Capítulo 3 - A revelação

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Frank mostrou para Barbara o pedaço de rocha que ele havia pego no mar e lhe contou toda a história, de como ela chegou até ele, da voz que parecia ter escutado dentro de sua cabeça, das alucinações, entre outras coisas.

Barbara não quis dizer nada naquele momento, mas essa história estava mexendo demais com Frank, pois em doze anos nunca havia visto seu amigo tão eufórico. Estava afobado, irritado e até mesmo em alguns momentos mal educado, logo ele que sempre foi um amor de pessoa, gentil, cuidadoso e extremamente inteligente, mesmo depois de ter sofrido muito com as perdas nos últimos sete anos.

A mais recente há cerca de cinco anos foi seu pai Douglas que desapareceu em uma viagem a trabalho sem nunca mais voltar para casa. Pelo que sabia, Douglas Payne era um executivo de uma grande companhia farmacêutica e sempre tinha que viajar a negócios para muitos países no mundo. Sempre que voltava trazia lembranças para os dois amigos, desde doces e guloseimas até réplicas de artifícios históricos que comprava em uma barraquinha ou lojas de souvenirs.

Certo dia, Douglas teve que viajar às pressas e foi se despedir, enquanto Frank se preparava para ir à escola. Disse que precisava resolver algo com urgência, mas que voltava para casa em duas semanas, porém nunca mais voltou. As buscas terminaram após três meses de intensa procura, sem nunca terem encontrado corpo nenhum, apenas a memória do pai engraçado e dedicado foi o que sobrou para Frank. Sua mãe, Elizabeth, estranhamente tivera o mesmo destino, desaparecendo do mapa dois anos antes.

Só receberam a informação de seu falecimento mais tarde quando encontraram o corpo de uma mulher que foi reconhecida por Douglas como sua esposa. Desde então, Frank vinha sido cuidado por seu avô Walter Payne. Um senhor muito dedicado, que ensinava as matérias da escola que Frank tinha dificuldade, cozinhava, limpava a casa e sempre o levava a um caminho justo e correto. Era um dos maiores amigos do garoto, que com Barbara formavam o Esquadrão Fantástico.

Era esse o nome que apelidaram o grupo de estudos do Universo, enigmas e caças ao tesouro, e mesmo com seus 68 anos, Walter ainda dispunha de um físico de dar inveja a qualquer senhor de sua idade, de estatura média-alta, corpo magro e mãos grandes e fortes cultivadas ainda em sua juventude. Seus poucos cabelos brancos e sua pele já riscada pelos anos vividos eram o que denunciavam sua idade. Walter Payne nunca mencionava seu passado e quando perguntavam algo sobre o que fazia quando jovem ou onde e quem o ensinou as coisas que conhecia, sempre mudava de assunto, para algo que interessasse mais os adolescentes e estes acabavam esquecendo.

Assim que Barbara colocou seus lindos olhos azuis na pedra, pôde entender o motivo de sua excitação. Ela era estranhamente bela, com um aspecto bizarro, diferente de qualquer outra rocha, muito leve e com pintas pretas. Parecia que vinha de outro planeta, pois nunca havia visto algo parecido. Percebeu que as tais pintas estavam super alinhadas, que pareciam escrituras antigas, porém extremamente pequenas, imperceptíveis a olho nu.

Virou em direção a seu amigo e o viu parecendo uma criança com um brinquedo que acabara de ganhar, aguardando seus pais colocarem pilha para enfim poder brincar. Foi até sua estante de livros e pegou um exemplar bem grande e pesado, que parecia ser de uma idade bem avançada, por conta de seu desgaste visível. Era o dicionário de símbolos, utilizado por ela para decifrar muitos dos enigmas, os quais eles adoravam.

Folheou o livro até a letra P e então só parou até chegar no que procurava, a palavra "Pedra". Começou a ler em voz alta:

Pedra (bétilo, diamante, esmeralda, jade, joia, pérola), tradicionalmente a pedra ocupa um lugar de distinção. As pedras não são massas inertes; pedras vivas caídas do céu continuam tendo vida mesmo depois da queda. Ela desempenha um papel importante nas relações entre o céu e a terra. Diversos povos do Pacífico, como a Austrália e regiões entre Indonésia e América do Norte, consideram algumas espécies como sendo fragmentos desprendidos do céu ou do trono celeste: ela é o instrumento da clarividência dos xamãs. As pedras caídas do céu são, além disso, muitas vezes, pedras falantes, instrumentos de um oráculo ou de uma mensagem.

— Muito desse texto reflete exatamente o que senti quando eu a vi pela primeira vez — disse Frank. — Parecia que a pedra queria me mostrar algo, como se fosse meu próprio oráculo, manifestando algo que irá acontecer ou uma revelação oculta. Mas o que será que ela quer me apresentar? Não estou conseguindo entender mais nada.

Barbara voltou a ler mais um trecho do livro:

— Existe entre a alma e a pedra uma relação estreita. Segundo a lenda de Prometeu, procriador do gênero humano, as pedras conservaram um odor humano.

— É isso! — gritou Frank. — Quando eu entrei em transe senti o cheiro do perfume de meu pai. Não acredito que essa pedra esteja querendo me dizer onde está o paradeiro dele. Não pode ser verdade.

Frank estava eufórico com a possibilidade de enfim descobrir onde seu pai poderia estar escondido. No íntimo, ele nunca acreditou que havia morrido. Nunca conseguiu se despedir de verdade, pois sabia, lá no fundo, que reencontraria com ele novamente. Mas onde? Como iriam descobrir uma pista que o levasse a ele? Foi então que se lembrou das minúsculas inscrições e se voltou para Barbara.

— Báh, você conseguiu identificar o que está escrito nessa pedra? São tão minúsculas que minha lupa não conseguiu aumentar a ponto de identificá-las.

Frank estava dando sua lupa para que Barbara pudesse analisar as escrituras, mas esta abriu a gaveta de sua escrivaninha e retirou um óculos profissional, com lâmpadas led nas extremidades e lentes com seis ampliações diferentes, até dez vezes maior que a de seu amigo.

— Aí eu vi vantagem! — brincou Frank.

— Estou enxergando algumas letras desconexas formando frases que não consigo entender — afirmou Barbara. — Parecem inscrições de uma língua desconhecida ou de algum lugar remoto:

"Mungnga pumåra manhongge!

Mahålang yu' nu todu.

Hu guaiya hamyo na dos!"

— Eu já vi algo escrito dessa forma em algum lugar, mas não estou lembrando onde... — disse Frank.

— Acho que devemos falar com o seu avô, quem sabe ele possa nos ajudar a desvendar esse mistério. Ele adora esse tipo de coisa e seu conhecimento em relação a línguas estranhas é algo extraordinário.

— Boa, pegue seu livro e seu óculos engraçado. Espero que o vovô esteja em casa.

Frank Payne e a Caverna MisteriosaOnde histórias criam vida. Descubra agora