Capítulo 19

86 8 4
                                    



Helena

Foi difícil conter a emoção quando entrei em casa e vi o Alex e a Aisha deitados no tapete da sala, como se fosse algo comum.

Nem nos meus maiores sonhos imaginei algo assim.

Conheci o Alex em situações adversas. Ele estava consumido pela dor e desilusão. Nunca tive a oportunidade de vê-lo totalmente livre do peso da tristeza que se arrastou durante todo o tratamento ao qual foi submetido. Nem mesmo quando ele recuperou a sensibilidade das pernas, ou quando voltou a ficar de pé, nem mesmo nestes momentos ele esteve leve. Agora posso ver com clareza que o Alex que conheci foi uma pequena fração do homem que ele é.

A Luciana passou o dia me mandando fotos dele com a Aisha. Fotos que ela tirou sem que ele percebesse. A intenção dela era me tranquilizar e me mostrar que estava tudo sob controle, mas as fotos, juntamente com a emoção de tê-lo reencontrado, despertou em mim sensações que julgava adormecidas para sempre.

Eu o quis na nossa vida. Quis viver com ele momentos como ele viveu com a Aisha hoje. Eu o desejei e não apenas fisicamente. Isso me assustou muito. Desde a morte do John, que não me relaciono com ninguém. As pouquíssimas tentativas frustradas que tive só serviram para me mostrar que meu coração jamais seria preenchido novamente pelo amor de um homem; e mesmo quando eu e o Alex ficamos juntos, naquela única noite, sempre tudo foi físico. Instintivo. Demos um ao outro uma dose de alívio das dores que nos consumiam. Eu precisava me sentir viva novamente, e o Alex precisava provar para si mesmo que voltaria a ser o homem que fora um dia.

Foi por isso que, quando descobri a gravidez, não o procurei.

Eu não o conheço nem ele a mim. Não sei do que gosta, dos sonhos e desejos que o movem. Não sei praticamente nada da sua vida, além das poucas informações soltas aqui e ali pela sua mãe.

Como eu poderia deixá-lo entrar na minha vida e na da Aisha, se nem mesmo eu sabia quem ele era?

Mas de uma maneira muito rápida, como um looping de uma montanha-russa, vê-lo deitado no chão da minha sala, aconchegado àquela que é responsável pelos meus sorrisos e por cada gota de amor que possuo dentro de mim, me desnorteou e provocou em mim o desejo de conhecê-lo. E o mais grave, de tê-lo.

Agora, sentada ao seu lado, vendo-o tão tenso quanto estou, eu sinto que essa noite será um divisor de águas na nossa relação.

Helena ele chama e só então me dou conta de que estou em silêncio por tempo demais. — Se quiser, podemos conversar amanhã. Deve estar cansada.

Não, Alex. Podemos conversar agora falo resoluta. Você jantou?

Ele nega e sorri. Um sorriso que me arranca o fôlego.

Não queria me afastar dela. Ela dormiu e eu tentei ficar o mais quieto possível.

Fico de pé e sorrio.

Vem, sempre tem comida para dois aqui. A Lu adora me mimar.

Ele fica de pé e, para minha surpresa, responde:

É compreensível.

Seu olhar é intenso e faz com que eu me sinta ruborizada como uma adolescente idiota. Marcho para a cozinha sem encará-lo. Ele me segue.

Abro o micro-ondas e, como já esperava, retiro de lá o recipiente com uma lasanha.

Tem lasanha. Mostro. Divide comigo?

AO SEU ALCANCEOnde histórias criam vida. Descubra agora