Capítulo 35

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LOUIS

Estou morando sozinho.

Pela primeira vez na vida, pago aluguel.

É um estúdio antigo e minúsculo entre o Upper East Side e o Harlem. Cheira a comida tailandesa e tem vista para um centro de reabilitação.

Mas é meu. Pago com meu salário, que recebo de uma empresa de verdade, não de um executivo qualquer que nem se dá ao trabalho de cuidar do filho problemático.

Estou trabalhando para o pai de Eleanor. (Eu sei, é irônico.) Como um completo idiota, fiquei tão envolvido em minha obsessão por Harry que nem pensei no que faria quando os três meses passassem. Saí pela porta aquele dia com o coração partido e nenhuma perspectiva de conseguir um emprego.

Então, fiz o impensável. Liguei para o sr. Calder e pedi um estágio ou o que fosse. Depois da minha tentativa espetacularmente desastrosa de ser cuidador, pensei que talvez o mundo dos negócios fosse melhor para mim, no fim das contas.

Estou fazendo algumas aulas numa faculdade comunitária para conseguir meu diploma. Meu pais estão desesperados que eu tenha feito tudo isso só para voltar atrás. Estão certos num ponto: teria sido mais fácil simplesmente cursar o último ano na NYU, junto com meus amigos. Mas não sei como explicar que aquilo não era pra mim. Precisava fazer algumas coisas antes, descobrir mais sobre mim mesmo antes de me dar conta de que, sim, a ideia original do mundo dos negócios era escolha certa o tempo todo.

Mesmo assim...

O salário inicial de assistente de marketing não sobra muito pra luxos. A certeza de ter água quente é coisa do passado, e o aquecedor do meu prédio parece ter dois níveis: "desligado" e "pelando".

Mas estou conseguindo. Sozinho.

No entanto, a verdade é que, quando vejo meus pais uma vez por semana pra jantar e eles me perguntam se preciso de dinheiro ou mencionam que seus amigos vão passar o resto do ano em Paris e poderia ficar de graça no apartamento deles na Park Avenue, fico tentado a aceitar a oferta. Só um pouquinho.

Deveria existir todo um orgulho em fazer as coisas por si mesmo, e acho que há, mas sinto falta dos restaurantes badalados e da eterna conta bancária só para comprar roupas da minha vida passada. Estaria mentindo se dissesse que não era mais fácil antes. Mas também era meio vazio.

O tempo que passei no Maine, embora tivesse sido noventa e cinco por cento um desastre, também me mostrou que eu prefiro errar sozinho do que fazer a coisa certa por causa de outra pessoa. Foi por isso que não deu certo com Eleanor. Eu estava com ela porque deveria estar. O mesmo aconteceu com a NYU. Eu estava lá porque deveria ser o aluno perfeito.

E agora?

Agora estou no caminho certo.

Bom, pra ser sincero, me sinto um pouco perdido. Mas pelo menos comecei a entender o que eu não quero, e é um começo. Sou voluntário no sopão da Décima Primeira Avenida todo domingo. Não porque queira continuar me punindo pelos erros do passado, mas porque parece certo.

Cheguei à conclusão de que o melhor que cada um de nós pode fazer é reparar da melhor forma possível os erros que cometemos com as pessoas que magoamos, e se esforçar mais no futuro. Um dia por vez e tudo o mais.

Mas não consigo esquecer Harry. Quero tirá-lo da minha cabeça. Passo muito do meu tempo fazendo isso. Ou tentando, pelo menos.

É sexta à tarde. Certamente o momento errado para se lamentar. Quando só estudava, eu achava que as tardes de sexta eram maravilhosas, mas a euforia diminui agora que trabalho. Não me entenda mal, gosto do emprego. Como assistente de marketing, sou mais como o assistente do assistente do gerente, o que significa basicamente que faço cópias. Mas, depois de apenas três semanas, vejo um caminho claro à frente, e isso é meio legal. Não sei se vou me ater a ele, mas até agora me parece muito mais adequado que a história de ser cuidador.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora