Immanuel Yevdokimov
Muitos soldados conheciam este esconderijo, o qual eu arrastei o medroso do Marat, afim de não ter que ser preso por matar um soldado idiota por não calar a boca na frente de todos. O edifício no subúrbio de Berlim, que outrora era um luxuoso apartamento, com poucas casas e muitas áreas de lazer como spa, área de piscina e sauna para os moradores, agora não deixava de ser um habitat destruído pela guerra.
Gostava de rir da ironia da vida: o que antes era motivo para se gabar na face dos outros, nos dias de hoje não possui valor algum, fazendo-os viver iguais aos que um dia julgou e pisou em cima. Sorrio de forma monstruosa, quando piso orgulhosamente sobre os caros e fúteis tecidos de marcas, as jóias espalhadas pelo chão do corredor.
Nunca soube o que é ter todas essas coisas, porém visto com ângulo, eu não precisava dessas coisas, hoje estávamos no mesmo barco. Todos saberão o que é viver em extrema pobreza, fome por dias, a sede... O cheiro de morte impregnado na alma da pessoa. Sorte a minha que estou por cima destes bastardos, que empinaram o nariz arrogante para mim, dizendo que eram eles quem mandavam.
Marat se assusta, como sempre, com a movimentação em um canto escuro do cômodo, mas não deveria ser nada além de ratos e baratas, que agora viviam no luxuoso apartamento. A graveolência de sangue tanto novo quanto velho dos mortos daquele lugar se misturam em um só, deixando um fedor no local desagradável para todos que passam por aqui; mesmo assim eu não sentia todo este incômodo devido à todos os lugares que já frequentei.
-Quantos anos você tem mesmo? -pergunto, afim de quebrar aquele silêncio horrível, que a noite produziu após se despedir do sol.
-Vinte -responde ele se afastando das sombras assombrosas do edifício e procura ficar em um local mais iluminado. Olho para ele estranhando toda aquela quietude, já que Marat não é a pessoa mais calada, ainda mais quando se está prestes a fazer algo que ele não aprova.
-Diga-me, qual é o problema? Você quieto é mais perigoso do que falante -caminho também para a janela observando a tranquilidade do lugar. O que eu mais desejava quando criança era um lugar assim, calmo onde eu pudesse respirar em paz; como isso nunca acontece e eu cresci ouvindo mais de 32 pessoas diferentes, as quais não faziam parte de minha família (já que vivíamos em um antigo prédio, que pertenceu a uma família aristocrata do império russo, moravam comigo mais 32 famílias distintas; todas afundadas no mesmo buraco de pobreza e simplicidade, sendo todos bem humildes com os seus pertences próprios).
-Não é nada... Só estou pensando -diz calmamente submergido em seus pensamentos díspares dos meus. Talvez pela sua juventude, ele fica receoso com as ações, que eu e Vlad tomamos, parecendo ser atos cruéis e desumanos, porém se mudar um pouco a perspectiva e o ângulo, o qual o vê, enxergaria que fazemos o bem a todos.
Os ricos só abusam dos menores porque induzem esse pensamento de inutilidade, que não possuem valor algum para fazer qualquer coisa; fazendo crer que a vida que vive, foi o que o destino preparou. Mas nós quem escrevemos as nossas próprias histórias e, se quiser fazer justiça, é preciso gritar para ser ouvido.
Nunca saberá do que é capaz de fazer se não ultrapassar os limites. Quando se trata em sobrevivência, fazemos até o impensável para não perder a única coisa que nunca se pode recuperar: a vida. E eu já vivi o bastante para saber que algumas ações depravadas são mais necessárias do que pensar no bem ao próximo. Não estaria vivo hoje se tivesse que pensar em 32 pessoas à cada ato cometido.
-Você sabe pensar? Que novidade! -ironizo com arrogância a minha fala, vendo ele contorcer o rosto como uma careta irritada pelo meu comentário e, com isso, eu não deixo de provocar. -E o que o bom medroso está pensando brilhantemente? Talvez, uh, não nos ferrar, para assim continuar com a sua preciosa vida?
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Amor a Toda Prova
Historical FictionNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...