|Capítulo 17|

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Rustan Abromowitz

Eu já estive em inúmeras batalhas que se perdem em minhas lembranças se eu tentar enumerar todas; cada uma com suas peculiaridades, mas nenhuma deixou de ser sangrenta e desumana, ferindo a todos em seu profundo íntimo, ao ver não somente os lugares onde tinham memórias boas sendo dizimadas como se não fosse nada, também presenciaram a perda de alguém amado. Eu me recordo como se fosse ontem, meu pai morrendo e eu simplesmente não consegui mais sair do lugar, abalado com a notícia. Ainda hoje essa lembrança me rodeia, me atormentando, mostrando como o homem pode ser cruel de uma maneira tão fria e horrenda.

Talvez cada homem ao meu lado aqui teria alguma justificativa para ir atrás de algum alemão e querer assassinar com diversas maneiras, uma pior do que a outra; contudo o que valeria a pena? Não posso crer que o fim da vida de meus pais e irmãos poderá defender as minhas ações contra inocentes, que sofreram igual a mim. Tanto russo quanto alemão saíram perdendo, nem todos que estão nesta guerra ansiavam pelo derramamento de sangue e Leah abriu os meus olhos para isso.

Eu estava perdido em meio a dor e sofrimento por saber que saindo da guerra, as minhas mãos estariam cheias de sangue, condenado como assassino e o peso da vida de quem quer que seja, eu a findei. A angústia em minha alma ainda me aflige no meio de meus pesadelos... Poderia eu ter feito diferente, recusando-me a abater mais um ser humano — não sendo separado por nação, raça ou gênero?

Talvez sim, talvez não... Gostando ou não, eu também faço parte da escória humana.

Ao conhecer Leah, tudo a minha volta mudou; o ar ficou mais leve, a dor e cansaço se tornaram mais prazerosos e agradáveis, mas na mesma medida, as minhas dores aumentaram e eu não tinha nem ao menos coragem de pedir perdão pelos meus feitos. E vendo onde estou e para donde vou, como posso me redimir, tendo a consciência de que irei ter que continuar a matar mais vidas inocentes, mesmo que algumas outras não sejam boas e puras?

Ainda sim, não existem argumentos que posso por a mesa e dizer que minhas ações foram tomadas sobre a mais nobre das intenções. Por mais que eu almeje por mudanças, não consigo e nem devo desonrar o meu país, virando as costas para tudo o que passamos nas mãos inimigas. Além de ser preso por me acharem louco e fora de mim, seria exposto ao ridículo, com o meu país me exilando por eu não aceitar mais essas matanças.

As minhas crenças e condutas nessa guerra não me ajudam a sobreviver, somente tomam os meus pensamentos lógicos e os transformam em ações errôneas, guiados pelas emoções momentâneas de sobrevivência e esperança, gerados do amor que tenho por aquela alemã. E, esse novo sentimento florescido em meu coração, atormenta-me com novas decisões e caminhos os quais eu posso percorrer, me dividindo o que eu devo escolher para mim.

Só preciso tomar meu rumo fielmente e não me arrepender e querer retroceder. Renunciar o meu passado, tudo o que eu conheço para um futuro incerto com uma mulher espetacular, que me ama incondicionalmente, ainda que veja as minhas cicatrizes, ela não me condena.

Eu penso muito em qual futuro eu anseio criar com Leah; a vida que ela merece receber, após anos de perda e sofrimento. Talvez eu já tenha a minha resposta, entretanto não possuo ainda coragem de executá-la. Quem sabe eu seja um homem covarde...

Junto a estrada, rumando para Wittenberg, os meus pensamentos começam a esvaecer, libertando-me da culpa que carregava por não conseguir ser o homem que deveria ser para Leah. Esfrego os dedos pela face, suspirando e focando na missão que me foi dada. À frente do comboio, em cima do tanque T-34/85, meus companheiros me acompanham fielmente, todos parecendo mais animados e positivos do que eu me encontrava. Entoavam músicas patrióticas e riam despreocupados, pois sabiam que o tenebroso inimigo estava derrotado e apenas teriam que lidar com estes pequenos focos de resistência do moribundo Reich alemão, que desmoronava.

Amor a Toda ProvaOnde histórias criam vida. Descubra agora