Alex
Olho para o teto do quarto e tento desesperadamente não pensar que, apenas a uma porta de distância, Helena dorme pacificamente enquanto eu estou sendo consumido pelo desejo de tomá-la em meus braços.
Quando voltei com a mala, ela estava neste quarto, colocando as toalhas limpas em cima da cama. Sua expressão era sonhadora, e desejei ardentemente poder ler seus pensamentos naquele instante.
Quando se deu conta de que eu estava parado na porta, seu rosto ruborizou, o que é algo constante nela e que me deixa enlouquecido por querer descobrir as razões para que sua pele se incendeie sem aviso.
Entrei no quarto e coloquei a mala ao lado da enorme cama e, sem saber bem o que dizer, fiz um comentário idiota:
— Assim você vai me acostumar mal, e não vou querer sair mais daqui.
Ela trocou o peso de um pé para o outro, inspirou fundo e disse:
— Sim, você vai. — Mordeu o lábio. — Não sou uma pessoa tão fácil de se conviver. Vai perceber isso em breve.
Cruzei os braços em frente ao peito e retruquei:
— Quer dizer que existe a possibilidade de que — apontei o indicador entre nós dois e continuei — nós dois possamos dividir o mesmo teto?
E, então, a velha Helena deu as caras. Ela ficou ereta.
— Temos uma filha. Será inevitável isso acontecer. — Passando por mim em direção a porta, diz por sobre o ombro: — Se precisar de alguma coisa, é só falar. Boa noite, Alex.
E agora estou aqui, sem conseguir dormir, repassando o quão incrível foi meu dia com a Aisha, e como conseguirei ir embora. Isso sem falar na vontade que me consome de abraçar a Helena.
Parece algo pequeno – um abraço –, mas, para mim, que passei todos os meses em que nos conhecemos sentado sem poder ficar de pé e aconchegá-la em meus braços, sinto como se isso fosse algo vital. Aconchegar sua cabeça em meu peito, enlaçá-la com meus braços e sentir os seus braços em volta da minha cintura.
Durante meses depois que fui embora me martirizei por não ter tido a oportunidade de fazer isso. Eu podia ficar de pé, mas sempre com a ajuda de uma muleta ou da própria Helena, e não era isso que queria. Queria caminhar até ela, sem apoio ou ajuda, e puxá-la para dentro dos meus braços. E hoje, quando a vi aqui no quarto perdida em pensamentos, foi torturante não fazer isso.
Solto um suspiro e coloco o braço em cima dos olhos. Preciso tirar Helena da cabeça. Não foi para nos relacionarmos que ela me deixou ficar aqui. Foi pela Aisha e quanto antes eu entender isso, melhor.
As horas se arrastam e devo ter finalmente adormecido quando ouço um choro baixinho. Desorientado, sem saber ao certo onde estou, sento-me.
Olho para os lados e me dou conta de que o choro vem do quarto de Aisha. Sem nem mesmo pensar em nada, saio vestindo apenas a cueca boxer em direção ao quarto dela. A porta está entreaberta, caminho resoluto até o berço e olho para dentro. Seus olhinhos azuis estão úmidos, e ela morde a mãozinha. Inclino-me e a retiro do berço.
— Shhh, meu amorzinho, papai está aqui — dizer isso em voz alta faz com que uma emoção poderosa me tome de assalto. Sinto a garganta travar, e meus próprios olhos encherem-se de água. Minha filha. Essa criatura linda é minha filha. Aconchegando-a e tentando acalmá-la, murmuro palavras baixinho e ela, aos poucos, vai se acalmando.
De costas, não vejo quando Helena entra no quarto. Seu cheiro, no entanto, me avisa da sua presença. Viro-me e o que vejo faz meu coração retumbar no meu peito como um tambor ensandecido.
Vestindo uma camiseta, e mais nada, com os cabelos soltos e o rosto cansado, ela me olha com intensidade.
É como se ela realmente se desse conta da minha presença. Como se me ver parado, no meio da noite com Aisha nos braços, girasse uma chave na cabeça dela.
Seu olhar suaviza, e uma ternura invade seus olhos.
Aisha volta a reclamar e seu choramingo, quebra os segundos onde ficamos presos um nos olhos do outro.
Ela se apressa e estende os braços, eu a entrego.
— Oi, docinho, está com fome? — ela murmura e Aisha para e presta atenção a sua voz — Ou quer apenas terminar a noite lá no meu quarto, hein?
É impossível não me sentir profundamente atraído por essa mulher. Ela é a coisa mais linda onde já pus meus olhos, e com toda essa doçura na voz e no rosto torna-se irresistível.
Ela ergue a cabeça e me encara.
— Ela costuma acordar e me pedir para ir para a minha cama — explica. Parece não saber para onde olhar, e eu tento não me mover para não assustá-la. — Mas acho que também deve estar com fome. Vou preparar uma mamadeira para ela.
— Posso ficar com ela enquanto isso? — me ofereço.
Ela morde o lábio e o rubor volta quando diz:
— Claro. Te espero na cozinha. Acho que seria bom você se vestir.
Sorrio um tanto constrangido. Baixo a cabeça e coço o pescoço.
— Me perdoa, Helena. Foi o hábito de dormir assim. Não acontecerá novamente.
— Não se preocupe. Você pode dormir como desejar.
E com isso ela sai me deixando com o coração acelerado como o de um adolescente. Volto para o meu quarto, visto uma calça de moletom e saio em direção à cozinha para encontrar minhas duas garotas.
O pensamento me faz balançar a cabeça. "Não são minhas duas garotas. Apenas uma", repito para mim mesmo, para convencer meu cérebro e meu corpo disso.
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RomanceOi gente! Este é meu novo trabalho completamente inédito! Dessa vez, pretendo viver a experiência do Wattpad e vou contar com a ajuda e apoio de vocês já que sou novata por aqui! hahaha . Vamos aos detalhes? ESTE LIVRO É UM SPIN-OFF DO LIVRO SEREIA...