Leah Pfeifer
Oito anos depois
19 de Outubro de 1953
A luz atravessava as persianas da janela, iluminando o quarto com o majestoso clima de outono. Ainda estava em minha cama quando o sol nasceu e brilhou em toda a extensão do cômodo. Era hora de levantar. Lentamente eu me viro para o lado na sua procura, porém, somente encontro lençóis e a coberta de urso.
Rio por sua mania de sempre acordar cedo e não esperar comigo em nossa cama até eu despertar, raramente escutava seus passos pela casa, o que comumente causava sustos em mim sem a intenção. Eu me forço a espreguiçar e me levantar da cama, mas o calor das cobertas era convidativo demais para eu as rejeitá-las, com isso, eu me embrulho no pelo de urso e ando pelo quarto, acostumando com o ar mais gélido.
Abraço ainda mais o meu corpo sentindo o cheio delicioso de meu marido na coberta. Minhas bochechas não deixam de corar ao pensar nele e no que fizemos ontem. Limpo a garganta e abano os meus pensamentos para longe, não era uma hora apropriada para se recordar esses tipos de coisas.
Descalça, eu saio do quarto e vejo primeiro a cabeleira com os fios dourado vindo correndo em minha direção para então acompanhar com os olhos a segunda cabeça, loiro escuro igual aos meus. Eu rio percebendo que a segunda criança perseguia a primeira e não para até conseguir alcançá-la.
A menina loira chega até mim e agarra uma de minhas pernas, escondendo-se de seu irmão caçula, que a tenta pegar, mas ela desvia. Isso me recordava quando fazia a mesma brincadeira com o Klaus, contudo, ao invés de nunca ceder a vitória, eu fingia ser devagar para ele se divertir. Eu sentia saudades daquela época.
— Mamãe, mamãe, o papai pediu para eu te acordar! — Katherine diz puxando a coberta, chamando a minha atenção. — Mas o Kuz queria ir de novo!
Aquilo explicava porque a casa estava tão agitada logo cedo, deveria ser por volta dás sete horas, mas aquelas crianças tinham uma energia infinita.
— Porque você já foi duas vezes! Eu também posso! — exclama o meu filho cruzando os braços e fitando a sua irmã sem muito amor no coração. Mal sabia ele que possuía a teimosia dos Pfeifer. Depois ele volta os seus olhinhos para mim e eu encaro a semelhança de meu marido em sua face. Aqueles olhos azuis infinitos eram do mesmo tom do pai. Kuz era loiro também, porém um louro mais escuro, quase uma mistura entre os meus fios com os dele. — Não é verdade, mamãe?
Eu me ajoelho na frente deles, pouso a mão cada uma no ombro de um e digo com calma e tranquilidade semelhante ao que minha mãe fazia, quando eu e Klaus brigávamos por alguma besteira:
— É sim, meu filho. Então, que tal amanhã os dois virem me acordar e fazermos uma guerra de travesseiro? Ou fazer montinho no papai?
Os meus filhos abrem um sorriso sapeca, de criança que quer aprontar alguma, e soltam risinhos ao se olharem. Eu rio também imaginando a cena toda. Levantando-me, eu seguro a mão de cada um e vamos em direção a cozinha, aonde eu encontro o meu marido preparando o nosso desjejum. Ao vê-lo meu coração pula um compasso, errando logo em sequência todos os meus batimentos. Estar apaixonada por esse homem é avassalador, casada então, surreal.
Rustan não era apenas o pacote completo. Ele é o pedido, com brindes e extras e mais extras, todos os seus detalhes desconhecidos, surpreendentes e, dia após dia, eu aprendia uma coisa nova ao seu respeito. Aquele soldado tinha um coração mole ao ver seus filhos fazendo arte, ria a beça, às vezes até ajudava a fazer a bagunça! O meu marido é atencioso e cuidadoso, nunca nos faltou nada em nossa mesa.
Ele me pega com aquele sorriso bobo no rosto, observando-o atentamente, isso o faz parar de arrumar a mesa e se concentrar mim, sustentando o fitar. Engulo em seco. Quando ele me olhava assim, com aquela atenção minuciosa, o meu coração dava cambalhotas e despertava todas as borboletas de meu estômago. O meu erro foi prolongar o nosso olhar — ainda sim eu não desvio.
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Amor a Toda Prova
Tarihi KurguNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...