AO SEU ALCANCE

Capítulo 10

Helena

Olho para a sala cheia de pessoas desconhecidas, mas que me fizeram, de alguma forma, me sentir acolhida como há muito tempo não me sentia. Talvez seja a espontaneidade do Benito, que praticamente me obrigou a participar. Essa recepção que a mãe do Alex organizou para ele como uma grande surpresa de boas-vindas me mostrou o quanto que ele é amado. Essas pessoas vieram do Rio de Janeiro para que ele entendesse que não está só. Que tem amigos e é muito amado por eles.

Quando o Benito bateu a minha porta mais cedo para me acompanhar até a casa do Alex, eu tentei de todas as formas declinar o convite feito pela Ana. Mas sei que seria grosseiro de minha parte, já que moro ao lado. Pensei que me sentiria desconfortável, já que minha habilidade social é praticamente zero, mas ao tocar a campainha e ser recebida pela Sarah, a moça simpática e sorridente que me olhou e disse-me que acreditava que éramos parentes distantes – algo totalmente irreal, claro –, eu fui recebida e acolhida por essas pessoas, que nem mesmo me conhecem, com gratidão simplesmente porque fiz parte do processo de recuperação do Alex. Um cara que, segundo eles, merece todo apoio e amor do mundo, porque é do bem.

E aqui estou. Tentando fugir dos olhares discretos que ele me lança disfarçadamente. Sei que está exausto, e que precisará se deitar em breve, e sinto muita, muita vontade de dizer isso a ele, mas preciso me lembrar de que não sou mais a sua fisioterapeuta.

Depois que o jantar é servido em um clima muito descontraído, Malcon se inclina e diz algo para ele, que assente.

— Pessoal, como sabem estou convalescendo como um velhinho indefeso, então preciso me recolher — diz, tentando usar o humor para disfarçar seu desconforto —, mas fiquem à vontade para beber o vinho delicioso que minha mãe escolheu para essa noite. — Inspira fundo. — Jamais poderei ser grato o suficiente por ter amigos como vocês. Vocês são fodas e eu...

Mais uma vez, a loira de olhos verdes e impactantes chamada Sarah o interrompe e diz:

— Nós sabemos que somos o máximo, Alex. Relaxa! — Se inclina e beija a lateral do seu rosto. — Vai descansar que foram muitas emoções. Já estamos saindo. Vamos ajudar a Ana na bagunça e caímos fora. — Ele sorri.

O moreno bonito e sério, que se chama Léo, se aproxima e diz:

— Estamos felizes que está em casa, Alex. E estamos aqui para deixar claro que nada vai nos afastar de você. — Ele aperta o ombro do amigo em um gesto solidário. — Conte conosco. Respeitamos seu espaço como pediu, mas agora não se livrará mais de nós. Vamos ficar o final de semana todo, e amanhã passamos aqui para te atualizar das novidades.

O outro moreno sorridente, que se chama Bruno, faz uma carta engraçada quando diz:

— O Léo trouxe uma pilha de trabalho pra você cara. Se prepara. — E pisca.

Então, ele se despede com mais algumas palavras do Benito e me olha. E é um olhar tão íntimo, que sinto meus pelos se arrepiarem.

— Obrigado por vir, Doutora — ele diz.

Dou de ombros e forço um sorriso.

— Somos vizinhos de porta, caso ainda não saiba.

O olhar confuso dele corre de mim para a sua mãe.

— Vizinhos?

Assinto.

Com um sorriso enorme, Ana explica:

— Eu te contei que o apartamento foi uma indicação da Helena, Alex. Não lembra?

— Sim, mas não sabia que ela morava aqui ao lado — responde muito surpreso.

Todos na sala nos olham.

— Pois é, moro. — Enfio os dedos no bolso do jeans. — Primeira porta à esquerda, para ser mais exata.

E então seu sorriso é grande. Muito grande. Tão grande, que me faz enrubescer.

— Que bom — murmura. — Boa noite, Doutora.

— Helena, me chame de Helena. Boa noite, Alex.

Seus olhos ainda continuam nos meus, quando Malcon empurra sua cadeira para o quarto seguido pela sua mãe. Sinto uma vontade muito grande de acompanhá-los para ajudar a acomodá-lo, mas sei que isso seria totalmente inadequado e desnecessário, então Benito, que está em uma conversa animada com o Bruno, se despede de todos e se aproxima dizendo:

— Pessoal, foi um prazer conhecê-los. Tenho certeza de que a presença de vocês ajudará muito nosso amigo nesse primeiro momento. — Coloca o braço sobre meus ombros e conclui com um sorriso: — Agora vou acompanhar a senhorita até o seu apartamento, que amanhã eu estou de folga, mas ela não. Digam à Ana que deixei um abraço, por favor.

— Foi um prazer conhecê-los — reforço. — O Benito tem razão, a presença de vocês será muito importante para essa nova etapa.

Sarah sorri provocante e diz:

— Ficamos muito mais tranquilos sabendo que o Alex tem uma amiga ao alcance das mãos.

A morena, que se chama Belle, revira os olhos para ela e diz:

— Não dê ouvidos a ela, Helena. A Sarah é sem-noção mesmo. — Sorri. — Foi ótimo conhecê-la também.

Assinto e saio do apartamento dele com a sensação de que seria muito bom ter amigos assim e estou muito feliz em saber que, apesar de tudo que está acontecendo com o Alex, ele não está sozinho.

Despeço-me do Benito e entro no meu apartamento silencioso. Muito tempo depois, ainda estou me revirando na cama sem conseguir dormir, e o dia já está quase amanhecendo quando finalmente adormeço para encontrar nos meus sonhos um par de olhos azuis e muito intensos, que aquece meu corpo como há muito tempo não acontecia.