Leah Pfeifer
11 de Julho de 1945
Eu passei mais uma noite em claro, tentando pensar em como Rustan estava e se voltaria logo. Nunca gostei dessa separação entre eu e um ente querido, pois a primeira vez que isso me ocorreu, papai faleceu e eu nunca tive a oportunidade de conversar com eles sobre alguns assuntos pendentes, que ele me prometeu que falaríamos assim que retornasse. Não aguento o silêncio em que a cidade se encontra, mergulhada nessa falsa esperança de que tudo vai bem e que logo voltaríamos as rotinas costumeiras.
Nada está bem. Nunca seremos como antigamente.
Paro com o tremor de minha perna, que estava apoiada no chão e as cruzo na cama, um modo eficiente de controlar o meu nervosismo crescente. Porém, mais tarde eu volto a mexer as minhas mãos em vez de pernas, significando que não suportaria mais aquela calmaria.
Saio de minha cama e perambulo o apartamento, olhando os destroços no cômodo com a luz fraca do solar que invadia todos os furos da parede e os buracos deixados por balas e bombas jogadas próximas daqui. As sombras dançavam sobre a minha visão e eu sorriso tentando entender o que se mexia assim.
Pescoço para olhar para fora e descobrir um pano preso em uma das paredes acidentais, poderia ter se enroscado com a ventania de ontem, que preludia uma tempestade. Se acontecesse uma chuva ali, eu teria que repensar o meu abrigo, pois me encontrava totalmente despreparada para suportar uma chuva forte.
Volto a andar pelo apartamento, indo em direção da saída, sempre com passos silenciosos para não acordar Johannes e Beike, que começaram a dormir juntos ao meu lado. Fui surpreendida quando meu amigo confessou que tinha certa quedinha pela minha prima, porque eu não esperava por aquela notícia. Ainda mais por saber do passado dela e não senti-la pronta e preparada para um novo recomeço. Porém, quem sou eu para falar isso, sendo que foi exatamente isso que me sucedeu após conhecer Rustan?
Depois que Rustan foi cumprir sua missão por ordens superiores, eu fiz Johannes abrir a boca para saber sobre o que eles conversaram quando ficaram sozinhos no corredor. Ele me relatou que era dever dele cuidar de mim enquanto Rustan não voltasse, também me falou que tentaria me fazer mudar de ideia, mas eu ri na mesma hora, porque era impossível eu deixar de me apaixonar por Rustan, o homem que salvou a minha vida e me ensinou a viver novamente.
Já não tinha volta, pois amar Rustan era o mesmo que respirar. Esse sentimento fincou em meu coração e criou raízes profundas, que somente com a morte poderia me afastar dele, porém, nunca seria possível apagar essa chama ardente em meu peito.
E foi assim que ele percebeu que não teria nenhuma chance mais comigo, pois eu só tinha olhos para o meu soldado soviético. Johannes começou a investir em Beike, que até agora não deu nenhuma brecha naquele muro impenetrável, mas eu dava umas cutucadas para ajudar com as penetradas, e funcionou - um pouco, todavia sempre são com os pequenos passos que alcançamos longas distâncias.
Saio de minha casa e ando pelo corredor fantasmagórico somente ouvindo os roedores correrem de um lado para o outro em busca de comida e isso me lembra que acabou o último pote de ração que Rustan havia trazido. Estávamos dividindo tudo em três para que tivéssemos mais chances de sobreviver, mas também comecei a vender os cigarros deixamos por Rustan para que ganhasse um extra. Nos primeiros dias os homens achavam que eu vendia o meu corpo, mas logo coloquei eles em seus devidos lugares e não tentaram mais nenhuma gracinha.
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Amor a Toda Prova
Ficción históricaNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...