Capítulo 15

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Helena

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Helena

— Não é possível que você tenha me traído dessa forma, Ben!

Aisha se agita em meus braços, e eu tento moderar o tom da minha voz. Estou andando de um lado para o outro, na sala do meu apartamento.

— Desculpa, Helena, eu sei que errei, tá? — Ele fica de pé também. — Eu não tinha o direito de me intrometer assim na sua vida — passa as mãos nos cabelos —, mas desde que... — solta um suspiro. — Desde que ele voltou para o Rio, que você não é mais a mesma. E ele também não. E ele viu você com a Aisha na minha festa. Eu não consegui mentir para ele.

Paro imediatamente e me viro ficando de frente para ele.

— Você não me contou que se tornaram amigos, Ben. — Aproximo-me de onde ele está..

Ele enfia os dedos no bolso do jeans.

— Eu tentei te falar que mantínhamos contato — suspiro —, mas você não queria ouvir. Ele se tornou assunto proibido, lembra?

— Vocês mantiveram contato esse tempo todo? — Franzo a testa e acaricio as costas de Aisha, que finalmente se aquietou no meu colo, encostando a cabecinha no meu ombro.

— Sim. — Ele se aproxima e acaricia os cabelos de Aisha. — Eu tentei falar dele muitas vezes, Heleninha. Você nunca quis ouvir. A simples menção do nome dele, você se fechava como uma concha.

Fico em silêncio e ele continua:

— Ele foi meu paciente por muito tempo e, quando eles voltaram para o Rio, a Ana me pediu para acompanhá-lo, mesmo de longe. — Ele me olha. — Ele ficou muito mal depois que você o expulsou daquela forma da sua vida, Helena.

Ergo o rosto, e sinto-me ruborizar.

— Eu não expulsei porque ele nunca esteve nela, Ben. Ele foi meu paciente também e, quando recebeu alta, eu apenas me afastei.

— Sério que você tá falando isso? — Aponta para Aisha. — Até onde sei, você nunca teve filho com nenhum outro paciente, Helena. Você deu um pé na bunda dele de forma firme e decidida. Se negou a falar com ele ou sobre ele com todos nós; e, quando a princesinha nasceu, você continuou negando. Agora não dá mais, Helena. Ele descobriu. E você precisa de ajuda. E ele é o pai, droga!

— Estamos nos virando bem — tento argumentar, mas minha garganta trava. — Ela está bem melhor, Ben.

Ele inspira fundo e se aproxima. Acaricia as costas de Aisha e diz:

— Eu sei que está, Heleninha. E sei que vai ficar tudo bem, mas não é justo você carregar tudo isso sem apoio. — Ergue o rosto. — Dessa vez, não foi nada grave, mas como se sentiria se fosse? Acha justo fazer isso com ele? Ele não te abandonou, Helena. Foi o contrário. Você tem que deixá-lo escolher se quer fazer parte da vida dela ou não. Deve isso a ambos.

Olho para a minha pequena adormecida e aconchego-a mais ainda no meu colo. Ela esteve bem doente nos últimos dias. Foram muitas idas e vindas ao hospital para descobrir que ela teve Síndrome de Kawasaki, uma doença infantil pouco comum que provoca inflamações nos vasos sanguíneos. No auge da crise, além da febre persistente, provoca placas avermelhadas na pele e rachaduras na boca.. Não é grave e o pior já passou, mas toda a angústia que senti me deixou desesperada e fui acometida por uma forte crise de ansiedade preocupando todos que me ajudaram a não enlouquecer. A Hosana praticamente se mudou para a minha casa com o Ben, e a Mary me ajudou a não enlouquecer cuidando das coisas práticas.

Ergo o rosto e encontro os olhos cansados do Ben. Ele não é apenas meu amigo. É um irmão que não tive. Junto com a Hosana é toda a família que possuo, já que meu pai falecera no ano anterior de um infarto fulminante.

— Você tem razão, Ben — murmuro por fim. — Eu só não sei como faremos isso.

— Encontre-o. Converse com ele. — Ele sorri brevemente. — Ele não é de fazer confidências, mas até onde sei, ele nunca superou você, Helena, assim como você nunca o superou. Deixe seu passado para trás.

— Não quero perder alguém que amo, Ben. A morte do John...

Ele coloca a mão no meu ombro, me interrompendo:

— Foi um acidente, Heleninha. Um terrível acidente. Não pode se privar de viver por medo de perder quem ama. E mais agora... — Acaricia a cabecinha de Aisha.

Suspiro pesadamente e faço a pergunta que está me consumindo desde o minuto que ele me contou que esteve com o Alex.

— Como ele está, Ben? Como reagiu?

Ele morde o lábio.

— Ele está bem, fisicamente quase não se percebe nenhuma sequela do acidente... — Suspira. — Ele ficou em choque, Helena. Transtornado, na verdade.

Fecho os olhos. Era o que temia. Que ele jamais me perdoasse por esconder que ele tem uma filha.

— O que eu faço?

— Deixe-o conhecê-la. — Olhando carinhosamente para a sua afilhada, reforça: — Ela merece isso, e você também.

Assinto e inspiro fundo.

— Espero que me perdoe por não ter conseguido esconder a verdade dele. Eu simplesmente não podia negar o óbvio.

— Tudo bem. Eu te conheço. Sei que não conseguiria mentir sobre algo assim, mesmo que fosse para me proteger.

— Alex não é uma ameaça, Helena. É o pai da nossa garotinha.

Fecho os olhos por alguns segundos e, quando os abro, murmuro:

— Você tem razão. Eu sou uma covarde.

— Não, não é. Você é a mulher mais corajosa que conheço. Só tem medo de perder o controle.

Fisgo o lábio com os dentes.

— Tem razão. Tenho muito medo de perder novamente o controle da minha vida.

— Não vai — ele garante. — Estou perdoado? ─ indaga com um sorriso.

— Está. — Suspiro. — Você sabe que não consigo ficar brava com você.

— Sorte a minha, então — retruca com uma piscadela.

Conversamos mais um pouco, então ele beija a cabeça de Aisha e a lateral do meu rosto e sai do meu apartamento, me deixando atordoada com o que pode acontecer.

Não tenho dúvidas de que ele virá ao meu encontro. O que eu não sei é se terei forças para tirá-lo da minha vida, caso queira ficar. E não apenas como o pai de Aisha. Eu jamais o esqueci e tenho certeza de que jamais o esquecerei. Com ele, senti uma conexão que nunca senti com ninguém. Nem mesmo com John. E isso desperta em mim sentimentos confusos de culpa e medo.

Caminho até o quarto de Aisha e a acomodo no seu berço. Fico alguns minutos contemplando-a. Ela é perfeita. Sei que o Alex ficará apaixonado por ela assim como todos que a conhecem. O que eu não sei é como conseguirei viver com ele em nossas vidas sem desejá-lo para mim.

Porque não posso me enganar. Eu o quero, e não apenas como o pai da nossa filha. E mesmo que ninguém precise saber disso, eu sei. E terei que ter muito cuidado, para não deixar que ele saiba também.


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