Capítulo 9

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Alex

Tento parecer confiante, enquanto Malcon empurra minha cadeira em direção à saída do hospital que foi meu lar durante os últimos dois meses. Saio para encarar a realidade nua e crua de alguém que, a partir de agora, vai depender das pessoas à sua volta até para mijar. Isso ainda é tão inacreditável que, às vezes, me pego pensando se não estou preso em uma realidade paralela.

As enfermeiras vieram todas se despedir de mim. Com sorrisos confiantes, e afirmando que sentiriam minha falta. Passaram quase toda a manhã tentando me animar.

O Benito também passou um bom tempo no meu quarto hoje, antes de assinar minha alta. Acontece que nos tornamos bem próximos. Próximos ao ponto de considerá-lo um amigo. A única pessoa que não veio me ver foi a Helena. Ela não estava no hospital hoje.

Não posso negar que fiquei um pouco decepcionado. Afinal, fui seu paciente nos últimos dois meses e ela simplesmente ignorou um momento tão importante na minha recuperação.

— Animado para conhecer seu novo lar? — pergunta minha mãe com um sorriso.

— Poderia ser em condições melhores, mas sim, estou feliz por sair daqui.

Ela aperta meu ombro em um gesto de conforto, e diz:

— Você vai gostar muito do apartamento, filho.

Ergo uma sobrancelha e sinto vontade de fazer uma piada, mas me calo. Sei que ela ainda se sente péssima com toda a situação. A Rebeca conversou bastante comigo nos últimos dias, e me garantiu que conseguiu uma terapeuta para acompanhá-la neste processo.

Malcon para minha cadeira ao lado da SUV que minha mãe alugou e, pela primeira vez, sinto medo. Medo de jamais poder voltar a dirigir, de entrar em um carro sem depender de alguém.

Minha mãe percebe meu desconforto e desvia os olhos dos meus. E sem falar que estou apavorado de como ela vai lidar com isso quando estivermos só nós dois. Não posso vê-la triste como esteve nos últimos dias e sei que os meses que teremos pela frente, serão difíceis e não apenas para mim.

Malcon me tira da cadeira e me acomoda no banco do carro. Ele é fisioterapeuta, mas me acompanhará nestes primeiros dias, já que está de férias do trabalho no centro de reabilitação onde atua.

Minha mãe se acomoda no banco de trás do carro enquanto tento tão pensar no que me aguarda.

***

Ainda estou surpreso e emocionado demais para processar o que está diante dos meus olhos.

Quando entramos no edifício charmoso, imediatamente me senti bem com o aspecto do lugar, simples. No hall de entrada, minha mãe se adiantou para abrir a porta. Malcon empurrou minha cadeira para dentro da sala aconchegante e meus olhos desacreditaram do que estava vendo. Na sala, emocionados, estavam Léo, Bruno, Belle e Sarah, além da Helena e do Benito.

Todos me olhavam com um largo sorriso, enquanto eu, feito um idiota, tentava não desabar no choro.

— Cara, que susto do caralho você nos deu! — disse Bruno se aproximando tão ou mais emocionado do que eu.

Se inclinando sobre a cadeira, ele me puxa para um abraço apertado, dando vários tapas nas minhas costas e fungando, achando que não pode desabar na minha frente.

Ele me solta, ainda constrangido por estar tão emocionado e é a vez do Léo me abraçar.

— Graças a Deus que você está bem, cara. Estávamos todos preocupados com você.

Assinto. Tenho vontade de dizer que não estou nada bem, mas não quero parecer um babaca ingrato. Eles estão aqui. Vieram me ver e me fazer uma surpresa.

Então as meninas se aproximam. A Belle, com seus olhos profundos e impactantes, me abraça e beija a lateral do meu rosto dizendo:

— Bom te ver, chefe.

E a Sarah, com seu jeito efusivo, se aproxima dizendo:

— Aposto que as enfermeiras fizeram fila para pular nesse colo.

Todos riem. Então, ergo meus olhos para a pessoa silenciosa parada do outro lado da sala, como se não soubesse bem o que está fazendo aqui: Helena. Mais linda do que nunca, com os cabelos presos em um coque bagunçado, usando um jeans que abraça todas as suas curvas e um suéter cor de chocolate.

Doutora... — cumprimento-a e ela sorri brevemente.

— Bem-vindo ao seu novo lar, Alex.

Assinto e Benito se aproxima com aquele sorriso que passei a conhecer tão bem.

— Sua mãe nos convidou para que conhecêssemos sua casa. Espero que não ache que estamos invadindo seu espaço, companheiro.

— De jeito nenhum, Benito. É bom vê-los aqui.

Viro-me para encarar meus melhores amigos, que tentam a duras penas disfarçar o quanto é difícil me ver nesta situação.

— Nem sei o que dizer. — Olho para todos, inspiro fundo e murmuro: — Obrigado.

É a Sarah que, mais uma vez, quebra o clima tenso e emocionado dizendo:

— Ah, que é isso! Estamos em São Paulo, graças a você! — E piscando continua: — E pensa no lado positivo, você vai ser paparicado de todas as maneiras e, quando levantar a bunda dessa cadeira vai estar tão mimado, mas tão mimado, que ficará um nojo.

Todos riem, e minha mãe se aproxima.

— Todos nós estamos aqui para lembrá-lo de que você não está só. E que vai superar tudo isso, porque você nunca desistiu de nenhum desafio.

— Sei que fui um babaca com vocês impedindo-os de me visitarem — falo com a voz embargada —, mas tinha esperança de reencontrá-los já de pé.

Léo se aproxima e diz:

— Nós entendemos, cara — diz tão emocionado quanto eu. — E se conheço bem você, isso — aponta para a cadeira de rodas — será só questão de tempo.

— Com certeza, Léo — diz minha mãe emocionada.

Ela segura minha mão e aperta e eu só posso olhá-la e agradecer por, mais uma vez, me resgatar e me mostrar que nada é definitivo quando temos força, fé e amor.


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