Capítulo 4

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HARRY

Que merda.

Que a porra toda vá pro inferno.

Antes que eu consiga pensar direito, meu braço já está em movimento, e o vidro se estilhaça contra a parede. Mal percebo o bourbon escorrendo pela parede e formando uma poça cara no piso de madeira.

Achei que estivesse preparado.

Cara, eu estava preparado.

Preparado para cumprimentar o próximo  da fila de fornecimento sem fim de babás do meu pai, com o propósito de fazê-lo se sentir em casa. Tudo bem, não vamos exagerar. Mas eu tinha toda a intenção de não ser um babaca. Ia mostrar a ele meu lado bom — meu lado correto. Talvez até forçasse um sorriso. Ia lhe dar as boas-vindas. Passei a noite toda dizendo a mim mesmo que um velhote  não ia se importar com minha aparência.

Mas o homem do outro lado da porta... não, o garoto. Ele não um cara na casa dos quarenta como antes. Essa cuidador é... lindo. Não acho que seja apenas o fato de que faz muito tempo que não fico com um homem, e mais tempo ainda que não vejo uma pessoa da minha idade. Ele é maravilhoso. Tem grandes olhos azuis e um cabelo castanho cortado perfeitamente e brilhante pelo qual adoraria passar a mão e...

Não. Porra nenhuma.

Ele não pode ter mais de vinte e dois. Todos os outros estavam pelo menos na segunda metade dos trinta. Foi justamente para evitar pessoas como esse homem — de novo, esse garoto — que eu resolvi me isolar no Maine. Ele é uma tentação. Não só de um jeito sexual, embora tenha isso também. Mas, só de olhá-lo rapidamente, já me sinto tentado por algo pior: o desejo de ser normal.

Ele precisa ir embora. Agora.

Fecho a mão em punho e soco a minha perna como punição. E você tinha que falar sobre o suicídio, de todas as coisas no mundo? Mas foi instintivo. Queria mandá-lo embora pra longe e bem depressa, e esse parecia ser um jeito certeiro de assustar alguém que só podia estar começando nessa profissão.

Ele já deve estar voltando para o carro, e falo para mim mesmo que isso me deixa feliz. Não preciso de um cara gostoso me lembrando de todas as coisas que não posso ter ou as que já vivi.

Só que...

Meus olhos se arregalam.

A droga do ultimato.

Dizer que meu pai me encurralou é pouco. O compromisso de me comportar por três meses já era bastante ruim quando pensei que estaria lidando com um velhote excêntrico, mas isso? Pedir que eu passe três meses na companhia desse garoto que mais parecia um modelo? É pura manipulação. Meu pai não está só tentando me trazer de volta ao mundo real, está esfregando o mundo real na minha cara.

Levo as mãos aos olhos enquanto a realidade da situação faz minha cabeça doer. Quais são minhas opções? Posso dizer a meu pai pra esquecer — deixar o garoto entrar no carro e, como resultado, ser jogado no olho da rua, sem nenhum lugar para onde ir e sem um centavo no bolso. Posso deixar a mulher e a filha de Alex sem nada.

Ou... Posso ir atrás do ursinho de pelúcia  e fingir que o quero aqui. Fingir que preciso dele, só para que a filha do meu melhor amigo sobreviva.

Droga. Não tenho escolha. Não de verdade.

Vou em direção à porta, então sinto a panturrilha doer. Merda. Esqueci a perna esquerda por um tempo. O que só indica como estou perdido. Por um segundo, esqueci quem eu sou. O que eu sou.

Não sou mais Harry Styles, quarterback invejado e herói americano marchando para a guerra. Sou Harry Styles, recluso desfigurado sem qualquer utilidade. Cara, não consigo nem ser útil para mim mesmo. Mal consigo andar, porra.

Antes de mandar meu pai para o inferno e dizer que não preciso da casa ou do dinheiro dele, preciso resolver algumas coisas. E para fazer isso...

Me afasto da mesa e atravesso o cômodo o mais rápido que consigo. Hesito brevemente, com a mão na maçaneta, sabendo que minha vida está prestes a virar de cabeça para baixo. Meu coração bate forte. Tento me convencer de que é raiva, mas suspeito de que seja algo pior. Medo. Sei o que o garoto vai ver, e não é nada bonito. Longe disso.

Abro a porta, me perguntando como vou conseguir ir atrás dele mancando.

Então descubro que não preciso fazer isso.

Ele está esperando por mim.

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Em Pedaços ( Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora