|Capítulo 15|

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Immanuel Yevdokimov

Muitos soldados conheciam este esconderijo, o qual eu arrastei o medroso do Marat, afim de não ter que ser preso por matar um soldado idiota por não calar a boca na frente de todos. O edifício no subúrbio de Berlim, que outrora era um luxuoso apartamento, com poucas casas e muitas áreas de lazer como spa, área de piscina e sauna para os moradores, agora não deixava de ser um habitat destruído pela guerra.

Gostava de rir da ironia da vida: o que antes era motivo para se gabar na face dos outros, nos dias de hoje não possui valor algum, fazendo-os viver iguais aos que um dia julgou e pisou em cima. Sorrio de forma monstruosa, quando piso orgulhosamente sobre os caros e fúteis tecidos de marcas, as jóias espalhadas pelo chão do corredor. 

Nunca soube o que é ter todas essas coisas, porém visto com ângulo, eu não precisava dessas coisas, hoje estávamos no mesmo barco. Todos saberão o que é viver em extrema pobreza, fome por dias, a sede... O cheiro de morte impregnado na alma da pessoa. Sorte a minha que estou por cima destes bastardos, que empinaram o nariz arrogante para mim, dizendo que eram eles quem mandavam.

Marat se assusta, como sempre, com a movimentação em um canto escuro do cômodo, mas não deveria ser nada além de ratos e baratas, que agora viviam no luxuoso apartamento. A graveolência de sangue tanto novo quanto velho dos mortos daquele lugar se misturam em um só, deixando um fedor no local desagradável para todos que passam por aqui; mesmo assim eu não sentia todo este incômodo devido à todos os lugares que já frequentei.

-Quantos anos você tem mesmo? -pergunto, afim de quebrar aquele silêncio horrível, que a noite produziu após se despedir do sol. 

-Vinte -responde ele se afastando das sombras assombrosas do edifício e procura ficar em um local mais iluminado. Olho para ele estranhando toda aquela quietude, já que Marat não é a pessoa mais calada, ainda mais quando se está prestes a fazer algo que ele não aprova.

-Diga-me, qual é o problema? Você quieto é mais perigoso do que falante -caminho também para a janela observando a tranquilidade do lugar. O que eu mais desejava quando criança era um lugar assim, calmo onde eu pudesse respirar em paz; como isso nunca acontece e eu cresci ouvindo mais de 32 pessoas diferentes, as quais não faziam parte de minha família (já que vivíamos em um antigo prédio, que pertenceu a uma família aristocrata do império russo, moravam comigo mais 32 famílias distintas; todas afundadas no mesmo buraco de pobreza e simplicidade, sendo todos bem humildes com os seus pertences próprios).

-Não é nada... Só estou pensando -diz calmamente submergido em seus pensamentos díspares dos meus. Talvez pela sua juventude, ele fica receoso com as ações, que eu e Vlad tomamos, parecendo ser atos cruéis e desumanos, porém se mudar um pouco a perspectiva e o ângulo, o qual o vê, enxergaria que fazemos o bem a todos.

Os ricos só abusam dos menores porque induzem esse pensamento de inutilidade, que não possuem valor algum para fazer qualquer coisa; fazendo crer que a vida que vive, foi o que o destino preparou. Mas nós quem escrevemos as nossas próprias histórias e, se quiser fazer justiça, é preciso gritar para ser ouvido.

Nunca saberá do que é capaz de fazer se não ultrapassar os limites. Quando se trata em sobrevivência, fazemos até o impensável para não perder a única coisa que nunca se pode recuperar: a vida. E eu já vivi o bastante para saber que algumas ações depravadas são mais necessárias do que pensar no bem ao próximo. Não estaria vivo hoje se tivesse que pensar em 32 pessoas à cada ato cometido. 

-Você sabe pensar? Que novidade! -ironizo com arrogância a minha fala, vendo ele contorcer o rosto como uma careta irritada pelo meu comentário e, com isso, eu não deixo de provocar. -E o que o bom medroso está pensando brilhantemente? Talvez, uh, não nos ferrar, para assim continuar com a sua preciosa vida?

Amor a Toda ProvaOnde histórias criam vida. Descubra agora