|Capítulo 5|

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Meu rosto estava encharcado por conta das minhas lágrimas, que não paravam de escorrer, por conta do medo que sentia ao olhá-los ali em minha frente. Como aquele homem não entendia o meu desespero? Como ele não enxergava que eram eles os homens que haviam abusado de mim? E o mais assustador: como esses homens tinham a ousadia de me olhar e caçoar de mim?

Quando acho que os olhares maldosos continuariam, o líder deles começa a conversar com eles em russo e os mesmos anuem com a cabeça e arrumam a postura, como se estivessem prontos para irem embora. Fico apenas olhando tudo de longe, enquanto o líder os olhava, nenhum abaixava a guarda para cometer alguma besteira e se entregar, mas assim que ele me olhava, um dos três fazia um gesto obsceno, me apavorando ainda mais. 

Aquele soldado, Vlad Zaitsev, ao se retirar lança ordinariamente um beijo para mim e pisca o olho, meu coração quase para de bater. Eu não o conhecia, mas pela maneira que ficou tenso comigo ali, ao lado do líder deles, com certeza ele voltará para garantir que eu não saia viva deste hospital.  

Volto a ficar sozinha com aquele soldado e o silêncio desconcertante se instala entre nós, até ele me chamar com um gesto delicado com a mão boa, me despertando lentamente de meus pensamentos e pedindo permissão para sentar-se ao meu lado, novamente. Quando ele se senta na cama, sinto repentinamente a mão do homem repousando em mim -parecendo meio incerto se o faria ou não- e gentilmente me apoia em seu peito esquerdo. 

Ele não fazia ideia do que acontecia dentro de mim, mas aquele momento o que ele fez, foi perfeito. Minhas lágrimas se transformam em um sentimento reconfortante por saber que tinha alguém a me olhar, enquanto eu não tinha um pé totalmente dentro da realidade. 

O soldado me acalma e eu fico ali em seu peito pensando no que aconteceria agora com a minha vida, qual rumo tomaria... Viver mostrava ser uma tarefa difícil demais, ainda mais com tantas novas cicatrizes que precisariam ser curadas. 

Suspiro cansada e fecho os olhos desejando a morte. Talvez morrer não seja tão ruim como me falaram. Pelo menos eu não teria que aguentar todo esse sofrimento, todas as novas dores e pesadelos. Por que isso tinha que me acontecer? Por que as pessoas fazem isso? Machucar os outros sem ter um pingo de humanidade, de compaixão e pensar duas vezes se é o certo... 

Sinto sua mão me afagando e percebo que estava em seus braços, rapidamente me afasto por certa timidez de estar deitada nele e ruborizo ao encontrar os seus olhos azuis profundos, me olhando com preocupação. 

-Como está, senhorita? Melhor? -seu tom zeloso mexe comigo, porque em meio todo aquele caos, existia ainda alguém bom. Parecia impossível, mas ele conseguia trazer paz à guerra dentro de mim, por simplesmente se importar comigo, mesmo sendo uma total estranha para ele. 

Balanço a cabeça como um não e levo a mão em meu rosto, impedindo de novas lágrimas caiem sem parar, expondo o meu interior, que estava desmoronado. Engulo o choro e o olho destruída, simplesmente cansada demais. O homem não diz muita coisa com minha resposta, apenas anue pensativamente e abre um sorrio fraco, logo ficando com aquela expressão séria em seu rosto.

-Se tem algo que eu possa fazer... -acrescenta amigavelmente, na esperança de me confortar, abro um sorriso em agradecimento e faço um sim.

O silêncio aos pouco retorna, mas não é incomodo como eu me lembrava ser, ele só era meio frio, vazio, sem vida. Penso inúmeras vezes em falar algo ou perguntar para quebrar aquele muro que nos separava, com isso, eu digo por fim:

-Eu ainda não sei o seu nome... -aquele par de oceanos se voltam para mim diferentes, como se tivesse gostado do meu empenho em tentar conversar com ele gentilmente, já que eu o havia culpado pelo abuso e ele se sentia mal ou responsável pelo o que me acontecera.

Amor a Toda ProvaOnde histórias criam vida. Descubra agora