Alex
Já faz uns dez minutos que estacionei o carro alugado na rua tranquila onde morei por alguns meses. As lembranças daqueles dias difíceis me atingem como um golpe. Ainda é muito cedo. Peguei o voo ontem à noite porque simplesmente não consegui ficar em casa esperando o dia amanhecer. Aluguei um carro e dirigi direto para a casa da Helena.
Olho para o relógio. Sete e dez. Será que ela já acordou? Será que tem algum cara dormindo com ela? Esse simples pensamento faz com que eu aperte o volante até os nós dos meus dedos ficarem brancos.
A Helena é uma mulher espetacular e, quando a conheci, quase não acreditei que era solteira. Apesar de ter convivido com ela por meses, não sei quase nada da sua vida. Ela nunca conversou sobre seu passado, ou os seus desejos de futuro. Deixou escapar apenas para a minha mãe uma ou outra informação aleatória.
Como o fato de que ela comprou o apartamento com seu noivo há alguns anos e não teve coragem de se desfazer. Não sei as razões para o término do noivado e, para ser bem sincero, nunca quis saber. Imaginá-la se casando com outro cara não era meu passatempo favorito. E pelo visto, continua não sendo.
Meu telefone toca. Olho no visor, e não posso deixar de sorrir.
— Oi, mãe — cumprimento.
— Filho — ela diz ansiosa — E aí? Fez boa viagem?
— Sim. Foi tudo tranquilo.
— Já está aí?
Olho para o prédio do outro lado da rua, e respondo:
— Sim, mas ainda estou aqui fora. É cedo.
— Deixe de bobagem, Alex. Bebês acordam cedo.
Sorrio, mesmo que ela não possa ver.
— Ainda não me conformo de você não ter deixado eu ir com você conhecer minha netinha.
— Mãe, já conversamos sobre isso...
Ela suspira.
— Eu sei, querido. Desculpa — pede. — É que estou muito ansiosa para conhecê-la.
— Eu sei, mãe. Prometo que será logo. Mas eu preciso conversar primeiro com a Helena.
Ela fica em silêncio por alguns instantes.
— Eu sei. Mas, por favor, assim que puder, me liga tá? Quero saber tudo.
— Ligo sim, D. Ana.
— Dá um beijo na minha neta por mim. E diz a Helena que mandei lembranças.
— Pode deixar — prometo.
Ela se despede e desliga.
Inspiro fundo, crio coragem e saio do carro. Apesar de ainda ser muito cedo, não consigo mais esperar. Minha mãe tem razão. Bebês dormem pouco. Atravesso a rua, e vou até a portaria do prédio onde morei por alguns meses.
O porteiro me cumprimenta, e inspiro fundo e peço para ele avisar a Helena da minha presença. Meu coração retumba no peito, e minhas mãos estão suadas. Estou nervoso pra caralho.
Depois de alguns instantes, ele destrava a porta de vidro e autoriza minha entrada. Inspiro fundo novamente enquanto caminho até o elevador. E quando, alguns minutos depois, a porta se abre no andar de Helena estou nervoso como um garoto que não sabe bem o que o espera. A porta vizinha que foi a minha casa durante alguns meses, desperta algumas emoções.
Passo as mãos no rosto e toco a campainha. Alguns minutos se passam, e já estou com a mão erguida para tocar novamente, quando a porta se abre de repente.
Olho para a mulher mais linda que já vi na vida com uma criança de olhos azuis e vivazes no colo.
— Oi, Helena. — Minha garganta está travada de emoção e não consigo desviar os olhos da criança acomodada confortavelmente em seu colo.
— Alex...
Sua voz faz com que eu erga o rosto para encará-la. Helena sempre foi uma mulher bonita, mas agora, com os cabelos presos em um coque bagunçado, sem maquiagem ou qualquer artificio, ela nunca me pareceu tão linda. Parece uma miragem.
— Acho que precisamos conversar.— murmuro depois de alguns segundos.
Ela fecha os olhos por alguns segundos, aconchega mais ainda a nossa filha no colo, e se afasta da porta.
— Entre.
Dou um passo para dentro do seu apartamento e me dou conta de que nunca estive aqui.
Ela caminha até o meio da sala e parece muito nervosa. Aisha começa a se agitar.
Estendo a mão e toco o rosto dela pela primeira vez. Sinto uma emoção poderosa travar minha garganta.
— Oi, princesa... — murmuro emocionado.
Ela choraminga e parece agitada. Helena coloca ela de pé, com o rosto inclinado em seu ombro, e imediatamente ela se acalma.
— Você me dá um minuto? — pede.
Aquiesço.
— Já volto — ela diz sumindo em um corredor.
Olho para a sala e vejo os sinais da presença de Aisha por toda parte. Um carrinho de bebê está perto do balcão que separa a sala da cozinha e há alguns brinquedos jogados no sofá.
Meu olhar é atraído para um quadro na parede. Caminho até lá e meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo a foto das duas com gorros iguais em uma mistura de cores que fazem minha garganta travar. Absorvido pela imagem, a voz da Helena causa um sobressalto quando diz às minhas costas.
— Senta, vamos conversar.
Viro-me rapidamente, e vejo que Aisha não está mais em seu colo. Ela aponta para a babá eletrônica e explica:
— Ela fica agitada quando fico nervosa.
Dou um passo em sua direção. Meus olhos absorvem todos os traços do rosto perfeito e sou assaltado por uma sensação de saudade brutal. Fecho as mãos em punhos para impedir-me de tocá-la.
— Por quê?
Vejo quando ela engole em seco e noto o nervosismo a consumindo. Mas no momento, eu quero respostas. Ignorando o apelo desesperado dos seus olhos, repito a pergunta:
— Por que me privou disso tudo? — Faço um gesto amplo com as mãos. — Você sabe que jamais abandonaria um filho. Sei que conhece minha história, Helena. — Dou mais um passo e estou segurando seus ombros. — Por que não me deu ao menos a oportunidade de saber?
Uma lágrima silenciosa escapa pela lateral do seu rosto quando ela responde simplesmente:
— Porque eu tive medo de perdê-la.
Estupefato, a encaro.
— Perdê-la? Acha que eu a tiraria de você? — Continuo segurando seus ombros. — Eu jamais tentaria tirá-la de você, Helena.
Ela se afasta do meu toque e se abraça. Sua voz sai mais firme quando diz:
— Eu sei que parece loucura. — Aponta para a cabeça. — Eu sei disso aqui, mas aqui — aponta para o coração — tudo que sei é que não poderia correr o risco.
Inspiro fundo para me acalmar.
— Estou aqui. E vou ficar — aviso.
Ela fecha os olhos e, quando abre, diz simplesmente:
— Vem, vem conhecer a sua filha, Alex.
Estende a mão e eu seguro. E no meu coração eu desejo, ardentemente, jamais soltá-la outra vez.
VOCÊ ESTÁ LENDO
AO SEU ALCANCE
RomanceOi gente! Este é meu novo trabalho completamente inédito! Dessa vez, pretendo viver a experiência do Wattpad e vou contar com a ajuda e apoio de vocês já que sou novata por aqui! hahaha . Vamos aos detalhes? ESTE LIVRO É UM SPIN-OFF DO LIVRO SEREIA...