Capítulo 27

477 67 8
                                    

LOUIS

Harry vai embora sem nem olhar para trás, provavelmente feliz que tudo esteja indo de acordo com seus planos de vingança. Eu deveria ficar aliviado que o cretino desapareça, de modo que posso pelo menos ordenar meus pensamentos. Mas a verdade é que Harry é só uma parte desse pesadelo. Uma parte grande, claro. E o catalisador. 

O fato de que se daria ao trabalho de mandar uma mensagem para Michael com a única intenção de se vingar faz com que eu me descubra num nível de canalhice que, até então, desconhecia. Ficar distante dele deveria me dar um tempo para recuperar o fôlego. Mas não consigo respirar. 

Reunindo toda a coragem, levanto o queixo e olho para meu antigo melhor amigo. É só a segunda vez que ficamos juntos desde o terrível dia em que Eleanor entrou no quarto de Michael e viu se namorado e seu melhor amigo se pegando.

Harry não tem ideia de que me acertou na jugular me forçando a encarar Michael de novo. Mesmo assim... Michael veio. Veio lá de Nova York, por mim, depois que ignorei suas mensagens por semanas. Tenho que saber por que, embora talvez já saiba.

—Por que veio? - pergunto. —Quer dizer, sei que achou que era eu mandando as mensagens, mas mesmo assim... é muito trabalho.

O olhar dele é quente. Desejoso. 

—Porque me importo com você. E quero que saiba disso.

Meu coração se despedaça. 

—Não. Não faz isso.

—Tá na hora, Lou - Michael diz, entredentes. 

 Vejo a dor passar pelos seus olhos castanhos que conheço tão bem. É a mesma dor que senti quando Eleanor saiu da minha vida sem nem olhar para trás. Michael e eu estragamos tudo. Quer dizer, estragamos mesmo, não temos nenhuma desculpa. Mas Eleanor nunca nos deu uma chance para explicar. Nunca vamos poder consertar as coisas, mas nunca tivemos a oportunidade de dizer a uma pessoa que amávamos que sentíamos muito. Tive uma chance no fim do verão, quando fui a uma festa na casa dos pais de Eleanor nos Hamptons, sem ser convidado. Agora percebo que preciso de um encerramento com Michael também. Assim como ele.

—Depois de tudo o que aconteceu, não posso deixar que pense que era só uma questão de curiosidade.

 Ele se aproxima, mas dessa vez deixo que pegue minhas mãos.

—Ela era sua melhor amiga. Ela me amava.

Michael parece chateado. 

—Eu sei. Foi muita canalhice.

Abro um sorriso irônico. 

—O que a gente fez está tão além da canalhice que nem sei se tem uma palavra apropriada. Ela teve um aborto!

Ficamos em silêncio.

—Eu sei - Michael, finalmente, diz. 

—E aí? Quer dizer, sei que tenho culpa no cartório, mas você começou. Não estou bravo, mas... por quê?

E, mesmo tendo perguntado, mesmo sabendo que Michael precisa falar e eu preciso ouvir para que nós dois possamos seguir em frente, não quero ouvir a resposta. Não diz, imploro mentalmente. Por favor. Mas Michael não sabe da minha súplica silenciosa. Por mais que tenha sido um bom amigo ao longo dos anos, por mais próximos que a gente tenha sido, ele nunca conseguiu ler minha mente. Não assim. 

—Porque eu te amava - Michael diz, e a simplicidade da afirmação quase me destroça. —Ainda amo.

Fecho os olhos. 

—Quanto tempo faz? Quando começou?

Michael dá de ombros. 

—Sempre. Quando percebi que você me olhava com desejo ás vezes, não pensei duas vezes. E sabia que você podia ser meu. Você só precisava descobrir. E minha nossa...Nossa primeira noite juntos foi incrível. - Ele aperta minhas mãos. — E continuamos, nos descobrindo. Lou. Tenho que saber. Você... você me ama? Você me ama, Lou?

Ah, meu Deus. Quero mentir. Quero poupar meu melhor amigo da dor excruciante que a verdade traria. Mas não posso. Devo a ele — e a mim mesmo — honestidade.

—Não - digo, baixo. —Não amo. Não assim. Confesso que foi tudo muito intenso.

E, então, fico esperando que me pergunte por que deixei que me beijasse, que me levasse para a cama tantas vezes se não o amava. E por que o beijei de volta, e o amei de volta. Mas a pergunta nunca vem. Talvez ele ache que não aguenta ouvir a resposta. Estranhamente, ainda que devesse estar aliviado por não precisar falar disso, quero que ele queira saber. Porque agora estou pronto para dizer a verdade. 

Os olhos de Michael se voltam para mim. Embora ainda haja dor neles, aparece um pouco de raiva. Tarde demais, percebo que há algo diferente nele. É como se mudasse diante dos meus olhos. Mas também não é isso... ele estava diferente desde que chegou. Se Eleanor era do tipo tranquila, Michael era intenso —ambos charmosos, mas o humor de Michael se mantinha mais no limite. Como o de Harry, agora que penso a respeito. 

Agora, a escuridão parece se assentar em seus traços. Os ângulos de seu rosto parecem mais extremos, o cinismo que sempre usou para fazer graça parece estar mais enraizado e cruel. Eu fiz isso, me dou conta. Todo esse tempo, estive tão ocupado tentando lidar com a dor que causei a Eleanor que nunca me ocorreu que tinha causado sérios danos em Michael também. Tinha dois melhores amigos e tratei os dois que nem lixo: traindo Eleanor e me afastando de Michael. 

Sua mandíbula vai lentamente de um lado para outro, como Michael faz quando está tentando controlar seu temperamento complicado. Ele solta minhas mãos, se afasta e solta uma risadinha autodepreciativa. 

—E pensar que corri pra cá achando que você me queria. Que precisava de mim.

Dou um passo à frente. Não faz isso. Eu não valho a pena.

—Eu não sabia que você vinha - digo depressa. —Mas... acho que fico feliz. Pelo menos as coisas estão resolvidas.

Estico a mão para tocá-lo, com o coração apertado, mas ele se afasta mais um pouco.

—Achei que você só precisava de tempo. Se descobrir. -  Sua voz sai rouca. —Te dei espaço, achando que precisava se perdoar, e me perdoar, pelo que aconteceu. Mas pensei... pensei mesmo que, quando abrisse mão de Eleanor, viria atrás de mim.

Fecho os olhos. Será que dá pra piorar?

—Mas você nunca ia fazer isso, né? - ele pergunta.

Quando abro os olhos, as lágrimas correm. 

—Não - digo, baixo.

Michael parece endurecer diante dos meus olhos. Ele engole em seco, duas vezes. Então, fazendo um sinal com o queixo, como se fosse a única despedida de que é capaz, vai embora. Simples assim. Levo a mão à boca. Não posso deixar de pensar que nunca mais vou ver meu melhor amigo. E é tudo culpa de Harry Styles.

votem e comentem!! obrigadaa!!

Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora