|Capítulo 9|

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O clima entre nós, mesmo não querendo, ficou estranho por sabermos que essa amizade nossa chegaria ao fim, junto com este dia. Estava triste demais para tentar amenizar a dor instalada em meu peito e as pontadas em meu coração; eu não desejava sua partida, porém tem certas coisas que estão fora de meu alcance: a sua partida era uma delas. 

Grande parte da manhã eu fiquei em meus pensamentos, lamentando-me por ter que perder outra pessoa, da qual eu gostava muito, mas tendo uma análise de longe, não fazia sentido a minha ilusão de que ele poderia ficar para sempre comigo, ao meu lado, já que ele, em primeiro lugar, é um soldado se recuperando dos ferimentos dos combates, em segundo lugar, é russo -meu suposto inimigo.  

Mesmo com a minha melancolia e falta de vontade alguma para conversar com ele, o Rustan sai de sua cama e se senta ao meu lado, não pedindo desta vez permissão. Dou um espaço maior para ele se acomodar ao meu lado e fico repousando neste silêncio entre nós, ele também não diz nada no primeiro instante para tentar amenizar esse sentimento desconfortável de abandono.

Sem me importar com nada, eu tombo a minha cabeça em seu corpo, querendo conforto naquele momento, o meu vizinho arruma o seu corpo e passa o braço ao redor de meu pequeno corpo, puxando-me ainda mais para ele, algumas lágrimas se formam e eu reconheço que era real aquela informação: ele irá embora.

-Precisa ir mesmo? -pergunto olhando para as minhas mãos inquietas, não conseguindo encarar seus olhos. Sinto o afagar de sua mão em meu braço, acalmando-me, mas eu não conseguia permanecer nesse espírito, quando sabia que em poucas horas ele irá me deixar sozinha neste hospital, que as horas voltarão a serem longas, quase infinitas; os dias se arrastarão tortuosamente, até chegar em algum momento o fim desta guerra, caso chegar ter fim.    

-Infelizmente sim, apesar de não querer, eu tenho que liderar meus homens. Sou responsável por eles e já me ausentei por tempo demais, -Rustan continua falando meio sem jeito, passando lentamente a mão pelo meu braço, ele estava tão triste quanto eu e deixa transparecer em sua voz -mas isso não significa que a nossa amizade precise acabar, eu... Eu quero continuar te vendo, ou eu venho aqui no hospital ou depois que sair, irei na sua casa. Isso não precisa acabar pela distância entre nós. Dependendo de mim, nunca irá acabar.

Subo a cabeça, conseguindo olhá-lo me observando, sua expressão neutra estava carregada por um ar pesado, triste; ele estava tão abalado quanto eu com a notícia, e não havia muita coisa que eu poderia fazer para impedir, a menos que...

-Você vai pra onde? Não quero ficar longe de você... Poderia, quem sabe... me levar junto... Você já se tornou alguém importante pra mim.

Não consigo separar a incredulidade e a loucura de seus olhos após escutar minhas palavras, quase como se eu dissesse para ir à guerra e morrer. Talvez poderiam ter soados um pouco desesperadas demais, porém eu não aguentaria ficar sem ele.

-Me perdoe, eu adoraria levá-la comigo, mas para onde vou é perigoso demais. Fique aqui e eu irei te visitar assim que puder... E, quem sabe, quando a guerra acabar, eu não te leve pra Ucrânia... Lá não é tão ruim quanto parece -ele ri meio sem graça, vendo meus olhos fixos nos dele, toda atenção presa nele; um ruborizar leve dando cores em suas bochechas denunciam-o de estar cheio de vergonha pelo convite inesperado, ele parecia estar com medo de ser rejeitado.

-Mas eles permitirão suas idas e vindas, para visitar-me, uma inimiga ao ver de seu povo? -alinho-me em seu corpo e apoio inocentemente a mão em seu peito, por estar deitada sobre ele. 

-Ninguém irá me impedir de te ver -com apenas sete simples palavras que saíram de seus lábios, meu coração sobressalta o compasso e martela dentro de meu peito fortemente. Não era uma afirmação parco, vazia, dita puramente com o propósito de me acalmar e florescer o clima, para depois seguirmos com nossas vidas... Não! Era muito mais do que aquilo. 

Amor a Toda ProvaOnde histórias criam vida. Descubra agora