Rustan Abromowitz
Quando estava me retirando do apartamento de Leah, eu me recordo de um assunto urgente que ficou pendente e eu não poderia posterga-lo. Limpo a garganta assim que peço ao meu amigo ir em frente e então viro-me para aquele soldado e o chamo:
- Johannes, podemos conversar um minuto? - no mesmo instante Leah arregala os olhos e prende a respiração, trocando olhares entre eu e ele, com medo de uma nova briga. Mas eu acalmo o seu temor com um sorriso sincero, eu observo os ombros relaxarem novamente e ela soltar a respiração, me olhando com certa timidez com a minha atenção sobre ela.
- Podemos, vamos para o corredor - ele fala se levantando do lado de Leah, batendo as mãos uma contra a outra para limpar da sujeira do chão e depois das roupas, me acompanhando para fora do ambiente.
Eu o espero até fechar a porta para ficarmos frente a frente para termos aquela conversa de homem. Ele cruza os braço um pouco incomodado por eu estar sozinho com ele e eu acabo fazendo o mesmo por sua postura desconfiada. Eu afirmo querendo amenizar o clima:
- Se está preocupado por eu saber de seu paradeiro e te entregar para as autoridades, não fique - seus olhos se voltam atentos aos meus e continuam me encarando -, eu não sou do tipo que entrega... amigos.
- Nós não somos amigos - ele me retruca com um tom debochado, impaciente, mas não parecia que iria sair do lugar até realmente saber o motivo para eu tê-lo chamado.
- Não, de fato nós não somos - concordo com ele descruzando os braços para coçar a cabeça. Nunca fui bom em impor a minha voz, mas nada que um diálogo amigável não resolvesse as coisas. - Contudo, Leah é sua amiga e ela confia no senhor, com isso, pelo julgamento de caráter, eu lhe darei um voto de confiança, se o senhor esquecer essa história de pretendente para com ela. Deve saber que o meu comprometimento com aquela senhorita é sério e eu não estou brincando com os sentimentos dela.
- Acho bom mesmo, por mais de não gostar de saber que ela preferiu você a mim - ele também descruza os braços e coça o ombro com a mão oposta, depois leva para a nuca e me olha com desdém, pensando como ela teria preferido eu a ele.
- Eu ficarei fora por alguns dias, podem se tornar meses, por favor, cuide dela - eu lhe peço como se estivesse entregando o meu coração, porque Leah se tornou a pessoa mais importante de minha vida, a única razão para eu continuar a viver. Ela me deu motivos para sonhar e agora não posso voltar atrás e pensar como seria a minha vida sem a presença dela.
Ele assente com calma e espreme os lábios meio a contra gosto de saber que cuidaria dela por mim e para mim, mesmo assim, ele me surpreende ao responder:
- Vá em paz, mas caso não retornar, eu não desperdiçarei a minha chance. Então acho bom o senhor voltar, pois sei que odiaria saber que ela terminou a história comigo, consigo até ver seus ossos se revirando no caixão!
Eu rio com comentário e reviro a cabeça.
- Nem nos seus sonhos - ele acompanha o riso e estende a mão para mim como símbolo de paz entre nós, uma trégua, pelo menos entre eu e ele não haveria mais inimizade. Abro um sorriso meio sem jeito e aperto a mão dele, sabendo que pela iniciativa, ele confiava minimamente em mim, pelo menos o suficiente para saber que cada palavra proferida por mim eram verdadeiras.
Eu aceno para ele, informando que eu já estava de partida, virando as minhas costas após um fraco sorriso expresso por ele para mim. Meus passos se arrastam igual ao meu coração pesaroso em saber que eu teria que deixá-la, mas eu sabia que seria por uma boa causa, algo que consequentemente a alegraria - ou torturaria mais a sua dor e angustia, caso não encontrá-lo vivo. Quando então escuto antes de virar o corredor:
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Amor a Toda Prova
Ficção HistóricaNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...