|Capítulo 44|

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Rustan Abromowitz

10 de maio de 1945

Antes mesmo do sol raiar lá estava eu, batendo na porta da sala de Pyotr esperando que ele me atendesse com pressa. A ansiedade me tomava e eu mal consegui dormir esta noite, pois tinha muitas coisas para se pensar, muitas coisas para se fazer e muito pouco tempo para espera. Bato mais uma vez e volto a minha postura impecável.

Eu sabia que ele já estava acordado por causa da luz que corria por debaixo da porta, revelando que alguém do lado de dentro usava a sala - e somente ele tinha permissão de fazê-lo -, e também porque ele não era o tipo do homem que acorda depois que o sol revela os seus primeiros raios solares. O coronel sempre se mostrou ser um homem que prefere estar preparado para tudo o que possa vir a acontecer no dia a ser pego desprevenido, e era justamente por isso que ele já estava acordado.

Escuto passos devagar serem dados em minha direção, muito embora ele poderia muito bem ordenar para quem quer que fosse ir embora ou pedir para entrar, ele vem me atender, mas não acredito que ele saiba que sou eu. A porta se abre revelando meu segundo pai com um semblante preocupado e cansado, as olheiras pareciam mais fundas do que eu recordava e isso me deixa atento aos seus movimentos.

- Ah, é você - ele diz me convidando para entrar e voltando a sua cadeira -, eu achei que, cedo ou tarde, viria me ver agora que a guerra acabou para colocar alguns assuntos pendentes em dia.

Eu sabia o que ele queria me dizer, mas a resposta seria "não", eu não iria abrir mão de Leah, porque eu compreendia na situação na qual estava me submetendo ao desafiar ficar com ela e não com meu país. Mas eu preferiria tardar aquele assunto e deixá-lo cair em esquecimento para o mais longe possível, pois quando esse dia chegar, eu pressinto que terei que ir a guerra sozinho e eu serei o inimigo do meu povo.

- Na verdade - eu começo a dizer ficando frente a frente com ele, sempre em uma posição de respeito -, eu vim pedir a sua ajuda com outro assunto, um com urgência.

Ele me olha entretido e curioso, se apoiando nas mãos sobre a mesa e faz sinal para que eu continue. Respiro fundo e organizo os meus pensamentos para não atrapalhar tudo por causa do nervosismo que atravessava o meu corpo por saber que aquilo era tão arriscado quanto pedir para ficar com Leah. Mesmo assim eu me arrisco, porque a causa valia a pena:

- Peço permissão para investigar alguns dos nossos prisioneiros, senhor.

Ele franze o cenho, mas sua expressão de leveza não desfaz de sua face, seus olhos brilharam com minha juventude, achando que eu poderia lutar contra o mundo para obter o que eu desejava - talvez a minha impulsividade o recordava de sua infância e adolescência e por isso que me lançava aquele olhar de pai, quando o filho diz algo novo e importante.

- E por qual razão deseja entrevistá-los, soldado? - ele me pergunta com casualmente, apesar de não precisarmos de formalidade.

Eu o conhecia bem o suficiente para saber que é melhor ir direto ao ponto a dar voltas e voltas e não chegar em lugar algum, com isso, eu limpo mais uma vez a garganta e digo:

- Eu gostaria de iniciar uma busca particular pelo irmão desaparecido de Leah, ela quer saber de seu paradeiro, porém, pelas circunstâncias, ela não terá esse retorno o mais breve possível. Sendo assim, eu me voluntariei para fazê-lo - enquanto eu falava, minha voz diminuía e se tornou ruído, que me obrigava a tossir e impor o meu tom, aquele pedido era sério demais e eu não queria vacilar com ela -, senhor.

O coronel cruza os braços e me olha com uma expressão não muito amigável, contudo, eu não entendia muito bem o que ele pensava, decerto, pois de um lado parecia querer que eu fosse e me aventurasse, mas de outro não ficava nenhum pouco feliz com o meu péssimo desempenho. Eu sempre fui um bom soldado, no entanto, ultimamente pode-se considerar o meu papel como capitão fora da linha e meu comportamento como soldado mais rebelde e leviano.

Amor a Toda ProvaOnde histórias criam vida. Descubra agora