Era preciso colocar as minhas duas mãos em minha boca, para conter minhas altas e escandalosas gargalhadas que saíam livremente de mim. Rustan ria prazerosamente dos meus comentários espontâneos sobre a história que ele me contava. Depois dele me abraçar, consolando-me, o mesmo propôs com todo respeito, falarmos um pouco dos nossos entes queridos, homenageando a existência deles neste mundo, eu concordei sem muita demora; e cá estamos nós, rindo como dois adolescente, que aprontavam travessuras na escola para fazer os colegas riem.
Antes de Rustan continuar a me contar suas aventuras com os irmãos, novamente a enfermeira vem à nossa direção e, sendo obrigada as mesmas palavras pela terceira vez, ela limitá-se a ser gentil como da última vez; percebia-se facilmente o tom alterado para irritado, por estarmos fazendo muito barulho durante a madrugada. Ela nos olha brava, querendo ter a certeza de que ou iríamos dormir e acabar com o tormento dela de precisar vir até nós e nos dar broncas ou simplesmente falaríamos mais baixo, sem incomodar ninguém, inclusive ela.
Concordamos com cabeça em falarmos mais baixos, porém logo eu rio de uma maneira nada elegante e sensual, quando Rustan faz um comentário provocativo referente a enfermeira e que ela deveria estar em nosso lugar, descansando por parecer muito nervosinha. Levo os dedos nos meus lábios, pedindo silêncio a ele, mas o seu olhar traiçoeiro me diziam que o pior ainda estava por vir...
O Rustan, olha pra mim com um sorriso de quem iria fazer besteira, a qualquer instante e eu exprimo os olhos, desejando que ele fique quieto em sua cama. Contudo ele olha ao redor e quando tem certeza que a enfermeira se afastou o suficiente, o mesmo grita com um vozeirão grave, que facilmente acorda algumas pessoas assustadas:
-Saukerl¹ -fico envergonhada e não sei onde pôr o rosto para os olhares ferozes sobre nós, eu o olho repreendendo por agir como uma criança, mas ele não se preocupa nenhum instante com minhas advertências.
(¹Saukerl: porco)
-Você sabe que a enfermeira pode muito bem vir até nós e te expulsar do meu lado, se continuar se portando assim, não sabe? -pergunto ponho a mão sobre minhas bochechas para descobrir o quão afetada estava por suas brincadeiras. Não querendo admitir, mas ele sabia como me fazer sorrir, mesmo em horas inadequadas.
-Meu Deus, você está certa! Não quero ficar longe de você... -revela cheio de vergonha para mim o seu pensamento íntimo e, no mesmo instante que diz, eu não sei se falara realmente isso, querendo expor o que sentia ou fora dito em voz alta, de sem querer... Porém em todas as vezes que Rustan disse algo assim, não fora exatamente por um desses motivos, e sim para envergonhar-me, provocando novas sensações em meu corpo. Mal sabia ele que funcionava perfeitamente.
-Bom menino, -falo de um jeito provocativo, como se eu falasse com uma criança e, mesmo naquela escuridão total, via-se seus olhos me observando intensamente, as bochechas um tanto avermelhadas; não por eu estar entrando, como sempre, em seu jogo, mas pela intensidade do clima entre nós, que cada vez mais se aprofundava e fazíamos-nos perder na vastidão de nossos universos -irá começar a se comportar?
-Sim, eu vou! -ele diz convicto e eu acredito, porém, repentinamente ele vira a cabeça e resmunga de maneira rude para a enfermeira, mesmo que ela não fosse mais capaz de escutar: -Geh schlafen bittere Schlampe².
(²Geh schlafen bittere Schlampe: Vai dormir, vadia amarga)
Eu arregalo os olhos pela maneira inesperada do que ele falou para a enfermeira, minha boca estava aberta totalmente pasma por ele se mostrar bem mais extrovertido do que eu suponha. Sem ter tempo de pensar, eu vou até ele e bato em seu peito o olhado incrédula ainda.
-Senhor Abromowitz! -exclamo encarando seus olhos, que nenhum momento desviavam dos meus -Não pode sair xingando as pessoas assim! Quanta falta de educação!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor a Toda Prova
Historical FictionNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...