Capítulo 17

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LOUIS

Nunca fui a um bar sozinho.

E não posso dizer que imaginava que minha primeira incursão solitária na bebedeira seria em um barzinho qualquer nas imediações de Bar Harbor. Hoje me obrigo a sair.

Temo que a reclusão de Harry possa ser contagiosa. Se eu não interagir um pouco com outras pessoas, vou me tornar tão hostil quanto ele, uma fera infeliz que não é repreendida por seu péssimo comportamento.

Na verdade, isso é apenas uma parte do motivo pelo qual saí de casa hoje. Pra ser honesto, achei que ele talvez viesse comigo. Não que eu tenha convidado. Não convidei de propósito, porque fui tolo de achar que Harry não ia querer ficar totalmente sozinho, o que o motivaria a sair de casa por vontade própria. Meu plano era dar a impressão de que eu queria que ele ficasse em casa. Cozinhei o que o Google alegou ser "o melhor chili do mundo", o evitei o dia todo (na verdade, foi ele quem me evitou, mas tanto faz) e me vesti com todo o cuidado para ficar sexy sem parecer que me esforcei muito pra isso. 

Só que Harry não caiu na minha armadilha. Imagino que o fato de ele ter saído da sua toca em busca de comida pode ser considerado um progresso, mas a verdade é que estou decepcionado. Não é certo um cara de vinte e poucos ficar trancado em casa por anos. Quanto tempo até que todo o isolamento o transforme em uma daqueles ermitões que não conseguem mais se adaptar à sociedade?

Estacionei em frente ao Frenchy's. Quero dar meia-volta e ir para casa, no entanto, a conversa com Lindy mais cedo continua martelando na minha cabeça. Não é porque ele finge estar morto por dentro que você também precisa. Pode não ser Nova York, mas tem um pessoal legal aqui. Vá se divertir!

Tá, admito, o papo foi um tanto fofo e esquisito, mas Lindy estava certa. Não quero terminar como Harry: socialmente atrofiado e num caminho sem volta para a bizarrice.

Saio do carro.

Do lado de fora, o Frenchy's — imagino que o nome se deva ao fato de ficar na Frenchman Bay — parece uma combinação de um resort de esqui e uma espelunca de beira de estrada. As vigas de madeira contribuem para o clima acolhedor e familiar, enquanto o neon de cerveja na janela deixa claro o que eles vendem. Do lado direito tem um deque coberto, que eu imagino que seja o lugar onde as pessoas ficam em uma dia limpo de verão, só que no fim de setembro ele está deserto. No entanto, o ruído fraco de música mostra que, lá dentro, pelo menos, tem alguma atividade.

Inspiro fundo e abro a porta.

Meu maior medo é de que o silêncio tome conta do lugar e todo mundo vire pra encarar o forasteiro. O melhor que posso esperar é que ninguém me olhe e eu encontre uma banqueta livre no bar, de preferência na ponta, onde eu possa me aclimatar.

A realidade não é nem uma coisa, nem outra. Um rock das antigas está tocando quando entro. Embora a maior parte da clientela esteja ocupada demais tomando uísque e cerveja para se dar conta da minha chegada, as pessoas das mesas mais próximas à porta viram para me olhar. E elas ficam me encarando um pouco.

Lindy me garantiu que esse era o ponto de encontro dos locais e que eu ia me encaixar perfeitamente aqui. O problema é que me esqueci do detalhe de que não sou local. Eu não me encaixo aqui. Nem um pouco. Mesmo se minhas roupas não gritassem "garoto da cidade grande" (elas gritam). A maior parte da clientela é formada por homens. Pescadores, a julgar pelas roupas.

Ainda assim, não é tão constrangedor quanto eu imaginava. Claro que é desconfortável, mas a maior parte dos olhares é de curiosidade, não é lascivo ou malicioso. Arrisco um sorriso para um casal de meia-idade, e a mulher retribui com um meio sorriso, enquanto o homem volta a checar o celular e a tomar sua cerveja, totalmente desinteressado.

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora