Capítulo 10

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HARRY

Não é a primeira vez que eu acordo ensopado de suor. Mas é a primeira vez, desde que estive internado no hospital, que outra pessoa está comigo quando desperto.

Não me lembro bem dos enfermeiros, mas arrisco dizer que nenhuma deles se parecia com Louis Tomlinson ajoelhado na minha cama, usando apenas um shorts de tecido fino e transparente.

Então, eu me dou conta de que ele está aqui. No meu quarto.

Sei qual é o motivo.

O pesadelo. Devo ter gritado, e Louis veio descobrir por quê.

—Cai fora, porra - ordeno, me sentando e rolando para fora da cama antes que ele possa me tocar. —Cai fora daqui!

—Você estava gritando - ele diz, calmo, enquanto desce da cama, voltando-se para mim. Estou completamente suado e nervoso.

—É claro que estou gritando. É a porra de uma guerra.

Levo alguns segundos para compreender o que falei, então passo as mãos pelo meu rosto para ver se acordo. Tento ver algo que não seja Alex morrendo por minha culpa.

—Sai daqui - insisto.

—Com que frequência isso acontece?

Eu o ignoro e vou até o aparador, onde me sirvo de um copo da primeira garrafa em que boto as mãos.

—Seria melhor tomar água - ele palpita. —Você está suando; o álcool só vai piorar.

—É? Água seria melhor? Água vai consertar tudo? - pergunto, com ironia. —Você não sabe porra nenhuma, ursinho de pelúcia

—Legal -  ele retruca. —Muito original. Eu não ligo para um palavrão de vez em quando, mas você está começando a ficar repetitivo.

Viro o uísque, apreciando a queimação na garganta. Sirvo outra dose, pensando em quantas vão ser necessárias dessa vez. Quantos copos serão suficientes para amortecer a dor.

Sinto dedos magros e frios envolvendo o meu pulso. 

—Para.

Solto a mão e o empurro. Sem muita força, mas o bastante para Louis cambalear.

A parte decente que ainda existe em mim, que é bem pequena, quer esticar a mão para ajudá-lo. Quer pedir desculpas. Não, quer implorar para que ele me perdoe, porque Harry Styles  não é do tipo que desconta suas frustrações as pessoas.

Mas ele está perto demais, e sua presença é tão equivocada que, em vez de me desculpar, viro as costas para Louis e levo as mãos à cabeça, tentando respirar fundo. Meu maior desejo é mergulhar no nada e nunca mais voltar.

—Harry.

—Para - rosno. —Só porque fui legal e deixei que falasse sobre seus bichinhos de estimação da infância enquanto comíamos carne assada, não quer dizer que você pode vir aqui quase pelado para enxugar minha testa suada e me consolar sem nem ter ideia do que se trata.

—Então me diz do que se trata -ele pede, completamente calmo e racional, o que só me deixa ainda mais irritado. —Ou diz pra alguém.

Ah, é. Como se eu nunca tivesse recebido esse conselho antes. Mas não é o conselho em si que me irrita; é o fato de que, pela primeira vez, fico tentado a segui-lo. Pela primeira vez, quero deitar a cabeça no ombro de alguém, deixar que me faça cafuné e ouvir que vai ficar tudo bem. Quero compartilhar as coisas monstruosas que guardo dentro de mim.

E isso nem é o pior. Em meio à dor de ver Alex morrer de novo por minha culpa, a consciência de uma outra coisa vai tomando forma: eu não estou usando nada além de cueca e Louis também.

É perigoso para qualquer pessoa ficar perto de mim quando tenho esses pesadelos. Mas ver que ele está aqui, com sua pele macia e perfumada, invadindo meu espaço quando meu sangue está correndo a mil por hora, quando estou com raiva, a ponto de bala, prestes a punir alguém — qualquer um, começando por mim mesmo —, bem...

Viro de novo pra terminar a segunda dose de uísque, mas ele vem na minha direção e tira o copo da minha mão. Sinto seus tórax roçar meu bíceps, e fico ainda mais no limite.

—Sai -exijo. Minha voz fica rouca. 

Pelo amor de Deus, vai embora.

Giro a cabeça de leve, só para ver sua reação. Louis continua me observando, e não consigo ler sua expressão. 

—Ou o quê? Vai me botar pra fora daqui com suas próprias mãos?

—É uma possibilidade.

 E a mais segura.

—Vou embora quando prometer falar com alguém sobre os pesadelos. E se escrevesse sobre eles?

Ah, sim, isso vai ajudar. A porra de um diário.

—Vou contar até três - afirmo, pegando de volta o copo da mão dele e indo até a garrafa. —Um.

—Harry.

—Dois - continuo, levantando a voz. Viro a dose e sirvo outra, enquanto a anterior ainda queima minha garganta.

Louis tenta pegar a garrafa, mas dessa vez estou preparado e a levo para longe dele. Só que agora estamos cara a cara.

Seus olhos estão soltando faíscas. Irritação? Desejo?

—Três - termino de contar, fraco.

Por um segundo, nenhum de nós faz nada. Então, com a rapidez e a impiedade de um soldado, levo minhas mãos ao seu pescoço colando o seu corpo no meu antes que possa dar um passo para trás. Seus olhos se arregalam, e pela primeira vez Louis parece assustado.

Ótimo.

É melhor que esteja mesmo.

votem e cometem!!! obrigadaa!!!

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora