Capítulo 21 - A caverna desmorona

41 8 0
                                    

Erik Morgan desmaiou assim que encontrou seus compatriotas. As pontas de seus dedos tinham feridas avermelhadas e seu corpo estava com hematomas espalhados por todos os lados. Thomas verificou que respirava normalmente então deixou que descansasse um pouco mais antes de acordá-lo de seu sono revitalizador. Os homens do coronel Oliver Trik temiam que a história contada por Erik fosse verdadeira, pois viveram muitas histórias com seu superior e os outros fuzileiros navais que o acompanhavam e não acreditavam no que podia ter acontecido com aquele imbatível time.

— Quem seria capaz de matar um homem com tanta experiência e conquistas como Oliver? — indagou Williams, o capitão do esquadrão.

— Aqueles tiros! Devem ter enfrentado muitos homens armados — argumentou o soldado Smith.

— Nunca nenhuma bala foi capaz de parar nossa equipe, soldado. Acredito que deve ter acontecido algo mais perigoso pra ter deixado o senhor Erik Morgan assustado daquele jeito.

— Por que não perguntam diretamente para ele, oficiais? — sugeriu Thomas Wolf apontando para Erik que estava acordando do pesadelo que o consumia.

O tenente-general queixava-se de dores fortes em suas costelas, com a certeza de que duas ou mais haviam se rompido enquanto se debatia para livrar-se do abraço mortal de uma lula amaldiçoada que habitava a caverna.

— Você deve estar delirando por conta das fortes dores, senhor. As lulas vivem nos oceanos e nunca são agressivas a ponto de matar seres humanos com abraços estranguladores.

— Mais respeito com seu superior, capitão — vociferou o general de maior patente dos EUA, George Nelson. — Deixe que continue com seu relato.

— Eu também não acreditaria se não tivesse vivido esse terror, oficial. Este animal foi o responsável pelas mortes do soldado Hoover, o tenente Johnson e também o coronel Oliver Trik.

— E quanto ao capitão Madison e o soldado Wilson? Questionou o tenente que até agora estava somente prestando atenção à conversa.

— Eles foram os que morreram primeiro, tenente Lopez. O soldado foi jogado de um precipício enquanto que o pobre capitão Madison foi devorado por um animal estranho e bizarro. Parecia com uma rocha, ou uma dessas estalagmites, só que vivo e com chicotes no lugar de suas mãos.

— Descanse mais um pouco, amigo. Não parece que você esteja muito bem. Não se preocupe que só sairemos daqui quando você estiver recuperado — propôs o general.

— Vocês não estão entendendo, se continuarmos nessa caverna será nosso fim. São seres sobrenaturais e em alguns desses monstros nossas armas não fazem nem cócegas.

Thomas olhou de canto de olho para aquele covarde homem que parecia um garotinho assustado, não querendo entrar na mansão da esquina por dizerem ser amaldiçoada. "Tenha dó, como que chegou onde chegou com essa atitude?" — se perguntava o contra-almirante Wolf.

— Não podemos nos dar o luxo de aguardar nem mais dez minutos. Levantem acampamento que vamos continuar com a expedição.

— Ninguém vai a lugar nenhum! — ordenou o general, se impondo pela primeira vez desde que chegaram àquele maldito lugar. — Você não está vendo que o tenente-general não tem condições de prosseguir? Aguardaremos a minha ordem.

— E ficaremos aqui para servirmos de aperitivos pra esses monstros? — interrompeu Thomas, mostrando impaciência com o superior.

— O contra-almirante está certo, general. Devemos sair daqui o quanto antes. Eu aguento retomar a caminhada mesmo já sabendo o destino que todos teremos.

O general confirmou para Thomas que iriam continuar a jornada e que deveria liderar a campanha, mesmo sem saber se o que o almirante disse era por ter acreditado na fábula contada por Erik Morgan ou apenas para se esquivar da ordem dada por ele.

Andaram por mais algum tempo, a passos lentos por conta do novo estado de saúde do oficial, até chegarem em uma encruzilhada onde havia duas passagens afastadas entre elas, uma ao lado direito e outra ao lado esquerdo. Não precisaram escolher pois o homem abatido se colocou à frente da equipe se dirigindo à passagem da esquerda, pois o outro caminho lhe trazia frios na espinha e péssimas recordações do que havia vivido.

Um dos soldados questionou se Erik tinha certeza que estivessem todos mortos, pois queria poder ir ao resgate deles e este confirmou abaixando a cabeça em um ato de solidariedade.

— Soldado, eu, como seu tenente-general, não permito em hipótese alguma que você ou quem quer que seja, entre por aquela passagem enquanto eu estiver vivo. Não quero mais nenhuma perda trágica como aquelas que presenciei em nossa equipe, tampouco que vocês experimentem os horrores pelos quais eu passei. Isso é inconcebível, soldado. Quando digo que ninguém sobreviveu, seja forte e acredite em minhas palavras. Se houvesse chance de enterrá-los com dignidade, pode ter certeza que eu mesmo ordenaria, mas não sobrou nada, apenas esse velho capenga aqui — disse Erik, relatando o acontecido, ainda que para eles houvesse muitas inverdades em seu discurso.

Os fuzileiros assentiram e o grupo seguiu pelo caminho da esquerda, onde encontraram um local tomado pela escuridão. Thomas sabia que se realmente houvesse algum animal rondando a caverna à procura de alimento, se tornariam presas fáceis andando naquela velocidade lenta. Exigiu que movessem seus pés mais rápidos até que encontrassem um ambiente mais iluminado. Apressaram-se para sair daquela galeria, mas não enxergavam um palmo pela frente e parecia que o caminho estava infestado de enormes rochas, dificultando a passagem do bando.

Percorreram o trajeto por mais algumas horas naquela escuridão infindável quando avistaram uma forte claridade obstruída por algumas rochas à frente do grupo. Aquela luminosidade chamou a atenção de Thomas, que, por alguns instantes, esqueceu-se da loucura por vingança que dominava sua mente para apreciar o que estava através da fenda nas pedras. Porém, a origem do misterioso brilho amarelo não era visível por aquele ângulo em que estava. Rodeou então as rochas, a fim de encontrar algum espaço para matar sua curiosidade, mas não havia passagem alguma. O general, que já estava arrependido por não ter tido um pulso mais firme em relação às loucuras do almirante, ordenou que deixassem aquele objeto brilhante para lá, pois se estava enclausurado e com difícil acesso, era por um objetivo maior.

— Nem tudo que reluz é ouro! — alertou o general Nelson. — Pense, almirante, se esse objeto está trancado de alguma maneira, então o certo é deixá-lo para lá e seguirmos em frente. Não existe rosa sem espinhos, oficial!

Mas aquele brilho de alguma forma mexia com a cabeça do contra-almirante, dominava suas atitudes de maneira que não conseguia se desvencilhar. Não sabia do que se tratava e isso o deixava ainda mais alucinado. Quanto mais perto se aproximava da origem do brilho, maior era aquele sentimento forte que irradiava seu corpo até chegar em seu cérebro. Voltou para a fenda donde vinham os raios de luz e esticou o braço o máximo que pôde para tentar pegá-lo com suas mãos, mas a ação não obteve o sucesso esperado por ele, ou talvez lá no fundo sim, pois parece que Thomas, com sua mão enfiada entre as rochas, encostou em algum tipo de pedra ou metal extremamente gelado, que desencadeou uma sucessão de acontecimentos na galeria. O chão e as paredes rochosas começaram a tremer, caindo pedregulhos por todos os lados, forçando os oficiais a correrem para não serem esmagados e soterrados, conseguindo se esquivar de uma pedra aqui e uma estalactite ali que caiu por cima de suas cabeças.

Erik se esforçava para correr o mais depressapossível, mas, com sua saúde debilitada, ficou para trás perante ao grupo. Osoldado Smith, vendo seu superior muito lento, correu na direção dele paraajudá-lo, porém foi impedido por um desmoronamento que aconteceu em suadireção. Tentou correr para o lado oposto, mas as pedras rolaram em umavelocidade tão alta por conta do excesso de peso que não deram chances para osoldado se salvar, atingindo suas costas e arremessando-o ao chão com muitaforça. Por fim, acabou sendo soterrado pelas outras rochas que se acumularamumas acima das outras, prendendo o soldado para sempre em seu túmulo decalcário no centro daquela maldita caverna. 

Frank Payne e a Caverna MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora