Capítulo 12

126 15 17
                                    



Quase dois anos depois...

Alex

Tento me concentrar no trabalho, mas falho. Solto um profundo suspiro, e me recosto na cadeira.

Pego mais uma vez o celular, e volto para as imagens que tem tirado meu sono há alguns dias.

É a festa de aniversário do Benito. Uma festa onde todos os seus amigos estão, inclusive Helena.

Eu e o Benito nos tornamos amigos. Vez ou outra, conversamos por telefone e, mais de uma vez, ele me convidou a visitá-los. Eu claro, não fui.

Semana passada, ele me ligou e me convidou para a sua festa de aniversário. Não posso negar, que achei o convite um tanto estranho, mesmo que tenhamos mantido contato por todos esses meses. Mas acabei desistindo de ir na última hora. Então, sem resistir , fui olhar as fotos em suas redes sociais, com a esperança de revê-la. Não sou hipócrita de negar que a forma como ela me descartou, ainda dói muito, mesmo depois de tanto tempo.

Mas nada me preparou para a imagem que vi estampada nos stories do Benito.

Abro mais ainda a imagem que salvei no meu celular, e meus olhos se fixam na mulher linda que segura, com um largo sorriso no rosto, uma bebezinha também sorridente.

Será que ela se casou?

Se sim, como ela pode ter tido um filho em tão pouco tempo?

Liguei para o Benito, e tentei sondar alguma coisa, mas ele se esquivou. Em meio a nossas conversas, descobri que ele estaria aqui para participar de um congresso, e o convidei para um jantar.

Ele ficou de me dar um retorno, mas até agora nenhum sinal.

Uma batida na porta e o perfume adocicado da minha secretária invade a sala.

— Alex, você tem uma visita.

Olho para o relógio e vejo que já é bem tarde para um cliente.

— Quem é, Aline? Já estava saindo.

— Ele disse que é um velho conhecido — responde. — Se chama Benito.

Estou surpreso por ele estar aqui, achei que não aceitaria o convite.

— Peça para ele entrar. — E, quando ela está saindo, aviso: — Pode ir, Aline. Eu fecho tudo.

— Até segunda, Alex.

— Ok. Obrigado, Aline.

Ela sai da sala e alguns minutos depois, Benito entra com seu costumeiro sorriso aberto. Dou a volta na mesa para cumprimentá-lo. Mesmo após quase dois anos, onde o primeiro deles passei por muitas sessões de fisioterapia, ainda sinto desconforto quando passo muito tempo sentado ou me coloco de pé muito rápido.

— Cara, como é bom vê-lo tão bem — diz Benito em meio a um abraço seguido por tapas nas costas e, quando se afasta, ele segura meus ombros para me observar. — Faz um tempão, não é?

— Quase dois anos, Benito — respondo um pouco emocionado por reencontrá-lo, já que fui um cretino com ele no passado.

Aponto para a poltrona em frente ao sofá e me acomodo.

— O que faz no Rio? — Aponto para a poltrona. — Senta aí, e me conta como estão as coisas.

Ele olha para a sala e para os inúmeros porta-retratos onde estou em vários lugares do mundo praticando esportes radicais, e muitos deles, acompanhado por minha mãe, e só então se senta.

— Corridas como sempre — explica me olhando atentamente. — Você deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui, já que não respondi seu convite.

Não esperei que ele fosse direto ao ponto, mas, para ser sincero, prefiro assim. Inspirando fundo, rebato:

— Na verdade, já estava me preparando para procurá-lo, caso não respondesse minha mensagem.

— Desculpa, foi bem corrido mesmo. E fiquei na dúvida se conseguiria vir.

Passo as mãos nos cabelos e solto de uma vez:

— Eu fiquei envergonhado pelo meu comportamento infantil e pela forma como me despedi de você quando voltei para o Rio. Sei que já te pedi desculpas por telefone, mas queria fazer isso novamente olhando-o.

Ele assente e, inclinando-se para a frente, apoia os cotovelos nos joelhos.

— Relaxa, Alex. Eu meio que compreendo.

Aquiesço e inspiro fundo tomando coragem para perguntar o que anda me consumindo desde que vi aquelas fotos.

— Eu queria te encontrar para batermos um papo — começo meio inseguro —, mas, na verdade, o assunto que queria falar com você é um tanto esquisito.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Esquisito? Esquisito como?

Passo as mãos no rosto, e apoio os cotovelos no joelho, me inclinando um pouco para a frente.

— É que, na verdade, não sei se deveria te perguntar sobre isso.

Ele rompe o silêncio:

— Fala de uma vez, Alex! Você nunca foi de rodeios.

Inspiro fundo.

— É sobre a Helena, Ben.

Ele apruma o corpo e inspira fundo. Sua linguagem corporal me diz que ele está desconfortável em falar dela.

— O que tem ela? — indaga

— Eu a vi na sua festa.

Os olhos dele se fixam nos meus, surpresos.

— Viu?

Assinto.

— Vi. Vi as fotos nas suas redes sociais.─ explico um pouco constrangido por estar bisbilhotando.

Ele apenas continua me olhando. Eu vou direto ao assunto:

— A Helena estava segurando um bebê. — Observo atentamente seu rosto. — Um bebê que se parece muito com ela, Ben.

Os olhos dele se fixam nos meus. Continuo, meio apavorado com o que posso descobrir. Não se se estou preparado para saber que a Helena tocou a vida dela assim, tão rápido, enquanto eu ainda sonho com ela até hoje.

— Aquele bebê, Ben... aquele bebê é filho dela?

Ele fica de pé. Eu o observo passar as mãos no rosto e caminhar de um lado para o outro. Meu coração começa a bater mais e mais rápido. Ponho-me de pé também.

— Fala, Ben — peço. — Tá me deixando nervoso, cara.

Ele morde o lábio, inspira fundo, olha para o teto e, quando me encara, me dá a notícia mais surpreendente do mundo:

— É filha — esclarece. Seus olhos não desviam dos meus quando continua — Sim, é filha dela... — inspira fundo novamente e conclui: — e sua também. Você tem uma filha, Alex.


AO SEU ALCANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora