Rustan Abromowitz
Percorrer pela cidade de mãos dadas com Leah era uma das metas cumpridas, que eu havia planejado em fazer. Mesmo parecendo algo tão banal, eu nunca havia segurado a mão de uma mulher daquela forma, sincera e apaixonante. Com Kuz costumava a me dizer em todas as festas: eu precisava viver de verdade do que somente existir para eu mesmo. Não é ruim estudar, ser esforçado e obstinado a conquistar algo na vida, porém, o principal não pode ser posto de lado.
Em minha infância, eu passava muito tempo com os livros facultativos, enfiado com o nariz neles aonde quer que eu fosse, não me importando muito com as pessoas ao meu redor; mas Kuz incomodado com o meu jeito, sempre roubava o livro de minhas mãos e me lembrar de aproveitar o momento, pois logo aquilo passaria e eu não teria nenhuma lembrança boa quando estivesse velho e rabugento. Era verdade tudo o que ele me falou: por ser um tanto antissocial, eu tendia a me esconder das emoções humanas, por não saber lidar com fortes sentimentos vindas dos outros para mim - muitas vezes não controlava as minhas -, com isso, eu tentava ao máximo não sentir tudo o que a vida me proporcionava.
No entanto, ele sendo tão diferente de mim, me impulsionava a experimentar diversos sentimentos e eu permitia esse tipo de atitude comigo, por ele ser um dos meus únicos amigos - se contar com os meus irmãos, naquela época. Kuz me salvou inúmeras vezes e em vários sentidos e situações, sou eternamente grato a tudo o que ele fez por mim, porque se não fosse por ele, hoje eu nunca estaria de mãos dadas com Leah, circulando pelas ruas destruídas de Berlim e enxergando o "tudo posso" naquele lugar que só tinha lixo.
Faço carinho com o polegar na mão de Leah, que aceita apertando os meus dedos gentilmente, reagindo ao meu toque. Eu não queria apressar as coisas entre nós e galgar para outra posição naquele relacionamento que estávamos tendo, porque eu a via como uma mulher digna e pura, apesar do que sucedeu-lhe no passado. Ela merecia mais do que o sol e as estrelas, eu me sentia na obrigação de cumprir os seus sonhos de garotinha, porque suas conquistas, dia após dia, não passaram desapercebidas por mim. E eu farei tudo o que estiver a minha altura.
Aos poucos eu vejo o caminho familiar se estender pelos meus olhos, indicando que logo passaríamos pelo quartel general. Eu já a havia levado para ver dois locais, porém, ela não pareceu muito animada com a ideia de morar sozinha por ela; sentia a relutância dela em abandonar tudo o que conhecia e se sentia segura para entrar de cabeça em um lugar totalmente novo e sem nenhuma lembrança ou presença de intimidade de amigos e família. Deve estar sendo bem difícil a ela essa situação.
Eu sabia que não deveria efetuar o que estava prestes a materializar em minha mente, porém, eu não evito e a puxo para os meus braços, desejando sentir mais do calor dela; somente a mão não me bastava. Meu braço passa por cima de seus ombros e lá se vai o pensamento de não avançar tão rapidamente a nossa relação. Mentalmente eu estava me bofeteando por ter feito aquilo, mesmo ela sabendo que eu fazia muitas coisas que me vinham inesperadamente.
- Rus-Rustan! -ela exclama surpresa e completamente corada com o corpo mais colado no meu, sentindo seus batimentos acelerados e o calor subir. Apesar de passar todos os dias com ela, por causa do período de descanso de minha missão, eu não me cansava em fazê-la corar e me lançar aquele olhar de aviso. - E se alguém nos ver? O senhor é tão louco e sem juízo as vezes!
Ela reclama, mas não parecia inteiramente brava com a minha ação imprópria. Leah se ajeita em meus braços e me abraça retribuindo o meu, descansando a cabeça em meu ombro, enfiando o rosto em meu pescoço de modo gentil e tímido. Dava para perceber a ingenuidade dela, que nunca havia ficado com um homem ou feito um pouco mais de alguns beijos ardentes. Não me importava a inocência dela, justamente o contrário, esse charme extra dela me fascinava e surpreendia.
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Amor a Toda Prova
Historical FictionNo final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra produz, sentindo a extrema necessidade pela sobrevivência, ainda mais com a notícia do avanço dos so...