele está, já sei que não tem nem consciência disso. E mesmo que tivesse, não é algo que eu queira conversar sobre, pelo menos, não agora.

— Eu vou...vou para casa da minha avó hoje... — coloquei Yon no chão. — Eu quero passar um tempinho lá.

— Sim, tudo bem...mas leve Yon com você. Não é bom que fique sozinho, ok? — ele pediu.

— Tudo bem. — murmurei baixinho. — Eu vou levar ela.

Me afastei dos dois e fui pegar minha bolsa que estava ali na cadeira do corredor. Meu coração começou a bater ainda mais forte, minha visão ficou extremamente turva, meu corpo todo amoleceu, e tudo virou apenas um escuro, escutei as vozes distantes de Yon e Yoongi, mas nem mesmo consegui respondê-los, apaguei.

The Truth Untold (YoonMin-ABO)Onde histórias criam vida. Descubra agora