Capítulo 22

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Três semanas depois...

Alex

Saio pelas portas do aeroporto e o sol incandescente do Rio de Janeiro faz com que eu me encolha de desconforto. Um sol para cada cabeça, como diz o ditado. Caminho para o estacionamento, onde deixei meu carro antes de ir para São Paulo.

Não consigo evitar a nostalgia que tomou conta de mim desde que saí da casa da Helena hoje cedo e tive que deixar a Aisha e sua mãe.

A lembrança do que aconteceu quando contei a ela que estava voltando para o Rio me invade sem aviso.

Ela ficou me olhando e parecia decepcionada e triste.

Olhou-me com fúria, e disse que eu não precisava lhe dar satisfação, mas eu vi a dor nos seus olhos.

Sem nem mesmo pensar no que estava fazendo, eu estendi o braço e, segurando sua nuca, calei suas acusações com um beijo, que disse tudo que eu não conseguia verbalizar.

E a sensação de ter o corpo dela colado ao meu, me levou a uma fome brutal de algo que nem mesmo sabia que tinha. O cheiro da Helena penetrou nos meus sentidos, e eu me vi entorpecido de desejo de senti-la.

Mas nada me preparou para a forma como ela correspondeu ao beijo. Quando minha língua pediu passagem, ela permitiu, e parecendo tão faminta quanto eu, ela me abraçou e como um déjà vu, me vi consumido por ela. Pelo desejo de tê-la assim, entregue.

Abro o carro e ligo o ar-condicionado no máximo. Antes de sair do estacionamento, ligo para o Leo. Alguns toques depois, ele atende.

E aí, cara, já chegou? indaga.

Acabei de desembarcar. Puxo o cinto de segurança e o prendo. Já está na Línea?

Ouço a voz da sua secretária, e então ele responde:

Sim, mas a reunião foi adiada. Amanda teve um imprevisto e pediu para remarcarmos para depois do almoço explica.

Suspiro de alívio. Queria muito ir até a minha mãe antes de ir para a empresa. Preciso contar a ela pessoalmente as decisões que pretendo tomar; e, se tudo der certo, quero seu apoio.

Durante todos os dias em que estive hospedado na Helena, eu compartilhei, mesmo a distância, os momentos com minha mãe. Diariamente fazia chamadas de vídeo para ela ver a Aisha e até a Helena. Apesar de estar ansiosa para conhecer pessoalmente sua neta, ela entendeu que eu precisava desse tempo com a Aisha e consegui convencê-la a esperar um pouco mais.

E agora que tomei a decisão de me mudar para São Paulo, quero que ela me apoie e compreenda que não tenho como viver no Rio enquanto a minha filha mora em São Paulo.

Não quero ser uma visita. Quero constância.

Mas não estou preocupado com isso. Conheço minha mãe e sei que ela será a primeira a me apoiar.

Que bom, cara. Chego aí às quatorze horas, ok? Vou resolver umas coisas antes.

Sem problemas. Marcamos para as dezesseis ele diz. — Os relatórios que enviou já foram todos analisados, Alex. Não teremos problemas em seguir com o que planeja.

Que bom, Leo falo sinceramente. Nem sei como te agradecer, irmão.

Deixe disso, cara. Acho que está certo em querer viver isso. Eu te apoio cem por cento, você sabe.

Suspiro. Eu não sei o que fiz de bom para ter um amigo como esse cara, mas sou grato ao universo por tê-lo.

Você é foda, Leo.

Mas me conta ele descarta o elogio com a simplicidade de sempre —, ela já sabe?

Não. Ninguém sabe. Só você conto e não consigo esconder meu nervosismo. Quero conversar com minha mãe antes e só vou contar para a Helena quando voltar.

Seu riso baixo deixa claro que está se divertindo com meu nervosismo.

Cara, eu gostaria de ver a cara da Helena quando ela souber que será o vizinho dela novamente. E, dessa vez, para sempre.

Eu espero que ela aceite bem. Suspiro pesadamente. Foram os melhores dias da minha vida, Leo. A minha pequena... — falo emocionado, dou uma pausa, encosto a cabeça no banco, já sentindo saudades. Cara, aquele serzinho minúsculo está dominando a porra do meu mundo.

Só a Aisha? ele provoca.

Fecho os olhos e a imagem da Helena invade meus pensamentos. Eu estou louco por ela. Muito mais do que já fui ou imaginei estar. É cada vez mais difícil conseguir disfarçar, e foi por isso que procurei o Gael, o dono do apartamento, e fiz uma proposta irrecusável. A princípio, ele não queria vender de jeito nenhum, mas o convenci quando expliquei que precisava ficar próximo a Aisha. Então combinamos que, quando o contrato de locação do inquilino que mora lá vencesse, o que acontecerá há pouco mais de um mês, ele me venderá o imóvel. Pedi a ele para não contar a Helena por enquanto, já que são amigos, e ele concordou.

Estou apaixonado por ela, Leo confesso.

Eu sei, cara. E faz tempo. Antes da Aisha. Você nunca mais foi o mesmo desde que voltou de lá.

Tem razão concordo e ligando o carro, me despeço. Deixa eu ir, ou a dona Ana ficará preocupada. Desde o acidente ela fica paranoica com meus atrasos e prometi assim que chegasse ir direto para lá. Já foi difícil segurá-la aqui no Rio esses dias.

Eu imagino, cara. A última vez que nos encontramos, ela estava surtando de felicidade ele conta.

Engato a ré e encerro a ligação dizendo:

Nos vemos mais tarde.

Ok. Mande um beijo para a Ana por mim.

Nos despedimos e saio em direção à casa da minha mãe. Ela não vê a hora de conhecer a Aisha pessoalmente. Ela vai pirar quando souber que pretendo me mudar em definitivo para São Paulo. Não ficarei longe da minha filha e da mulher que amo. Se elas não podem vir, eu vou até elas. E, se tudo der certo, nunca mais nos separaremos. Vou conquistar a Helena.

A lembrança do beijo que roubei quando nos despedimos volta a minha cabeça. Ela pode negar o quanto quiser, mas a mulher que se derreteu em meus braços, estava tão sedenta por mim quanto eu estava por ela. E se eu preciso convencê-la de que eu a quero, e não apenas a nossa filha, eu farei isso.

Vou cortejá-la e convencê-la de que o que sentimos um pelo outro não é apenas desejo. Helena precisa de tempo. Eu tenho tempo. Ela será minha mulher. Farei o que puder para convencê-la a dividir a vida comigo.

Sempre fui alguém que não desiste das minhas batalhas, e de todas que já travei, conquistar a Helena, será a mais importante.


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