Capítulo 4

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Helena

— Helena!

Suspiro de frustração quando reconheço a voz do Irwing. Tento esquecer o que acabou de acontecer no quarto do babaca do Alex e, antes de me virar, inspiro fundo para acalmar as batidas erráticas do meu coração idiota, que não consegue esquecer o tormento dos seus olhos em nenhum maldito minuto do meu dia.

Colo um sorriso falso no rosto e viro-me para encará-lo.

— Oi, Irwing.

Ele coloca as mãos no jaleco e sorri incerto. Nosso último encontro no estacionamento do hospital foi um tanto constrangedor. Ele tentou forçar uma aproximação, e eu fui um tanto ríspida.

Ele ergue as mãos como se estivesse se rendendo, e diz com o mesmo sorriso incerto:

— Por favor, só quero conversar.

É a minha vez de colocar as mãos nos bolsos do meu jaleco.

— Não temos o que conversar, Irwing. Acho que já tivemos essa conversa várias e várias vezes.

— Porra, Helena, será que sair para tomar um café é algo que um colega de trabalho não merece?

— Nós dois sabemos que já tomamos esse café várias vezes. E que não é isso que você quer. Da última vez tive que te mostrar, já que se negou a ouvir, Irwing.

Ele suspira pesadamente e parece arrependido.

— Eu fui um babaca. Estava acordado há mais de trinta e seis horas, e... — ele me encara e murmura — desculpa. Sei que isso não é justificativa para o que eu fiz. — Passa as mãos nos cabelos. — Não precisamos deixar um clima ruim entre nós, Helena. Somos colegas de trabalho.

Estou cansada. Não tenho dormido bem e nas duas últimas semanas, algo está tirando minha concentração. Algo não, alguém. Eu não consigo entender o que está acontecendo. Já tive dezenas de homens bonitos em tratamento comigo, e nunca me senti estranha e incomodada em tocá-los. Mas algo na vulnerabilidade que o Alex tenta de forma desesperada esconder, mexe com algo enterrado profundamente dentro de mim. É como se nos conhecêssemos em um outro momento e, finalmente, estamos nos reencontrando. Ridículo, eu sei.

Os dedos de Irwing estalam diante dos meus olhos para chamar minha atenção.

— Ei, Helena. Acorda. Estou falando com você.

É isso que detesto nesse homem. A sua profunda arrogância. Por ser um cara bonito e bem-sucedido, o Irwing acha que toda mulher deve ser grata a cada sorriso que ele deixa escapar.

— Desculpa, Irwing. Eu realmente estou supercansada. — Encaro-o. — Não tem nenhum clima estranho. Acho que o que aconteceu no estacionamento deixou claro o meu posicionamento, e tenho certeza de que um cara inteligente como você compreendeu o que quis dizer.

Seu sorriso é incerto mais uma vez quando estende a mão.

— Amigos novamente?

Inspiro fundo e forço um sorriso segurando a sua mão e respondendo:

— Nunca achei que não fôssemos.

Ele segura minha mão e dá um passo mais adiante, colocando a outra mão por cima da minha.

— Então, nosso café está de pé, doutora?

"Que cara insistente!", penso. No entanto, respondo educada:

— Ok, Irwing, podemos marcar.

Ele sorri vitorioso, e eu simplesmente me arrependo de imediato por ter aceitado. Antes que eu abra a boca para responder, ele diz se afastando:

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